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Membra - Existe?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Atualizado às 08:42

O leitor Stefano Cezimbra e Dantas envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Gostaria de perguntar ao Prof. Dr. José Maria da Costa acerca da existência e correção da palavra 'membra'".

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1) Um leitor, de modo simples e direto, indaga se existe a palavra membra para indicar um membro de uma associação ou entidade.

2) Inicia-se esta resposta com a observação de que, entre nós, a Academia Brasileira de Letras é o órgão incumbido, por delegação legal, desde a lei 726/1900, de definir a existência, a grafia oficial, o gênero e as peculiaridades dos vocábulos de nosso idioma. E ela, para atender a essa autorização legal, o faz oficialmente pela edição, de tempos em tempos, do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Mais modernamente, ela também tem disponibilizado em seu site, pela internet, o rol dessas palavras e expressões.

3) Com essa anotação como premissa, segue-se dizendo que uma consulta à referida obra mostra que nela se registra tanto membro como membra, o primeiro um substantivo masculino, e o segundo, feminino.1

4) E isso significa, em última análise, que os referidos vocábulos têm existência concomitante em nosso idioma para significar alguém que participa de um corpo social, ou de um grupo que tem atividades, interesses e objetivos comuns.

5) Especifique-se, adicionalmente, que o masculino tem o poder de representar tanto um participante do sexo masculino como um do feminino. Exs.: (i) "Ele é membro de um partido político"; (ii) "Ela é membro de uma entidade de assistência à velhice".

6) Já o feminino apenas pode referir-se a um participante do sexo feminino. Ex.: "Ela é membra de uma entidade de assistência à velhice".

7) O Dicionário Houaiss registra a peculiaridade de que membra é um substantivo pouco usado em nosso idioma.2 E o Dicionário Aurélio simplesmente não registra tal variante.

8) Ante tais circunstâncias referentes aos dois dicionários citados, duas observações se fazem necessárias: uma primeira, segundo a qual o fato de ser pouco usado o vocábulo em nosso idioma não lhe retira a existência, a validade e a vernaculidade; e uma segunda, a realçar que, ante a autoridade da ABL e do VOLP para fixar oficialmente o rol das palavras existentes em nosso idioma, é tecnicamente inaceitável a omissão do Dicionário Aurélio.

9) E, por conta dessa divergência, importa ressaltar que os estudiosos da língua e os dicionaristas, sem sombra de dúvida, prestam relevantes serviços ao vernáculo. Não são eles, porém, as autoridades para definir, com valor oficial, a existência ou não de algum vocábulo em nosso idioma, uma vez que essa atribuição cabe, de modo exclusivo, à Academia Brasileira de Letras. Por conseguinte, na divergência entre os gramáticos, filólogos e dicionaristas de um lado, e o VOLP de outro, há de prevalecer, nesse campo, o que registra este último.

__________

1 Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Imprinta, 2004, p. 540.

2 HOUAISS, Antônio (Organizador). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Ob­jetiva, 2001, p. 1.889.