Que posicionou-se ou Que se posicionou?
quarta-feira, 26 de janeiro de 2022
Atualizado em 25 de janeiro de 2022 14:43
1) Um leitor indaga, em síntese, se é correta a colocação do pronome pessoal oblíquo átono se na seguinte frase que encontrou: "'A decisão é da 1ª câmara Cível do TJ/SC, que posicionou-se pela manutenção da sentença...". E complementa se não seria melhor escrever "que se posicionou". Vale dizer: questiona ele se, no caso, não seria melhor colocar o pronome em próclise (antes do verbo), e não em ênclise (depois do verbo), e isso por conta da força de atração do que.
2) Para dar ao leitor uma resposta mais fundamentada, parte-se de algumas considerações, que servem de premissas necessárias a um raciocínio adequado quanto à colocação dos pronomes.
3) Expressão também conhecida como topologia pronominal, a colocação de pronomes significa, em Gramática, o estudo da colocação do pronome pessoal oblíquo átono na frase, considerado em relação ao verbo.
4) Por ser átono (sem autonomia sonora), tal pronome depende do verbo por ele completado, cingindo- -se a questão a verifi car onde a sonoridade melhor aconselha seu posicionamento.
5) Se o pronome átono vem antes do verbo, diz-se que há próclise. Ex.: "O advogado não se conteve em au- diência".
6) Se o pronome átono vem no meio do verbo, diz-se que há mesóclise. Ex.: "Realizar-se-á o júri de acordo com a designação anterior".
7) Se o pronome átono vem depois do verbo, diz-se que há ênclise. Ex.: "Conteve-se o advogado apesar das ofensas do causídico adversário".
8) Porque o emprego desta ou daquela colocação de- pende da eufonia, há quem diga, como Antenor Nascentes, que "o uso da próclise e o da ênclise, isto é, da colocação anterior ao verbo e da posterior, no tocante aos pronomes pessoais oblíquos, regula-se exclusivamente pelo ouvido" (1942, p. 152).
9) Fundado em tal posicionamento, assevera, em se- quência, o referido gramático: "Em matéria de co- locação de pronomes não há certo nem errado; há elegante e deselegante" (NASCENTES, 1942, p. 153).
10) Em termos genéricos - até para se ter a real dimensão da divergência que, nesse assunto, grassa ente os gramáticos, sobretudo pela diversidade de entonação entre a pronúncia brasileira e a portuguesa - para alguns deles, a posição considerada normal dos pronomes átonos é a ênclise (depois do verbo). J. Mattoso Câmara Jr., entretanto, em lição transcrita por Geraldo Amaral Arruda (1997, p. 60) tem opinião diferente, quando afirma que "o gênio da língua, para o português (do Brasil) não favorece a ênclise; e a próclise é geral, em princípio".
11) Com essas considerações como premissas, visto que não se tem o verbo no futuro do presente nem no futuro do pretérito (o que afastaria a possibilidade de ênclise e permitiria o raciocínio correspondente como mesóclise), deve-se atentar aos seguintes aspectos: (i) o lugar natural do pronome, nesses casos, é a ênclise; (ii) esse pronome apenas é atraído para a colocação em próclise, quando há, logo antes do verbo, alguma daquelas palavras chamadas atrativas (e isso porque a eufonia, em tais hipóteses, diz que o melhor lugar para o pronome é antes do verbo): (iii) as palavras atrativas são (a) as negativas , (b) os advérbios, (c) os pronomes relativos, (d) os pronomes indefinidos e (e) as conjunções subordinativas; (iv) e, quando se faz presente uma dessas palavras atrativas logo antes do verbo, a próclise é obrigatória.
12) Como, no caso da consulta, o que pode ser substituído por o qual, a conclusão óbvia é que ele constitui um pronome relativo e, por conseguinte, tipifica uma dessas chamadas palavras atrativas.
13) E isso faz concluir que o leitor tem razão, de modo que a única forma correta para a frase apontada é "que se posicionou", e não "que posicionou-se".