Não paire dúvidas ou Não pairem dúvidas?
quarta-feira, 15 de março de 2023
Atualizado às 10:23
1) Um leitor, em um dos verbetes do Manual de Redação Jurídica, encontrou a construção "para que não paire dúvidas", na qual, todavia, parece-lhe que houve um equívoco de sintaxe, já que entende que se deva dizer "para que não pairem dúvidas".
2) Não é que parece ter havido um equívoco; houve um crasso erro de concordância, perceptível pela simples colocação dos termos em sua ordem direta (ou seja, sujeito + verbo [para que dúvidas não pairem]), de modo que a correção do leitor procede na íntegra.
3) Os romanos gostavam muito de usar, em situações como essa, uma frase do poeta latino Horácio ("quandoque bonus dormitat Homerus"), que, traduzida, significa "às vezes, até o grande Homero cochila".
4) Referiam-se eles ao célebre autor da Ilíada e da Odisseia. E, se o grande Homero cochilava às vezes, cometendo equívocos em seus textos, não seremos nós que estaremos isentos de uma soneca como essa.
5) Em realidade, sem pretender comparação alguma, isso apenas demonstra que todos nós cometemos os nossos equívocos.
6) Aliás, nessa esteira, o nosso grande Rui Barbosa já dizia (estou citando de memória, de modo que pode não ser literal): "Uma coisa há que me não assusta, porque é universal e de universal consenso: não há escritor sem erros".
7) Ora, se o grande Rui assim falava (de modo que ele também se incluía nesse rol), não será este autor que terá a pretensão de não cometer equívocos.