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Doce Violência - A ideia do trágico

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Atualizado em 27 de maio de 2015 08:01



Editora:
Unesp
Autor: Terry Eagleton
Páginas: 424




Explorar a ideia de tragédia é um tópico clássico da teoria literária, que a despeito das muitas definições possíveis, trabalha com a ideia de gênero que reflita a "perda humana irreparável". Mas antes de receber as críticas de pós-modernistas, estruturalistas e outros pensadores contemporâneos a quem tais questões não pareçam nada atuais, o autor defende-se argumentando que muito mais que remeter a "guerreiros viris e virgens imoladas", falar em tragédia hoje e sempre, é falar de tudo aquilo que no correr da História da humanidade permanece. Trata-se, em suas palavras, "da continuação da filosofia por outros meios".

Assim, valendo-se de categorias analíticas extraídas, vejam só!, da teologia - o demoníaco, o satânico, a Queda, etc. -, e habitualmente usadas para a crítica literária, a obra busca "lançar luz sobre realidades políticas", realidades eminentemente históricas e contextuais. Tudo isso porque "(...) o sofrimento é uma linguagem extremamente poderosa para se compartilhar, uma linguagem pela qual muitas diferentes formas de vida podem iniciar um diálogo". Afinal, compõe nosso repertório comum, pois "(...) o fato é que, de qualquer forma, todos nós morreremos".

O percurso desenvolvido é eminentemente erudito, construído a partir de contributos de muitos outros teóricos, intelectuais, escritores e da apreciação crítica de diferentes obras artísticas. Assim, Macbeth, Otelo e tantos outros dramas de Shakespeare, Ulysses, de Joyce, o célebre ensaio O que é arte, de Tolstoi, protagonistas de peças de Racine, ideias de Hobbes para o Estado, adaptações das peças de Ben Jonson, muitos e muitos outros - incluindo os apaixonados de O morro dos ventos uivantes! - servem todos ao aguçamento de um tipo de "abordagem dialética" da contemporaneidade que permitiria compreendê-la em suas contradições e enxergar além de seus problemas. Séculos de história literária e dramática são recuperados na medida em revelam um grande potencial para falarem sobre os dias de hoje, em que parece haver "algo de incorrigivelmente ingênuo na esperança".

Dentro da proposta da obra, parece especialmente significativa a marcação do autor segundo a qual o trágico pode ser uma imagem negativa da utopia, alertando a sociedade sobre o que para ela tem valor. Nesse sentido, o autor lembra que se Aristóteles é o teórico da tragédia, é também o fundador da chamada ética da virtude, por meio da inserção de valores morais nos modos de vida habituais.

Em outro momento que merece destaque, o autor demonstra como a ideia de tragédia permitiu ao pensamento filosófico alemão pós-kantiano unir liberdade e determinismo, recuperando uma dimensão não reacionária também para a religião, enquanto possibilidade do homem compreender e abraçar a sua finitude.

Informativa, pois plena de citações e referências, trata-se, sobretudo, de leitura esperançosa e esperançada, obra profunda, de formação, destinada a grandes estudiosos das Humanidades.

Sobre o autor :


Terry Eagleton
é professor de Literatura Inglesa da Universidade de Oxford.



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Ganhadora :

Milena Granato Barbosa dos Santos, advogada em Juiz de Fora/MG