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Por que Bolsonaro chama jornalistas de idiotas?

terça-feira, 27 de abril de 2021

Atualizado às 13:51

Seria ótimo repetir aqui a consternação de todos nós, com um presidente que demonstra a mais completa incapacidade de adequação às regras mais simples de conduta social. Seria também útil ajudar a vocalizar contra o desrespeito mais cru, que este presidente demonstra às mulheres deste país. 

Concentro-me aqui, no entanto, a explicar porque Bolsonaro ofende a mídia e as instituições, e qual a tática política por trás disso. 

Sabemos que ele parece não ter deferência a ninguém. A jornalista vitimada salientou isso muito bem: a postura grosseira já é de se esperar deste governo. Bolsonaro age a partir de uma dinâmica de masculinidade histérica (conceito que comecei a desenvolver nesta coluna da semana passada). 

A histeria masculina é o modus operandi da política dele. Homens do governo e fora dele, que dão escândalos diariamente na esfera pública, fazendo questão de demonstrar destempero e pânico. É Ministro da Saúde que dá soco na mesa, Chanceler sem pudores de sustentar teorias conspiratórias, Vereador que tem crise ao confundir LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) com LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), YouTuber dando chilique e Mandatário que governa xingando e maldizendo cada detalhe dos direitos fundamentais. 

Diante de um cenário delicadíssimo de crises biológica, climática, econômica e de direitos, pedir para que os membros do governo façam psicoterapia, tomem medicamentos ou analisem a sua composição hormonal seria uma utopia. Não há nada mais a se esperar deles. 

Porém, por que fazem isso? 

Essa postura desrespeitosa à mídia, que curiosamente ele não consegue ter em relação à sua Nemesis política (talvez por medo do tamanho da derrota), vem, possivelmente, das lições de um determinado filósofo famoso (você deve saber quem é). 

Nas lições dessa direita extrema, existe um mandamento de desrespeito aos adversários. Isso vem sendo ensinado em cursos. A ideia é desrespeitá-los, xingá-los, desestabilizá-los. Nesse cenário, a imprensa é eleita como um dos inimigos principais. 

Para eles, a "grande mídia" jamais fala a verdade. Ela mente e sempre vai tentar distorcer o discurso deles. Por isso, o objetivo do político seria ridicularizar a imprensa antes que ela a ridicularize. 

A histeria masculina e a deslegitimação da "grande mídia" são os motivos pelos quais Bolsonaro age de forma destemperada. A jornalista foi a vítima da vez e presto a ela minha solidariedade. 

Evidentemente que, do ponto de vista constitucional, não concordo com essa falácia. A liberdade de imprensa é essencial para a democracia. Sem ela, governos e partidos podem facilmente tomar conta de um país. Nós dependemos de uma imprensa livre. 

É falsa a narrativa de que as mídias alternativas seriam melhores que as tradicionais. Elas cumprem uma função importante de democratizar a comunicação pública, mas a história recente comprovou que as fake news se propagam justamente pelos órgãos alternativos, cujos mecanismos de controle interno e externo ainda são frágeis. 

No Direito Constitucional, ainda vamos discutir bastante sobre questões que envolvem a liberdade da imprensa, a dignidade humana e o direito às informações razoáveis, que preservem a democracia. Mas uma coisa é certa: Bolsonaro está errado. Ele já cansou a todos nós. 

Toda a minha solidariedade à imprensa, em especial ao Migalhas, meu carinho e cuidado à jornalista que sofreu este ato grosseiro. Que fiquem todos bem. Vamos superar essa fase sombria da nossa história.