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Por que as cotas para mulheres no Poder Legislativo é a mais importante reforma política da sua vida

terça-feira, 20 de abril de 2021

Atualizado às 07:41

Eu não sou uma pessoa que se rende facilmente a medidas de senso comum de gênero. Gênero é um tema sensível. Se você se rende a repetir o senso comum, você perde a sua relevância teórica e prática. Deixa temas importantes descobertos. Trai as pautas de gênero. 

Nós não podemos nos render ao senso comum, mas isso não significa que ele não esteja às vezes certo. Cotas por cadeiras no Poder Legislativo é um daqueles temas de gênero populares, que parece estar correto e ter boas probabilidades de dar certo no Brasil. 

A ideia é simples. São 513 deputados e 81 senadores. Dividimos as vagas e damos metade para os homens e a outra metade para as mulheres. Assim, bem simples. Bem natural. De uma hora pra outra, teríamos uma representação de 50% de mulheres no Congresso Nacional. 

O intuito dessa medida não é privilegiar as mulheres como minorias políticas. O objetivo é enfraquecer a política masculina e a estrutura do capitalismo patriarcal.

E por quê? Pois o problema é exatamente este! Seja na esfera pública ou nos meandros da corrupção administrativa, a política brasileira padece de histeria masculina.
 

Pense bem. O que escrevo faz sentido. Qual foi a última da política brasileira? Bem, o Supremo Tribunal Federal, acertadamente, determinou que o Senado inicie a CPI da Pandemia. Fez isso seguindo a sua jurisprudência histórica de defesa do direito público subjetivo das minorias parlamentares de terem aquela "joça" instaurada. 

E o que fez o Senado Federal masculino, em um cenário de mais de 375 mil mortos? Padecendo de uma situação de pânico intensa, apresentada sob a forma de sintomas físicos, tais como paralisia, cegueira e surdez, e perdendo, aparentemente, o autocontrole, resolve, ao invés de acelerar a CPI, bater com o punho na mesa (ato que já virou moda neste país, entre uma ou outra ostentação de arma) e elucubrar o impeachment dos ministros do Supremo. Como se este país tivesse tempo para qualquer outra coisa, que não seja resolver a pandemia e evitar que os brasileiros morram de fome. 

Nós vivemos um problema de gênero na política brasileira. Se qualquer coisa fora-da-linha é dita ou se de qualquer modo se ofende a sensibilidade dos donos do poder, o Brasil para. Para e espera esse fenômeno típico do sexismo: a histeria masculina (sei que estou sendo redundante, mas só para deixar claro o meu ponto). 

Quando a Catharine MacKinnon publicou a sua Teoria Feminista do Estado, as mulheres analisaram o livro com a seguinte mentalidade: "o que tem de novo? Como o livro nos ajuda a avançar no movimento? Vamos rápido, que a gente tem que pensar pra frente, porque o dinheiro está acabando". 

Mas parece que não é assim no Senado Federal dos homens e nas mais variadas esferas do poder público brasileiro. Tudo para. Tudo é lento. Tudo deixa de funcionar pelas mais banais disputas de ego. 

Os entraves da política brasileira têm sido uma questão de gênero. A política brasileira é demasiadamente violenta. Focada nesta lógica de vingança e silenciamento. Nada pode ser dito, porque se for é necessário retaliação, linchamento e as mais variadas disputas fálicas. 

O homem de poder no Brasil se sente ofendido por qualquer coisa. O problema da liberdade de expressão no país é masculino.

Pode ser que, se tivessem mais mulheres no Senado Federal, elas estariam mais aceleradas para resolver os problemas. Afinal, é parcialmente correta a assertiva de que as mulheres não têm interesse "pela política". Elas não têm interesse pela política dos homens: violenta, estressante e sem direção.
 

Como todo bom essencialista, vou defender que as mulheres fazem política diferente. E é exatamente aí que está a graça do jogo. 

Já passou da hora de experimentar novos horizontes. Em uma tacada só, as cotas por cadeiras para mulheres têm o potencial de revolucionar a política legislativa brasileira.