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Reconstrói-a - Como completar?

quarta-feira, 16 de março de 2022

Atualizado às 08:24

O leitor Michel Rosenberg envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Prezado dr. José Maria da Costa, para deixar a pergunta mais clara, relatarei uma breve história fictícia. Digamos que minha casa caiu e está destruída. Agora, quero pedir ao pedreiro que a reconstrua, mas de modo que ela jamais torne a ruir. Assim, qual seria a formulação correta do pedido: 'Reconstrói-a uma construção eterna' ou 'Reconstrói-a numa construção eterna'?"

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1) Um leitor relata uma história fictícia, para deixar mais clara sua pergunta: "Digamos que minha casa caiu e está destruída. Agora, quero pedir ao pedreiro que a reconstrua, mas de modo que ela jamais torne a ruir. Assim, qual seria a formulação correta do pedido: 'Reconstrói-a uma construção eterna' ou 'Reconstrói-a numa construção eterna'?"

2) Observa-se, de início, que a questão aqui posta não diz respeito tanto à Gramática, e sim mais fortemente à Estilística, que é o "ramo da linguística que estuda a língua na sua função expressiva, analisando o uso dos processos fônicos, sintáticos e de criação de significados que individualizam estilos".1  E se faz essa observação, porque o leitor parece querer saber muito menos da correção gramatical e muito mais dos modos como expressar-se para comunicar com mais adequação e eficiência seu pensamento.

3) Com essa ponderação como premissa, parece que se podem alinhar, sem pretender exaurir esse rol, ao menos quatro modos gramaticalmente corretos de expressar a mesma realidade, com ligeiras alterações de matiz nas diversas expressões: (i) "Reconstrói-a uma construção eterna"; (ii) "Reconstrói-a numa construção eterna"; (iii) "Reconstrói-a como uma construção eterna"; (iv) "Reconstrói-a para uma construção eterna".

4) Resolvida a indagação no plano da consulta formulada, acresce dizer que o leitor parece integrar aquele grupo de usuários do idioma que procuram não apenas escrever de modo gramaticalmente correto, mas que, em atenção a uma revisão estrita de seus textos, buscam, dentre os diversos modos corretos, optar por aquele que mais adequadamente expresse o pensamento e conte com o maior apuro estilístico. E é exatamente para essas pessoas que é útil lembrar um vetusto conselho, a dizer que a arte de escrever tem muito mais a ver com a borracha do que com o lápis. Vale dizer: registrar as ideias na escrita é apenas um primeiro passo; rever o que se escreveu é a parte mais importante e que toma o maior tempo. E, se essa observação vale para todos os usuários da língua, tem ela muito maior peso para os operadores do Direito.

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1 HOUAISS, Antônio (Organizador). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, p. 1.254.