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A revolução silenciosa da cibersegurança: Ética, saúde e cooperação no mundo digital

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Atualizado às 07:59

Vivemos em uma era onde o invisível ameaça o tangível. Os avanços tecnológicos, que aceleram a vida moderna, trazem consigo a urgência de se proteger o mais precioso bem da sociedade digital: a informação. Recentemente, na reunião ordinária da Digital Law Academy em parceria com a Deloitte, da IBM por meio da comunidade IBM Power Brasil e ADESG-SP, especialistas em cibersegurança reuniram-se para debater o impacto dessas mudanças na segurança de dados médicos, no setor bancário e na cooperação internacional. Mais de 60 profissionais presenciais e muitos outros conectados online participaram ativamente dessas discussões que transcendem o âmbito técnico, atingindo profundezas éticas e filosóficas.

 A cibersegurança, hoje, é o escudo que protege o âmago da confiança pública. Nas palavras de Michele Cordeiro, CEO da CCELL Health Tech, a questão vai além de proteger bytes e dados: "Estamos defendendo vidas". O debate sobre segurança cibernética em dados médicos revelou o quanto a digitalização da saúde, ao mesmo tempo que revoluciona o atendimento médico, também expõe pacientes e instituições a ataques que podem comprometer diagnósticos, tratamentos e até mesmo vidas. Proteger a saúde digital da sociedade é um imperativo ético que requer uma visão holística, de que a tecnologia, ao passo que salva, também deve ser cuidada como um paciente em si.

 No setor financeiro, Renato Augusto, gerente de cibersegurança no Bradesco, trouxe uma visão pragmática dos desafios enfrentados pelo setor bancário. O dinheiro, um símbolo tangível da confiança pública, agora reside em servidores invisíveis, onde senhas, criptografias e firewalls formam as barreiras entre a segurança e o caos. Sua palestra sobre Segurança Cibernética no setor bancário foi um alerta: a proteção do patrimônio digital é também a proteção da estabilidade social. A cada dia, os cibercriminosos se tornam mais sofisticados, e a resposta precisa ser igualmente robusta e ágil, uma verdadeira corrida contra o tempo onde a inércia pode custar caro.

 Daniel Tupinambá, Partner da Deloitte, ao abordar o "Panorama Cibernético Global e Cooperação Ética", trouxe uma perspectiva alarmante: em 2023, os crimes cibernéticos ultrapassaram a marca de três trilhões e meio de dólares em perdas econômicas globais. Esse número astronômico reflete a magnitude do problema que estamos enfrentando. Ele destacou que, diante dessa realidade, as empresas precisam urgentemente aumentar seus investimentos em cibersegurança, não apenas como uma medida preventiva, mas como uma estratégia essencial de sobrevivência no ambiente digital. "A segurança digital não pode ser tratada como um custo adicional. Ela é uma questão de continuidade do negócio", reforçou Tupinambá, apontando que as empresas ainda subestimam o impacto que uma falha cibernética pode ter em sua reputação e sustentabilidade financeira.

 Ainda sobre o impacto da tecnologia na vida das pessoas, Coriolano Camargo trouxe à discussão uma inovação que promete revolucionar o campo da medicina: o "Open Health", um sistema que permitirá a troca anonimizada de dados entre hospitais, médicos e clínicas, focado na correção de diagnósticos equivocados. Ele explicou que o compartilhamento de dados estatísticos, respeitando a privacidade dos pacientes, pode evitar erros de diagnóstico que, muitas vezes, resultam em tratamentos ineficazes e desnecessários. "Hoje, muitos pacientes que apresentam sintomas cardíacos estão, na verdade, sofrendo de problemas neurológicos no sistema autônomo do cérebro, que não comanda adequadamente os batimentos cardíacos. Isso significa que estão sendo tratados por cardiologistas quando deveriam estar sob os cuidados de neurologistas, e vice-versa", destacou Camargo. Com o Open Health, esses padrões podem ser detectados e corrigidos de maneira mais rápida e eficaz, proporcionando uma medicina mais precisa e personalizada.

 O evento mostrou que a cibersegurança não é apenas uma questão técnica, mas uma responsabilidade ética, social e filosófica. Proteger a informação é, em última instância, proteger as bases de nossa civilização digital. A revolução da cibersegurança é silenciosa, mas seu impacto é ensurdecedor, ecoando nos cantos mais profundos de nossa sociedade conectada.

 Agradecimentos especiais foram feitos a Thiago Sobral, cujo apoio técnico-científico através da comunidade IBM Power Brasil foi fundamental para a organização e sucesso do evento. A IBM, junto à Deloitte, forneceu a base para essas discussões, promovendo o intercâmbio de ideias entre os mais brilhantes profissionais do setor.

 No fim, estamos diante de um cenário onde a tecnologia molda a medicina, as finanças e a segurança, e a colaboração internacional se torna não apenas uma escolha, mas uma necessidade. Esse evento mostrou que a transformação digital não pode ocorrer sem o fortalecimento da ética e da segurança em cada passo do caminho.

 Conclusão 

 A jornada pela cibersegurança, como foi debatida no evento, nos convida a refletir sobre quatro verbos que moldam a essência de qualquer transformação duradoura: querer, ousar, agir e calar. "Querer" é o primeiro passo - a vontade firme e consciente de projetar resultados positivos no mundo digital e real. Sem o desejo genuíno de proteger e melhorar, permanecemos imóveis. 

 No entanto, só querer não é suficiente. É preciso "ousar". Ousadia é a força que desafia o status quo e empurra as barreiras da inovação. Somente aqueles que ousam são capazes de romper as fronteiras do medo e da inércia, transformando o que parece impossível em uma nova realidade. 

 Depois de querer e ousar, vem o momento mais crucial: "agir". Ação requer coragem, porque mudar o presente é um ato que desafia tanto as resistências internas quanto as externas. Agir com coragem significa enfrentar os riscos, aceitar as falhas como parte do processo e mover-se com determinação em direção ao objetivo maior.

 Mas há momentos em que a sabedoria nos pede "calar". Projetos sensíveis e transformadores muitas vezes precisam do silêncio para germinar e crescer longe dos olhares curiosos. Saber calar é um ato de prudência, é permitir que as ideias cresçam no tempo certo, sem a interferência de forças externas que podem desviá-las de seu curso.

 Por fim, é necessário "saber" - não apenas acumular conhecimento, mas alcançar a sabedoria. O saber transcende dados e informações; é o discernimento de quando falar, quando agir e quando calar. É a percepção de que, para construir um futuro mais seguro e ético, precisamos equilibrar a ousadia com a prudência, o desejo de mudança com a paciência da ação calculada.

 Neste cenário digital, onde o invisível se entrelaça com o real, a conjugação desses verbos é o que nos permitirá navegar de forma sábia e consciente rumo a um futuro mais seguro e transformador.