Billie Eilish tem sido fascinante ao repensar gênero e sexualidade. Ela dispensou o padrão de mulher jovem e passou a reconstruir a sua posição no mundo, em uma crítica peculiar de gênero.
Nesse sentido, Billie estaria próxima de Greta Thunberg, ao representar o presente com um pé no futuro. Ambas performam questões do presente entrelaçadas no futuro. Billie modifica o estilo da Lana del Rey, antissexualizando-a, em uma fuga sombria e psicológica em direção a um futuro, que não sabemos ainda direito qual é.
Aqui, estamos corretos em escrever "gênero", como desempenho dos sexos, referindo-se às múltiplas potências do homem e da mulher no mundo. Billie desempenha uma juventude consciente do seu vazio existencial. Uma geração, que, talvez, caminhe para ser pós-existencialista.
Uma juventude deficiente, assim como Billie, que tem a síndrome de tourette. Uma juventude neurodiversa, vivendo em um mundo, em que já se descobriu a relação entre evolução humana e autismo. Isto é, de como dependemos da anormalidade para fazer o bom progresso.
Billie cobre o seu corpo, evitando que a sexualizem e, assim, desnuda a sua alma de mulher, para um público que busca nela força, enquanto ela devolve a mesma demanda a ele.
O nosso mundo está em busca de sentido. Por isso, talvez, tenhamos tantas demandas identitárias. A procura por uma identidade diferente é tudo o que temos, porque não aguentamos mais o mundo do jeito que ele está.
Esta é a parte revolucionária da coisa: "Eu não aguento mais o que a existência tem a me oferecer! Eu tenho 18 anos e eu irei, ao menos, mudar as minhas roupas, o meu pronome, a cor do meu cabelo e vou esperar o mundo acabar!"
Billie nos mostra uma mulher, juveníssima, que aparece de outro modo. Explodindo a sua fragilidade existencial. Ela não precisa ser a mulher forte e má, que mamãe ensinou que ela deveria ser. Ela pode ser o que ela quiser, inclusive a menina que o feminismo não quer.
Ela pode simplesmente buscar conexão, voltar-se para a alma. Cantar aos sussurros, "as long as I'm here, no one can hurt you", para se referir ao irmão que é o porto-seguro dela contra o suicídio e que acompanha o seu processo criativo, que a ajuda a brilhar.
Billie é uma menina diferente. Uma que não tem medo de ser mulher. Não tem receio de pensar nas coisas da alma. A performance de gênero dela é introspectiva, de conexão emocional. Tirando a atenção do corpo, acolheu e tirou a pressão de todo mundo.
E assim encantou, encanta e encantará.