Latim entre aspas
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Atualizado em 25 de outubro de 2022 13:30
O leitor Alexandre Barros, advogado em Belo Horizonte, Minas Gerais, envia-nos a seguinte mensagem:
"Há muitos anos um professor de um curso de pós-graduação que fiz nos ensinou que as expressões estrangeiras deveriam vir sempre entre aspas. No entanto, as expressões em latim não deveriam ser assim, pois o latim não seria, na verdade, uma língua estrangeira e sim a 'origem' de nossa língua, o português. Por isso, expressões em latim deveriam ser destacadas não pelas aspas, mas por negrito, sublinhado ou mesmo escritas em itálico (e, na verdade, é assim que as vejo na maioria das obras de renome). Gostaria do parecer do prof. José Maria da Costa a respeito, pelo que, desde já, agradeço."
Latim entre aspas
1) Indaga-se se as aspas em palavras e expressões latinas são dispensáveis - diversamente dos vocábulos pertencentes a outros idiomas - já que o latim não seria uma língua estrangeira, e sim a origem do português. Ou ainda: se tais palavras e expressões latinas deveriam ser destacadas não pelas aspas, mas por outro sinal distintivo, como o negrito, itálico ou sublinha, diferentemente do uso em expressões de outros idiomas.
2) Ora, fixe-se um primeiro princípio de que o latim, para tais efeitos, não se distingue dos demais idiomas, de modo que as regras de grafia para estes últimos também são válidas para aquele.
3) E não comove o fato de ser o latim nossa origem, nossa língua-mãe; caso contrário, nada impediria uma interpretação mais elástica que atingisse, por exemplo, o espanhol, o italiano e o francês, que, por também serem derivadas do latim, são nossas línguas-irmãs. Todas, enfim, são da mesma família.
4) Feitas essas observações iniciais, anota-se que, quando há necessidade de citar alguma frase ou expressão estrangeira (incluindo o latim) em textos de linguagem formal, devem-se observar algumas regras de suma importância:
a) em palavras latinas, não se põe acento gráfico, que não existia na língua-mãe;
b) em expressões latinas, também não se emprega o hífen, que, de igual modo, não era lá empregado;
c) porque pertencentes os vocábulos ou expressões a outro idioma, devem vir entre aspas, ou em negrito, ou em itálico, ou com sublinha, ou com qualquer outro sinal indicador de tal circunstância (se é que ficou algum sem citar).
5) Vejam-se, portanto, os seguintes exemplos, todos grafando corretamente as expressões de origem latina: "fumus boni juris", fumus boni juris, fumus boni juris, fumus boni juris.
6) O procedimento haverá de ser o mesmo, amplo e igualitário, quando se estiver diante de vocábulos de outros idiomas, que não o latim: apartheid (inglês), avant-première (francês), backup (inglês), bar-mitzvá (hebraico), beagle (inglês), blitz (alemão), cashmere (inglês), castrato (italiano), chianti (italiano), chihuahua (espanhol), chop-suey (chinês), factoring (inglês), fedayin (árabe), gaijin (japonês), glasnost (russo), gnocchi (italiano), gouda (holandês), haikai (japonês), hanukah (hebraico), homus (árabe), intelligentsia (russo), karma (sânscrito), kibutz (hebraico), kirsch (alemão), kosher (iídiche), kümmel (alemão), ombudsman (sueco), origami (japonês), paella (espanhol), pessach (hebraico), pit-bull (inglês), pub (inglês), sashimi (japonês), shiatsu (japonês), shoyu (japonês), squash (inglês), strogonoff (russo), sushi (japonês), telemarketing (inglês), tsunami (japonês), yakisoba (japonês).
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