E nem
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Atualizado em 20 de setembro de 2022 12:29
O leitor Lamartine de Andrade Lima, presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins, envia-nos a seguinte mensagem:
"Peço elucidação, através das Gramatigalhas, sobre: É certo, na escrita, usar-se 'e nem', quando se sabe que 'nem = e não' ?"
1) Tais palavras só podem vir juntas em seqüência, quando o e for conjunção e o nem for advérbio, exercendo cada uma, assim, sua própria função morfológica. Ex.: "O ordenamento jurídico busca a realização da justiça e nem sempre consegue".
2) Como conjunção, todavia, nem já significa e não, razão pela qual não se lhe pode antepor e.
3) Em tais casos, ou se diz nem, ou se diz e não; mas não se pode dizer e nem. Exs.:
a) "O advogado não apresentou contestação, nem apresentará" (correto);
b) "O advogado não apresentou contestação e não apresentará" (correto);
c) "O advogado não apresentou contestação e nem apresentará" (errado).
4) Acresça-se a lição de Eduardo Carlos Pereira, para quem "é arcaico e plebeu o emprego conjunto..., o uso pleonástico de duas conjunções como... e nem, o qual vai sendo evitado pelos escritores modernos".1
5) Domingos Paschoal Cegalla, em mesma esteira, confirma três significativos aspectos:
I) "A conjunção nem significa e não. Por isso, é incorreto antepor-lhe a conjunção e em frases como as seguintes, nas quais nem tem significado aditivo-negativo, equivalente de e também não: 'Não vi nem conheço este homem'. 'Ele nunca viajava de navio nem de avião'";
II) "O conjunto aditivo e nem só é cabível quando equivale a mas não, e também nas expressões e nem sequer, e nem por isso, e nem assim, e nem sempre";
III) Por fim, "bons escritores, contrariando a norma exposta no item I, empregam e nem", tentando justificar tal gramático os referidos cochilos com a possibilidade de e nem "ser mais enfático do que o simples nem".
Exs.:
a) "Não queremos e nem podemos entrar no exame de tamanha complexidade" (João Ribiero);
b) "Nunca se lembra do que lhe sucedeu na véspera e nem faz planos para o amanhã" (Aníbal Machado).2
6) Por fim, assim é a síntese de Luiz A. P. Vitória:
a) "ensinam os gramáticos que é erro empregar nem precedido de e";
b) está errado, assim, o exemplo: "Não vem e nem me avisa", que dever ser corrigido: "Não vem nem me avisa", ou "Não vem e não me avisa";
c) Excepcione-se, contudo, que se pode dizer: "Não vem e nem sequer me avisou".3
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1Cf. PEREIRA, Eduardo Carlos. Gramática Expositiva para o Curso Superior. 15. ed. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia., 1924. p. 365-368.
2Cf. CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 140.
3Cf. VITÓRIA, Luiz A. P. Dicionário de Dificuldades, Erros e Definições de Português. 4. ed. Rio de Janeiro: Tridente, 1969. p. 171.