Perder de ou perder para?
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Atualizado em 25 de outubro de 2022 13:26
O leitor Antonio Doarte de Souza envia ao autor de Gramatigalhas a seguinte mensagem:
"Cada vez com mais freqüência, profissionais da imprensa falam 'O time X perdeu do time Y'. Por entender que quem ganha 'ganha de' e quem perde 'perde para', gostaria de saber se há alguma lógica em 'perder de'... Obrigado pela atenção."
Perder de ou perder para?
1) Quando se faz uma indagação como essa - perder de ou perder para? - quer-se saber, em suma, que preposição está a exigir o verbo perder para o seu complemento.
2) Esse assunto de relacionamento entre as palavras na frase diz respeito a uma parte da Gramática denominada sintaxe (do grego sin = conjunto + taxe = construção).
3) E o capítulo específico da Gramática que trata das preposições exigidas pelo verbo para iniciar seu complemento chama-se regência verbal.
4) Em nosso idioma, as questões de construção, ou seja, de sintaxe, são solucionadas pelo uso que nossos melhores autores, desde Camões (1524-1580), fizeram do idioma pátrio. E a expressão melhores autores deve abranger aqueles escritores que empregaram o vernáculo com apuro e zelo.
5) Buscar, porém, na obra literária dos nossos melhores autores, como empregaram a regência do verbo perder é como procurar agulha em um palheiro.
6) Mas essa pesquisa não é necessária, pois, de um modo geral, estudiosos e gramáticos já realizaram estudos nesse sentido, compilaram milhares de exemplos e sistematizaram, em monografias preciosas, grande parte da sintaxe de vocábulos dessa natureza.
7) De modo específico para a indagação feita, o gramático Domingos Paschoal Cegalla ensina que o verbo perder, "na acepção de ser vencido, constrói-se comumente com a preposição de". Ex.: "O Fluminense perdeu do Flamengo".
8) Quando se quantifica o resultado do jogo, acrescenta tal autor que se pode usar uma de duas preposições: de ou por. Exs.:
a) "O Santos perdeu do São Paulo de 3 a 2";
b) "O Santos perdeu do São Paulo por 3 a 2".
9) E ainda assim finaliza sua lição: "Parece-nos boa também a regência perder para". Exs.:
a) "A Itália perdeu para o Brasil por 3 a 1";
b) "Portugal perdeu de 2 a 1 para a Espanha".
10) Em síntese, de modo específico para a indagação feita, tanto se pode dizer perder de como perder para. Vale aqui o princípio de que, quando abalizados autores permitem mais de uma construção, não se deve vedar ao usuário nenhuma delas ("in dubio, libertas").
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