Educar o consumidor para salvar o planeta
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
Atualizado às 08:01
Num recente artigo meu, apresentei dados sobre a destruição do planeta causada pelo consumo dos recursos naturais renováveis. Na atualidade, tirando o presidente Donald Trump e seus asseclas, que pensam diferente, está claro que o sistema de consumo está causando danos severos ao meio ambiente. A pergunta que eu faço é: de quem é a responsabilidade por essa catástrofe, do sistema capitalista ou do consumidor? Dos fornecedores ou dos hábitos de consumo? Aliás, seria possível separar um do outro?
Vale a pena observar alguns fatos, para se ter uma ideia do problema, como já mostrei também por aqui. Eis alguns dados (que variam um pouco de acordo com a fonte, mas que, de todo modo, servem de indicação): a produção e o consumo dos Estados Unidos da América, com um número de consumidores que correspondem a aproximadamente 5% da população do planeta, contribuem com 36% das emissões de gases de efeito estufa e consomem 25% da energia mundial. No que se refere aos países desenvolvidos, estes congregam um quinto da população mundial. Esta minoria, porém, consome 80% de todos os recursos naturais existentes. Logo, ao contrário do que se propaga, a globalização é uma ilusão, pois não dá para "globalizar" o padrão de consumo dos EUA e dos demais países desenvolvidos. Precisaríamos de vários planetas para tanto.
Esses dados mostram que é preciso mudar o foco, posto que, caso se perpetue o modelo de consumo dos dias que correm, não haverá salvação. Ao invés de se produzir mais e se consumir mais, a diminuição do consumo é que, talvez, pudesse ajudar a sustentar o planeta.
Uma educação para o consumo poderia ajudar a resolver essa equação. Ela existe, mas ainda é muito incipiente e, paradoxalmente, é promovida por empresas que estão descobrindo o nicho do consumo consciente, especialmente trabalhando com produtos recicláveis.
De fato, talvez os consumidores pudessem tomar consciência de seu efetivo papel como protagonistas da sociedade capitalista e também percebessem que o regime consumista no qual estão inseridos não faz bem nem a seu bolso nem a sua saúde nem a seu bem-estar e nem ao planeta.
Como quero apenas fazer algumas colocações para a nossa reflexão, eu termino por aqui, deixando, na sequência, mais uma vez, uma série de máximas do comediante americano George Carlin e também algumas que eu mesmo fiz, que dizem respeito ao modo de vida da sociedade em que vivemos.
De George Carlin:
Nós bebemos demais, gastamos sem critérios. Dirigimos
rápido demais, ficamos acordados até muito tarde,
acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV
demais e raramente estamos com Deus.
Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores.
Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos
à nossa vida e não vida aos nossos anos.
Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a
rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas
não o nosso próprio.
Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.
Aprendemos a nos apressar e não, a esperar.
Construímos mais computadores para armazenar mais
informações, produzir mais cópias do que nunca, mas nos
comunicamos cada vez menos.
Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta;
do homem grande, de caráter pequeno; lucros acentuados e
relações vazias.
Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas
chiques e lares despedaçados.
Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral
descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das
pílulas 'mágicas'.
Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na
dispensa.
Acrescento:
Estamos na era das fusões de empresas e dos desempregados em profusões.
Do acúmulo de cartões de crédito fácil e abundante e das dívidas impagáveis.
Das dezenas de pares de sapatos nos armários de casa e das crianças andando descalças nas ruas.
Nunca tivemos tanto acesso à informação, mas nosso conhecimento é paupérrimo.
As pessoas sabem muito sobre automóveis, mas pouco sobre arte.
Muitos consumidores têm noção dos preços das cervejas, mas desconhecem o valor da solidariedade.
Tira-se foto de tudo, mas, realmente, não se aprecia quase nada.