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Memórias de um craque

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Atualizado em 20 de janeiro de 2012 10:09

Por vezes eu conseguia ser escalado porque fornecia a bola. Isso ocorria nos meses de junho e dezembro quando e se no meu aniversário ou no Natal eu ganhava a dita cuja. No entanto, mesmo disponibilizando-a, a minha escalação não era garantida, caso alguém mais houvesse sido agraciado com uma outra bola.

Quando o jogo era entre nós mesmos, fato corriqueiro, eu tinha lugar certo em um dos times. O critério de escolha era o par ou ímpar. Eu sempre era escolhido por último e não raras vezes integrava o time que teria um a mais, quando o número de jogadores era ímpar. Tal fato significava que o time que contasse com o meu valioso concurso, na verdade tal como o outro, possuía número par de jogadores...

Minha posição em campo? Nunca me preocupei com esse detalhe. Estava sempre onde o time necessitasse que eu estivesse, geralmente longe da bola...

Embora eclético, pronto para servir em qualquer posição, eu tinha uma preferência pela defesa, especialmente pela lateral direita. Hoje eu seria um ala, daqueles que ajudam o ataque como ponta. Naquele tempo eu era mesmo um beque.

Foi nessa posição que enfrentei o Uruguai em 1970. Não se pense que por ter sido um sonho, o meu desgaste físico e emocional foram pequenos. Não, basta dizer que acordei suado e com dores no corpo. A compensação foi a nossa estupenda vitória.

Em outra memorável ocasião também atuei pela lateral direita. Foi no disputado jogo entre calouros e veteranos, travado em 1965 na Faculdade Paulista de Direito, da PUC.

Nessa partida, que marcou época na Faculdade da rua Monte Alegre, não pela técnica, mas pelo ímpeto físico e pela disposição etílica dos contendores, meu medíocre desempenho futebolístico, quanto a minha indumentária.

Nós os calouros, envergávamos o glorioso uniforme da PUC. Camisas com listras pretas, brancas e vermelhas, com fundo branco, parecida com a antiga camisa da hoje inexistente seleção paulista de futebol. Meias e calções brancos.

O traje portanto era padronizado, uniforme, comum a todos os jogadores. No entanto, eu chamei a atenção especialmente a de meu pai, que como professor da Faculdade assistia entusiasticamente a exibição do filho, rodeado, como sempre, por seus alunos.

Seu entusiasmo foi efêmero. Rapidamente transformou-se em constrangimento, quase vergonha.

Ao ver-me, verificou que avançava perna abaixo, uma vistosa e chamativa cueca, bem mais cumprida do que o calção, ultrapassando-o de muito.

Naquela época, estavam na moda, as chamadas cuecas samba canção. E, como eu sempre fui da moda, também naquele dia trajava uma.

Várias foram as equipes nas quais eu atuei. As da rua Stella foram as que contaram com a minha mais eficiente contribuição.

Nós da T.S. (Turma Stella), em certa ocasião fizemos uma aliança com outras turmas das redondezas e constituímos o Oasis da Vila Mariana. Nesta equipe eu tive lugar de destaque, fui massagista.

Joguei, ainda, no time do 3º Tabelionato de Notas, que foi o meu primeiro emprego. A minha carreira nesse time foi curta. Quinze minutos de uma única partida.

Um outro time formado no Centro Social dos Cabos e Soldados da Polícia Militar, onde eu advogava, contou também com a minha participação. Nesse time fazíamos laço, isso é contávamos com o concurso de outros craques estranhos aos quadros do Centro Social. Um desses jogadores emprestados foi Plínio Marcos, excelente teatrólogo, péssimo jogador.

Marcou época, pelo menos nos meios jurídicos futebolísticos, um time fundado na década de setenta por amigos advogados, chamado "In Dúbio Pro Reo". E foram meus companheiros de equipe que souberam fazer justiça a mim. No final do ano, o único de existência do time, prestaram-me comovente homenagem, ao me entregarem um valioso, significantíssimo e modesta às favas, merecido troféu, denominado troféu "Encrenca"...

Claro que na minha biografia o meu desempenho esportivo, especificamente futebolístico, ocupa papel de grande realce. Lamento que o reconhecimento dos meus méritos não tenha ocorrido nos momentos mesmo das minhas exibições. Mas, vá lá, por ora eu me satisfaço com o "Troféu Encrenca".