Quem foi bem no Jornal Nacional. O que é "ir bem" no JN. Qual é o propósito dos debates e entrevistas
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
Atualizado às 08:30
Parâmetros úteis para responder às questões do título encontram-se num texto de outubro de 2012 de George Friedman, da agência americana Stratfor, The Purpose of Presidential Debates. Corria então muito quente a disputa pela Casa Branca entre o candidato à reeleição, Barack Obama, e o desafiante republicano, Mitt Romney.
Entrevista de candidato a presidente para o Jornal Nacional, da TV Globo, não é formalmente um debate, mas há poucas coisas mais semelhantes a um autêntico debate que candidato a presidente sendo entrevistado na bancada do JN. Não há ali propriamente uma relação jornalista-entrevistado. Há uma disputa aberta pelo poder.
O sujeito tem de ir no JN porque não pode abrir mão da enorme audiência do telejornal. Mas inexiste mesmo almoço grátis, e o preço a pagar é considerável. Corre o risco de ser feito em pedaços por entrevistadores/debatedores sem a menor disposição de serem convencidos de nada, independente dos argumentos que o convidado possa apresentar.
Não seria mais razoável deixar o entrevistado falar com alguma liberdade e expor suas ideias para melhorar o país? Bem, para isso se dirá que existe o horário eleitoral compulsório na tv e rádio abertos. E a verdade é que o dia a dia do poder se parece mais com uma entrevista no JN que com o desfile de belezinhas dos programas eleitorais.
Gostar ou não da maneira como os entrevistadores/debatedores apertam os candidatos é só questão de gosto. Eu preferiria que houvesse mais tentativas de xeques-mates no mérito, e um pouco menos de exibição de músculos. Aliás, na política, o excesso de halterofilismo costuma ser sintoma de pouco treino para jogar xadrez. Mas é coisa que dá para corrigir.
Num debate eleitoral ou numa entrevista como as do JN, a única coisa importante, para o candidato, é defender sua capacidade de liderar, em primeiro lugar sua própria tribo. Ele está ali num duelo, e não pode se deixar matar, ou mesmo se permitir ferir com gravidade. Se puder dar uma estocada decisiva e abater o adversário, melhor ainda.
Talvez a principal qualidade exigida do líder político seja não errar -ou errar pouco- quando precisa decidir rápido e sob imensa pressão. Nesse aspecto, Ciro, Bolsonaro e Haddad foram os melhores. Até por serem, os três, personagens dotados da necessária autossuficiência para confrontar essa mesma característica da dupla de entrevistadores.
Autossuficiência e capacidade de se agarrar às próprias narrativas. A narrativa é a boia do líder político na tempestade. E é a boia que ele atira aos liderados para se salvar junto com ele. Quem não consegue contar uma história sobre si fica à mercê da história que os adversários contarão sobre ele. Numa entrevista coletiva ou numa mesa de bar.
Só ingênuos ou desavisados esperam que um político chegue ali e diga "puxa, vocês têm razão, eu errei mesmo; obrigado pela dica, da próxima vez vou tentar acertar". E só desavisados e ingênuos acreditam que os entrevistadores estão ali para oferecer uma oportunidade real ao entrevistado de expor argumentos. #FicaaDica.
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Havia dúvidas sobre se daria tempo de outro candidato petista trazer para ele rapidamente votos que seriam de Lula, se este pudesse concorrer. Mas o tempo na política não é rígido. Parece mais com o tempo de Einstein que com o de Newton. Quanto mais perto da eleição, menos tempo você precisa para difundir eficazmente uma informação.
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Uma característica este ano é o fim do oligopólio das pesquisas eleitorais. Certos veículos da imprensa recusam noticiar pesquisas que não as contratadas por eles. É um direito. Mas aí têm dificuldade de explicar possíveis repercussões de pesquisas que não disseram quais são.
O Conselheiro Acácio, sempre útil. As consequências vêm sempre depois.
Até a próxima semana.