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Marizalhas em retalhos

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Atualizado às 13:59

Tenho utilizado esse espaço gentilmente cedido pela direção de Migalhas, para divulgar alguns despretensiosos escritos elaborados na forma de crônicas. Muitas já foram publicadas pela Editora Migalhas em um livro denominado "Crônicas Absolvidas". Outras são enviadas de forma irregular, e imediatamente colocadas à disposição leitor. Intenciono dar continuidade à essa agradável atividade enquanto contar com a gentileza do editor e com a paciência dos migalheiros.

Meu intuito, agora, são curtas narrativas, não sei se chegam a ser crônicas, sobre fatos que foram vividos por mim ou que chegaram ao meu conhecimento e que apresentam um lado hilário do comportamento humano. A exposição das facetas divertidas, cômicas, jocosas que todos possuem, ilustradas por fatos concretos, pode ter o condão de suavizar a rude e áspera realidade que nos cerca na atualidade. É preciso que saibamos resistir ao negacionismo que pretende atingir até a nossa alegria de viver, a ser substituída pelo permanente estado de rancor, de confronto e de intolerância. Precisamos reafirmar uma característica bem brasileira, qual seja a capacidade de rir e de fazer blague até na adversidade.

Como primeira manifestação nesse sentido eu vou narrar um susto, na verdade uma perplexidade que me acometeu quando fui à Teresina para proferir uma palestra.

Eu era à época presidente da Ordem dos Advogados de São Paulo, e compunha o chamado Colégio de Presidentes das Seccionais do Brasil. Nessa condição havia uma agradável convivência com advogados de todo o país e a possibilidade de se conhecer as capitais e cidades de outros  Estados.

Atendendo a um convite, fui à Teresina. Assim que desembarquei fui recebido cordialmente por dois dirigentes da Ordem estadual. Solícitos foram logo pegando as minhas malas e demonstrando entusiasmo disseram-me que iríamos em seguida "comer a Maria Isabel". Aturdido, talvez tenha ficado ruborizado em face da inusitada proposta. Nada disse, o que deve ter significado para os meus anfitriões a minha aquiescência  ao  programa, para mim, de natureza sexual, tão prontamente proposto e em uma hora imprópria.   

Nunca soube se os amigos piauienses perceberam o meu constrangimento e deixaram propositadamente de esclarecer a situação. A verdade foi que passamos no hotel, fiz o registro, deixei a mala e rumamos, segundo imaginava, para algum lupanar.

Durante o percurso não houve nenhum comentário sobre a aventura que se avizinhava. Eu, ainda meio assustado, não me senti à vontade para fazer indagações sobre o que nos esperava. Aguardei.

Pois bem, depois de algum tempo paramos diante de um restaurante. Pensei tratar-se de um bordel camuflado. Essa suspeita mais me preocupou. Imaginei os riscos que estaria correndo caso houvesse uma batida policial. De qualquer, com muito medo, entrei e sentei-me à mesa que me foi indicada. Quando se aproximou o maitre achei que ele nos conduziria para algum outro cômodo, que imaginei qual seria.

No entanto, ali ficamos até que os pratos foram pedidos. E, quando isso correu, uma sensação de alívio tomou conta de mim: Maria Isabel era o nome de um prato típico do Piauí.