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Antecedido de aviso prévio - É correto?

quarta-feira, 13 de março de 2019

Atualizado às 08:12

A leitora Ludmilla Gagnor envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:

"Veja-se o exemplo: 'É legítimo o corte no fornecimento de energia elétrica por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que antecedido de aviso prévio'. Não há um pleonasmo vicioso em 'antecedido de aviso prévio', uma vez que aviso prévio significa 'comunicação antecipada' ?"

Se você também quer saber o que o Dr. José Maria da Costa pensa a esse respeito, então clique aqui.

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1) Tendo encontrado, na prática, uma frase que lhe parece equivocada, uma leitora indaga se há pleonasmo vicioso no seguinte exemplo: "É legítimo o corte no fornecimento de energia elétrica por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que antecedido de aviso prévio". Em seu modo de entender, há pleonasmo vicioso, porque aviso prévio já significa comunicação antecipada.

2) Em verdade, sem necessidade de aprofundados questionamentos, a expressão aviso prévio realmente já tem o sentido de comunicação antecipada. E, no caso trazido pelo leitor, seu conteúdo vem claramente repetido pela palavra antecedido.

3) Antes de responder diretamente a indagação da leitora, todavia, fazem-se algumas ponderações teóricas a título de premissas: a) expressões que se repetem quanto ao sentido são chamadas tecnicamente de pleonasmos (do grego pleonasmós = superabundância); b) o pleonasmo pode ser de estilo, quando usado intencionalmente para conferir à expressão mais vigor, intensidade ou clareza; c) nesse caso, ele não apenas é aceito, mas constitui verdadeiro ornamento do estilo; d) é o que se dá em expressões como "Isso eu vi com meus próprios olhos" e "Tinha a testa enrugada, como quem vivera vida de contínuo pensar"; e) em outros casos, o pleonasmo pode ser vicioso, a ser, portanto, evitado, quando significa uma repetição que em nada robustece a expressão; f) é o que se dá em exemplos como "subir para cima", "descer para baixo", "entrar para dentro" e "sair para fora".

4) Com essas considerações teóricas e genéricas, podem-se extrair as seguintes conclusões para o caso da consulta: a) a expressão antecedido de aviso prévio tem evidente conotação pleonástica e redundante, até porque aviso prévio já significa comunicação antecedente; b) a repetição das expressões, no caso, em nada robustece o vigor, a intensidade ou a clareza do texto; c) está-se, por consequência, diante de um pleonasmo vicioso; d) como tal, constitui vício da linguagem e deve ser evitado; e) um primeiro modo de correção será "desde que antecedido de aviso"; f) um segundo será "desde que haja aviso prévio".