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Ontem, hoje e sempre

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Atualizado em 15 de setembro de 2011 09:05

 

"O secretário da Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho, anunciou durante entrevista coletiva no início da tarde a prisão do tenente Anderson Silva dos Santos e do sargento Celso Pacheco, do Batalhão da Polícia Militar de Bangu. Eles são acusados de fazer a segurança de bondes (comboio de homens armados) da quadrilha do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar."

Folha de S. Paulo, 9/5/2003

"Justiça mantém inelegibilidade de Anthony Garotinho e cassação de Rosinha."

O Estado de S. Paulo, 28/6/2010

"Depois de Roriz, Ficha Limpa derruba Jader Barbalho."

Veja, 1/9/2010

"A biografia autorizada do presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP), lançada ontem em Brasília, contém erros de informação e omite dados sobre a crise que atingiu a Casa e o próprio senador em 2009."

O Estado de S. Paulo, 24/3/2011

"Por unanimidade, o plenário do CNJ decidiu aposentar compulsoriamente, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, o juiz Abrahão Lincoln Sauáia, do MA. Para quem não se lembra, o magistrado, por ora aposentado, era autor de sentenças inacreditáveis como, por exemplo, dano moral por extravio de bagagens chegava a R$ 1,7 mi, ou dano moral de título cobrado indevidamente no valor de R$ 28 mil acabava em R$ 8 mi. Ademais, havia, em geral, determinação para a busca do numerário na boca do caixa, ou algo similar."

Migalhas, 30/3/2011

Talvez levado pelo diuturno noticiário dos jornais, envolvendo muitos de nossos homens públicos, fui rever a trilogia "O Poderoso Chefão", que muito me impressionara quando exibida lá se vão muitos anos.

A grande vantagem dos DVDs para quem gosta de cinema é, além da comodidade, os extras que costumam ser ali trazidos, contando fatos curiosos envolvendo a realização do filme. Na caixa que tenho em mãos, além da remasterização, há uma edição do filme inteiramente comentada pelo diretor, o que nos auxilia a melhor compreender a complexa trama que envolve o relacionamento das famiglie de mafiosos, onde, como se diz em espirituoso comercial de televisão, não confie em ninguém. E nos mostra também o inferno astral do diretor, lutando entre preservar suas ideias e ter de sobreviver profissionalmente para manter a família, mesmo porque ele ainda não era nome de vinho californiano.

The Godfather, como geralmente sabido, é um livro escrito pelo ítalo-americano Mario Puzo, que nos relata a chegada à América de um garoto, fugido de um capo da máfia italiana, que prometeu matá-lo, para que, quando crescesse, não viesse a vingar a morte do pai, realizada a mando do tal capo.

A interpretação magistral de Marlon Brando rendeu-lhe merecidos encômios, mas sua escalação só foi possível por insistência do diretor, já que os produtores do filme não viam nele o physique du rôle para o personagem do livro. Aliás, eles não tinham grandes pretensões quanto à filmagem da história do livro, tanto que o orçamento era de modestos 2,5 milhões de dólares, o que os levou a contratar um diretor ainda jovem, que passou os dois meses de filmagem com um pé no cadafalso, pronto para ser despedido, especialmente quando os custos foram muito além disso, chegando, ao final das contas, a 6,5 milhões.

A aceitação daquele ator deveu-se a um estratagema inteligente do diretor, que, ainda cedo, foi à casa dele, filmar um teste. O ator chegou à sala vestindo um roupão, com um rabo de cavalo loiro, o que foi filmado, para futuro escândalo dos produtores. Lentamente ele diminuiu o volume de cabelo, passou graxa de sapato neles, colocou dois pedaços de guardanapo de papel na boca e passou a murmurar alguma coisa, como se fosse um velho italiano resmungão. Ganhou o papel e o Oscar.

Rigorosamente, a trilogia não é sobre as atividades da máfia, mas sobre uma família de imigrantes italianos que, como toda família normal, tem seus problemas de relacionamento entre seus membros. Circunstancialmente, a atividade profissional do seu chefe é a exploração do jogo e da prostituição, como poderia ser a atividade política ou mesmo a atividade religiosa, como aparece na terceira parte da história. Negociatas com verba pública ou com tráfico de drogas. Qual a diferença?

A morte do chefão, por exemplo, poderia ser filmada como a morte de qualquer empresário aposentado, que se distrai brincando com os netos. A descontração da cena mostra que sua beleza se deve mais à habilidade do ator, contracenando com uma criança, do que ao roteirista ou ao diretor. A cena em que Marlon Brando faz uma dentadura com casca de laranja, por exemplo, não estava no roteiro. Foi inventada por ele na hora, para distrair a criança, que estava muito inquieta, com aquele regador na mão, cercada de pés de tomate. E a reação desta diante da "morte" do avô é tocante, em sua ingenuidade.

Aliás, essa humildade do diretor no sentido de aproveitar-se de incidentes de filmagem aparece em outra cena. Tendo de contracenar com o grande astro, o ator que interpreta um dos mafiosos ficou tão nervoso que gaguejou na hora de cumprimentar o pai da noiva. A cena não foi refeita mas incluída no filme, antecedida de uma outra, filmada depois, onde aparece o tal mafioso tentando decorar o minidiscurso que fará ao chefão.

Aquilo que era para ser apenas um filme, tresdobrou-se, dando ao ator Al Pacino a oportunidade de mostrar todo seu talento, interpretando um homem que, menos por convicção do que por necessidade, acaba por seguir os passos do pai, quando conhece o crime de alto coturno. "Adeus às ilusões" diria ele, nome, aliás, de filme roteirizado pelo Dalton Trumbo, que viria a ser perseguido pelo macarthismo, estrelado pela Elizabeth Taylor, cuja beleza nos deixou recentemente, que ali aparece juntamente com seu eterno marido Richard Burton, filme, aliás, dirigido por Vincent Minelli, marido da Judy Garland, também vítima de dependência química, e pais da Liza Minelli, cuja carreira não tem sido das mais calmas, o que mostra as voltas que o mundo dá. São todas elas biografias que não podem servir de modelo a quem quer que seja.