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Engajamento pelo ódio: A aversão como motor da política partidária no Brasil

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Atualizado às 07:36

Este breve texto destaca a ideia central de como a aversão aos adversários se tornou um fator dominante na dinâmica política brasileira, conforme pesquisas. 

Introdução

Em tempos de rápida disseminação de informação digital, a capacidade de governos para influenciar a opinião pública por meio de desinformação tem se tornado um tema de crescente preocupação. A manipulação de dados e fatos não é uma prática nova, mas a magnitude e a eficácia com que a desinformação pode ser propagada foram amplificadas pelo uso estratégico da máquina governamental. Esta prática, observada tanto em governos anteriores quanto no atual, utiliza-se de canais oficiais e de comunicação digital para disseminar informações enganosas, muitas vezes visando a manipulação da percepção pública e o fortalecimento de narrativas políticas específicas.

A desinformação pode ser definida como a distribuição deliberada de informações falsas ou enganosas com o propósito de influenciar a opinião pública e desestabilizar o diálogo democrático (Wardle e Derakhshan, 2017). Segundo Lazer et al. (2018), a propagação de notícias falsas se dá com maior rapidez e amplitude que a disseminação de informações verdadeiras, especialmente em redes sociais. Esta dinâmica cria um ambiente onde a verdade compete de forma desigual com a mentira, o que é exacerbado quando o governo utiliza sua infraestrutura e recursos para promover desinformação.

Durante o governo anterior, observou-se o uso de estratégias coordenadas para divulgar informações errôneas sobre temas sensíveis, desde questões econômicas até crises de saúde pública. Já o governo atual, embora em um contexto diferente, continua a empregar táticas semelhantes, utilizando a máquina governamental para propagar narrativas que beneficiam seus interesses políticos. Essa continuidade revela não apenas uma instrumentalização da comunicação oficial, mas também uma perigosa erosão da confiança pública nas instituições governamentais.

Este artigo explora como a máquina governamental tem sido empregada para disseminar desinformação em diferentes governos, analisando os métodos e os impactos dessa prática. Por meio de uma comparação detalhada entre as abordagens do governo anterior e do atual, busca-se entender as implicações dessas estratégias para a sociedade e para o funcionamento da democracia. 

A política da aversão

Em um cenário político cada vez mais polarizado, a intolerância emergiu como um fator preponderante na dinâmica partidária brasileira. Pesquisas recentes indicam que o ódio aos adversários se tornou um dos principais motivadores para a adesão e o engajamento político.

Segundo um estudo realizado por cientistas políticos da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e da Universidade de São Paulo (USP), aproximadamente 70% dos filiados a partidos políticos no Brasil apontam a aversão aos oponentes como uma razão significativa para sua filiação. Publicado pelo "Estadão", esse levantamento revela uma tendência preocupante: o "engajamento pelo ódio" supera motivações tradicionais, como a influência sobre decisões partidárias internas, ficando atrás apenas do objetivo de alcançar vitórias eleitorais.

Os pesquisadores notaram que, para 36% dos entrevistados, a hostilidade em relação a outras legendas aumenta significativamente sua participação nas atividades partidárias, evidenciando uma transformação da política em uma arena de combate simbólico. Essa atitude se manifesta em um cenário onde a política, em vez de promover a conciliação de interesses diversos, é tratada como uma batalha existencial.

A constante estimulação de um sentimento de ódio e rejeição não apenas fragmenta a sociedade, mas também ameaça a própria essência da democracia representativa. A política, que deveria ser um espaço de diálogo e negociação, está se convertendo em uma guerra tribal, onde adversários são vistos como inimigos a serem eliminados. Esse clima de beligerância não favorece a convivência democrática, mas sim o declínio das instituições políticas e da capacidade de governança coletiva. 

Desinformação e manipulação nas redes sociais: Um problema bipartidário

O uso das redes sociais como ferramenta para a disseminação de desinformação e manipulação política não é exclusividade de um único espectro ideológico. Tanto à direita quanto à esquerda, há práticas que promovem a desinformação para influenciar a opinião pública e direcionar pautas favoráveis a seus interesses.

Recentemente, reportagens têm destacado que o governo atual utiliza uma estrutura semelhante ao "gabinete do ódio" da administração anterior, agora com uma orientação ideológica diferente, para direcionar o debate nas redes sociais. Segundo um artigo do "Estadão", o Planalto tem operado com uma versão petista desse gabinete para pautar as redes, gerando críticas por replicar táticas de manipulação da informação que foram amplamente criticadas anteriormente.

Este ambiente de desinformação é problemático, independentemente do partido político envolvido. Tanto defensores da direita quanto da esquerda criticam essas práticas, reconhecendo que elas corroem o diálogo democrático e fomentam um ambiente polarizado e de baixa confiança pública. 

A erosão da democracia provocada pela desinformação: Exemplos ao redor do globo

A disseminação de desinformação tem sido um problema global que corrói a democracia, o diálogo e até a saúde mental das pessoas. Esta questão não se limita ao Brasil; exemplos em várias partes do mundo mostram como essa prática prejudica o tecido social e o funcionamento democrático.

Nos Estados Unidos, a desinformação ganhou destaque durante as eleições presidenciais de 2016 e 2020. Grupos de desinformação, muitas vezes com influência estrangeira, espalharam teorias da conspiração e notícias falsas, criando uma desconfiança generalizada no processo eleitoral. A culminação dessa desinformação foi vista na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, onde a polarização e a falta de confiança no resultado eleitoral levaram a violência e caos.

No Reino Unido, o referendo do Brexit em 2016 foi fortemente influenciado por desinformação. Campanhas enganosas sobre as consequências de permanecer ou sair da União Europeia dividiram a sociedade britânica. Essa divisão ainda persiste, afetando a coesão social e a confiança nas instituições públicas, e dificultando o diálogo e a tomada de decisões informadas.

Na Índia, a desinformação através de plataformas como o WhatsApp tem levado a sérias consequências, incluindo linchamentos e tensões comunitárias. Mensagens falsas sobre minorias e rumores de violência se espalham rapidamente, alimentando o medo e o ódio. Essa desinformação não só agrava conflitos sociais, mas também interfere nas eleições e manipula a opinião pública para atender a interesses políticos específicos.

Nas Filipinas, a administração de Rodrigo Duterte tem usado redes sociais para espalhar desinformação e controlar a narrativa política. O governo é acusado de usar exércitos de trolls para intimidar críticos e distorcer a realidade, resultando em um ambiente de repressão contra jornalistas e ativistas dos direitos humanos.

A desinformação não apenas enfraquece a democracia ao minar a confiança nas instituições, mas também cria um ambiente polarizado, onde o diálogo racional é substituído por confrontos e desconfiança. Esse clima afeta a saúde mental, gerando ansiedade e paranoia entre a população, exacerbando a polarização e dificultando a coesão social.

Esses exemplos ilustram como a desinformação é um problema universal que demanda atenção e ação coordenada para proteger a integridade democrática e o bem-estar social. 

Quando estamos nos expressando rapidamente o espaço do debate é substituído pelo tribunal da intolerância, a voz da razão se cala, temerosa de ser condenada por pensar diferente. 

Esse prisma reflete a dificuldade de expressar opiniões em um ambiente polarizado, onde a discordância é frequentemente rotulada e atacada, inibindo o diálogo construtivo. 

No curso do debate não é possível, ao menos, admitir que há indivíduos de boa-fé que veem o mundo de maneira distinta? Reconhecer que se trata de uma questão polêmica, merecedora de debate robusto, não é justamente o que define a verdadeira essência da democracia?" 

Essa versão de nós mesmos busca enfatizar o valor do reconhecimento mútuo e do debate como fundamentos da convivência democrática. 

A sociedade floresce na medida em que cultivamos amor e tolerância, onde o diálogo sério e a aceitação genuína das opiniões divergentes se tornam as pedras angulares da cordialidade e diplomacia. 

Referências

- Lazer, D. M. J., Baum, M. A., Benkler, Y., Berinsky, A. J., Greenhill, K. M., Menczer, F., ... & Schudson, M. (2018). The science of fake news. Science, 359(6380), 1094-1096. 

- Wardle, C., & Derakhshan, H. (2017). Information disorder: Toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Council of Europe.

- Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e Universidade de São Paulo (USP). (2024). Estudo sobre a motivação do ódio na política. Estadão. Publicado em 1º de junho de 2024.

- "Planalto despacha com versão petista do 'gabinete do ódio' para pautar redes." Estadão. Caderno de Política de 10 de junho de 2024.

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Nota: Este conteúdo foi produzido com o auxílio de uma ferramenta de Inteligência Artificial, assegurando precisão e inovação na sua elaboração.