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De onde veio a vantagem de Lula no primeiro turno?

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Atualizado às 08:17

Em épocas de disputas presidenciais, a imprensa e o eleitorado preferem trabalhar com porcentagens. A necessidade de se atingir mais de 50% dos votos para vencer é a razão essencial dessa forma de olhar a disputa. As campanhas, entretanto, não agem necessariamente guiadas pelas porcentagens. O eleitorado é formado por número de eleitores e, portanto, a busca dos candidatos é por votos, o que leva as campanhas a pensarem em número bruto de votos e não em porcentagens.

No dia 2 de outubro, quando as urnas foram apuradas, Lula teve 6,2 milhões de votos a mais do que Jair Bolsonaro, atual presidente. Essa vantagem construída pelo petista, entretanto, não foi homogênea. Diferentes regiões aportaram diferentes quantidades de votos para Lula e para Bolsonaro. Nosso objetivo aqui é demonstrar como essa vantagem foi construída.

Em primeiro lugar, cabe notar que existem poucos Estados realmente decisivos na eleição brasileira. Em 2022, muitos Estados entregaram uma vantagem na casa das centenas de milhares de votos - pouco - em relação ao adversário. Além disso, a maioria das vantagens construídas em um Estado se equivale a outras construídas pelo adversário em outras localidades.

No Acre, por exemplo, Bolsonaro teve 146 mil votos a mais do que Lula. O Amazonas, por outro lado, entregou 139 mil votos a mais para Lula do que para Bolsonaro, praticamente compensando a balança. As comparações podem ser feitas incansavelmente: a vantagem de 469 mil votos de Bolsonaro no Mato Grosso foi consumida pela vantagem de 559 mil votos que o Pará deu a Lula, assim como Minas Gerais, que deu 563 mil votos a mais para Lula, consumiu a vantagem de 465 mil votos do presidente em Goiás.

Quem seriam, então, os grandes motores das campanhas? Pelo lado de Lula, os grandes fiéis da balança foram a Bahia, o Ceará e Pernambuco. Esses Estados entregaram uma diferença de oito milhões de votos para o ex-presidente. Só a Bahia entregou quase quatro milhões de votos a mais para Lula do que para Bolsonaro.

O atual presidente, entretanto, conseguiu equilibrar o jogo com a vantagem conquistada em São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Somados, esses três Estados deram uma dianteira de 4,4 milhões de votos para Bolsonaro.

Entretanto, na análise regional, fica claro que o Nordeste é o grande diferencial de Lula. O ex-presidente só venceu lá e no Norte, mas a vantagem entre nordestinos está muito acima do resultado de Bolsonaro no Sul, Sudeste e Centro-Oeste: foram quase 13 milhões de votos a mais em Lula do que em Bolsonaro.

É interessante notar que, mesmo em colégios eleitorais nordestinos pequenos, que poderiam não fazer tanta diferença, Lula conseguiu construir uma dianteira relevante. O Piauí, por exemplo, é apenas o 17º maior colégio eleitoral do país. Mesmo assim, o Estado aportou uma vantagem de 1,1 milhão de votos para Lula, superando o Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país, que deu uma vantagem de 984 mil votos para Bolsonaro. 

Ao analisarmos os dados brutos de votação, fica claro onde a vantagem de Lula foi construída no primeiro turno. Também é possível vislumbrar eventuais estratégias de Bolsonaro para tentar tirar a diferença do ex-presidente.