COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Direitos Fundamentais >
  4. Mulheres vs Red Pillers: Como derrotar o sexismo na quarta onda do feminismo

Mulheres vs Red Pillers: Como derrotar o sexismo na quarta onda do feminismo

terça-feira, 16 de março de 2021

Atualizado às 13:43

As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.
Ana Cristina Cesar

A quarta onda está sendo (ou foi?) arriscada. Ela passou deixando rastros perigosos e perdas de foco. Reconheço os benefícios na melhora dos ambientes de trabalho das mulheres mais ricas, mas as estratégias de man bashing na era do feminismo interseccional pode deixar sequelas geracionais em homens e mulheres. 

Além do mais, as críticas exageradas ao feminismo radical colocaram em risco as estratégias de proteção das mulheres pobres, fortalecendo a aliança do capitalismo patriarcal com o feminismo liberal.. Isso sem falar nos problemas do construtivismo social, em um momento em que a neurologia de gênero chega a marcos positivos sobre a biologia da mulher. Afinal, por mais digno que seja o conceito de gênero, ele não deveria ofuscar as necessidades oriundas de um feminismo com base no sexo. 

O último relatório da ONU também não é otimista. A Organização Mundial de Saúde constatou que a violência de gênero continua devastadoramente generalizada e atinge mulheres muito jovens. 1 em cada 3 mulheres são submetidas à violência física ou sexual ao longo da vida, cerca de 736 milhões. Esse número permaneceu praticamente inalterado na última década e a situação tem se agravado na pandemia. 

A violência por parceiro íntimo é a forma de violência prevalente contra as mulheres em todo o mundo (afetando cerca de 641 milhões) e afeta desproporcionalmente as mais pobres. A violência de gênero não diminuiu nas últimas décadas. Está estável. Como não há tempo a perder, talvez seja interessante reavaliar as estratégias. 

Mas não vim aqui só escrever sobre problemas do feminismo, apesar dele ter avançado na história justamente pela coragem das mulheres críticas, que impulsionaram as questões de gênero com seus desejos de transformação. Eu vim aqui reiterar que o sexismo "do lado de cá" mudou e que ele é mais perigoso do que se imagina. 

Os homens que abraçam o capitalismo para maltratar mulheres, os red pillers, estão aprimorando as suas estratégias. Estão se adaptando aos discursos do feminismo mainstream e entregando os sinais que as mulheres pedem, porém retirando a empatia do jogo, de modo cada vez mais técnico, pois estão sendo treinados por narcisistas (no sentido técnico da palavra). 

Nos últimos anos, a exposição das técnicas do feminismo permitiu que homens de pouca empatia ou traumatizados aprendessem a ser camaleônicos. Adotando as estratégias do capitalismo patriarcal, eles jogam no amor líquido, ostentando símbolos de prosperidade e técnicas psicológicas manipulativas, fazendo dos relacionamentos humanos uma consequência do capital. Mais uma vez, as mulheres pobres serão desproporcionalmente afetadas. 

Fundado em uma cultura que idealizou os relacionamentos líquidos e vilanizou o amor, esse novo sexismo pode tornar as coisas piores do que já estão. Eles são adversários à altura. Menosprezá-los é um erro. Dizer que, hoje, os relacionamentos humanos são saudáveis é justamente o que eles querem ouvir. 

Então, o que fazer? 

Se a coisa for dividida na ordem maniqueísta do bem e do mal, onde um sexo é bom e o outro é ruim, o papel contrarrevolucionário e antidemocrático do feminismo mainstream continuará sendo ignorado. Ademais, etiquetar como injusta toda demanda masculina só fortalecerá os red pillers, dando ao discurso deles ar de racionalidade. 

Seria um bom começo, talvez, se ouvíssemos mais as mulheres marginais, das alas radicais e materialistas. Desde Camille Paglia até Germaine Greer, passando obviamente por Nancy Fraser. É muito provável que a semente da quinta onda esteja nos escritos destas mulheres. Que o feminismo marginal seja a luz do caminho. 

Para inspirar as boas lutas, ouça este podcast com a leitura de poemas da Ana Cristina Cesar: