Sua busca por misandria termina aqui
terça-feira, 20 de outubro de 2020
Atualizado em 21 de outubro de 2020 09:00
É claro que a misoginia é o problema principal. Não quero que as coisas saiam nunca dessa perspectiva e nem vim com a minha navalha afiada como de costume. Digamos que eu esqueci o personagem na cama, para tratar de um dos mais misteriosos temas do feminismo relacional-ideológico contemporâneo: a misandria existe, como ódio ou preconceito aos homens e meninos?
Yo no creo en misandrias, pero que las hay, las hay.
É um tema importante, se considerarmos que não seria absurdo pensar que a misandria pode somar forças com a misoginia, para diminuir o índice do bem-estar de mulheres e homens no nosso belo e pacífico planeta Terra.
Afinal, enquanto parte do feminismo e a manosfera travam a batalha mais importante do século (ao menos para aqueles e aquelas que frequentam os rooftops de Manhattan), nós estamos aqui tentando descobrir o que fazer com a queda absoluta e relativa do índice de felicidade das mulheres, somada com a volta da fome e do agravamento da profunda desigualdade social brasileira, que em um contexto de crise econômica, política e ética, deixaram as meninas e mulheres brasileiras pobres sujeitas a toda a sorte de abusos.
A reflexão sobre a existência de misandria é, então, válida, se for relacionada aos estudos da saúde mental da mulher: onde existe ódio frequentemente se encontra um trauma. Assim, é válido encarar a questão de gênero também como algo relativo ao bem-estar. Do contrário, podemos sacrificar gerações de mulheres em experimentos sociais, que não sabemos bem o resultado.
É um fato que a mulher é igual ao homem em direitos e deveres, considerando as adequações da igualdade material. Agora, é preciso dar um passo adiante em direção à proteção da mulher e ao cuidado da sua saúde física e mental.
É uma questão de pensar um feminismo para os 99%, e não para apenas 1% das mulheres dominar, junto a 1% de homens, todos as demais pessoas.
No International Journal of Law in Context, Darren Rossenblum afirma que o feminismo deve assumir uma política de justiça, que vá além do status de vítima e da misandria. Se isso não acontecer, será impossível chegar a uma sociedade equilibrada de gênero.
Eu, como homem, preocupo-me sim com os efeitos da misandria na minha vida (em escala individual, não como sistema). Eu tento tomar cuidado e identificar as red flags nas mulheres com quem me relaciono.
Aqui, porém, a minha preocupação como teórico é mais no sentido de pontuar que a misandria pode levar ao agravamento do bem-estar da mulher. O número de vítimas multiplicará, enquanto a política de gênero não ultrapassar a vitimização.
É óbvio que a misoginia é o problema principal, mas ensinar mulheres a odiarem homens só vai aprofundar o problema. Do ponto de vista psicológico, parece mais interessante ensinar mulheres a identificarem bons parceiros e refletirem sobre as suas escolhas.
Violência de gênero não pode jamais ser justificada e devemos cobrar que homens que praticam crimes sejam responsabilizados. Porém, esse viés punitivo não é suficiente para aumentar o bem-estar da mulher. Assim como os homens, mulheres precisam de educação psicológica, para que possam escolher homens de acordo com os seus princípios e valores.
A psicologia nos fornece dicas práticas para escolher parceiros e evitar relacionamentos abusivos. Ao invés de ensinar mulheres a odiar homens, ensinem as mulheres a identificar bons parceiros.
Ademais, diante da dinâmica dos estrogênios na constituição biopsicológica da mulher, eu desconfio que relacionamentos líquidos não aumentarão a qualidade de vida feminina. Hoje, a sexualidade humana já atua de acordo com uma lógica capitalista de acumulação de riquezas. Será que essa estrutura é benéfica à mulher?
Mulheres podem ser o que quiserem, mas seria interessante não perder de vista as forças do sexo delas. Comunicação superior, genialidade na condução das emoções, comunitarismo e empatia são apenas algumas das virtudes biológicas que as mulheres naturalmente possuem.
Com alguma misandria, Rosalind Miles descreveu os homens como o "sexo da morte". Por que então apostar em um mundo em que o testosterona é o padrão das virtudes? Por que não inverter a lógica e valorizar um mundo a partir dos resultados que os estrogênios provocam no corpo da mulher?
Defender educação psicológica, autoconhecimento sobre o ciclo menstrual e atenção à realidade neurológica, e hormonal não afeta em nada a igualdade de gênero.
Pelo contrário, essa ponderação proporciona à mulher conhecimento para buscar a felicidade, estabelecendo uma relação mais saudável com o mundo, para, se quiser, encontrar um parceiro que a ame verdadeiramente, sem abrir mão das suas conquistas materiais. Em "The Female Brain", Louann Brinzendine, neuropsiquiatra e professora da Universidade da Califórnia - San Francisco, explica que estamos finalmente chegando na era em que entenderemos a biologia feminina e como isso afeta as suas vidas, sendo uma das nossas missões educar as meninas e mulheres sobre o seu sistema corporal-mental único, ajudando-as a atingir o melhor delas em cada faixa etária.
Por fim, lembro que as mulheres da classe trabalhadora não estão usufruindo dos benefícios materiais das mulheres de classe média e alta, mas sofrem, provavelmente, os impactos subjetivos da queda do índice de felicidade das mulheres em geral.
As meninas e mulheres mais pobres estão perdendo tudo. Estou preocupado.