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Falecimento do Professor Goffredo Telles Jr. repercute na imprensa brasileira

O domingo, 28/6, foi de homenagens e despedida no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco, ao grande mestre Goffredo Telles Jr

29/6/2009

Homenagem

Falecimento do Professor Goffredo Telles Jr. repercute na imprensa brasileira

O domingo, 28/6, foi de homenagens e despedida no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco ao grande mestre Goffredo Telles Jr, falecido no início da noite de sábado, 27/6, aos 94 anos.

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Morre Goffredo da Silva Telles

Aos 94 anos, morre o jurista Goffredo da Silva Telles, autor da 'Carta aos Brasileiros'

RIO - A defesa da democracia e da ética na vida pública, que marcaram a trajetória do professor e jurista Goffredo da Silva Telles Junior, foi o mote de ato político em que se transformou a cerimônia religiosa de seu velório, ontem, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP, onde lecionou por 45 anos. Aos 94 anos, o jurista morreu na noite de sábado, de causas naturais, em sua casa, em São Paulo.

- Ele foi um professor, mas também um homem público. E, nesta época que estamos vivendo, homem público tem um significado de uma grandeza enorme - destacou o ex-ministro e ex-deputado federal Almino Affonso.

Na presença de parentes e ex-alunos ilustres - como os ex-ministros Celso Laffer, Miguel Reali Júnior e Márcio Thomaz Bastos -, o professor Sérgio Resende de Barros leu a saudação de Silva Telles aos calouros da faculdade do ano de 2006: "O direito é a disciplina da convivência humana, é a ordenação da disciplina dessa convivência".

Goffredo da Silva Telles Junior era chamado de "professor-símbolo" da Faculdade do Largo São Francisco. Foi lá que protagonizou muitas ações pela democracia no Brasil. A mais famosa aconteceu durante a ditadura militar, ao ler, sob as arcadas do Largo São Francisco, a "Carta aos Brasileiros", em agosto de 1977.

Foi soldado na Revolução Constitucionalista em 1932 e participou da elaboração das duas Constituições brasileiras. Advogava desde 1937, foi deputado federal Constituinte, em 1946, e deputado federal, de 1946 a 1950. Em 1957, foi nomeado secretário municipal de Educação de São Paulo. Ainda atuou como presidente da Associação Brasileira de Juristas Democratas e ajudou a fundar a Academia Paulista de Direito. Sempre defendeu a participação popular no processo de elaboração das leis.

Em 1988, em nome do chamado "Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte" dirigiu ao governo sua "Carta dos Brasileiros ao Presidente da República e ao Congresso Nacional" reivindicando um processo livre e soberano.

Silva Telles foi casado com a escritora Lígia Fagundes Telles, que esteve domingo no velório. Teve um filho com ela, Goffredo Neto, falecido há três anos. Separado da escritora, casou-se com a advogada Maria Eugênia Raposo da Silva Telles, colaboradora em várias obras suas. Eles tiveram uma filha, Olívia, de 37 anos, doutora em Direito pela Universidade Paris I. Além de Maria Eugênia e Olívia, o jurista deixa netos. Segundo a família, Silva Telles, de 94 anos, morreu de causas naturais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota lamentando a morte do autor da "Carta aos Brasileiros", e enviou o ministro José Antonio Dias Toffoli, advogado geral da União (AGU), para representá-lo no velório.

Depois de velado, o jurista foi sepultado na tarde de de domingo no Cemitério da Consolação.

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Morre aos 94 o advogado Goffredo da Silva Telles

Professor emérito da USP é autor da "Carta aos Brasileiros", marco contra a ditadura Goffredo alternou vida acadêmica com política: foi deputado constituinte em 1946 e secretário do prefeito Adhemar de Barros Goffredo da Silva Telles Júnior lê sua "Carta aos Brasileiros", pela restauração do Estado de Direito.

Foi enterrado ontem, em São Paulo, o corpo do advogado Goffredo da Silva Telles Júnior. Autor da "Carta aos Brasileiros" -marco da luta pela redemocratização do país-, professor Goffredo morreu na noite de sábado, aos 94 anos, de causas naturais.

Seu corpo foi velado no salão nobre da Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, palco da resistência contra a ditadura. Foi sob as arcadas da Academia de Direito que Goffredo leu, em agosto de 1977, a carta em defesa do Estado de Direito no Brasil.

Além da viúva, Maria Eugênia, e da filha, Olívia, amigos e ex-alunos homenagearam Goffredo, professor da faculdade de 1941 a 1985.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou, em nota, a sua morte. "Lecionou na Faculdade de Direito, conquistando a admiração de milhares de alunos, dando lições não apenas de direito, mas também de humanismo, generosidade e fé."

Representante de Lula no velório, o advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, apontou o professor como "símbolo da USP e da luta pelos valores republicanos".

Alunos de Goffredo, os ministros Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), e Flávio da Cunha Bierrenbach, do STM (Superior Tribunal Militar), e os ex-ministros Celso Lafer e Márcio Thomaz Bastos compareceram ao enterro. ""O político é um servidor público. Ele deve servir ao público e não se servir do público". Nunca me esqueço dessa expressão dele", lembrou Lewandowski.

O vice-governador do Estado, Alberto Goldman, o secretário de Justiça, Luiz Antonio Marrey Filho, e o ex-ministro Miguel Reale Júnior assistiram ao velório, marcado pelo canto de trovas acadêmicas.

Presente ao local, Almino Affonso, ex-ministro de João Goulart, afirma que a conclamação "Estado de Direito, já" -expressa na carta- inspirou o movimento pelas Diretas Já.

Subscrita por mais de cem juristas, o documento manifestava a fidelidade aos "princípios basilares da democracia". "Queremos dizer, sobretudo aos moços, que nós aqui estamos e aqui permanecemos, decididos, como sempre, a lutar pelos direitos humanos, contra a opressão de todas as ditaduras", pregava.

Goffredo alternou a vida acadêmica com atividade política. Entusiasta da campanha constitucionalista de São Paulo, de julho de 1932, foi deputado constituinte em 1946 e secretário municipal de Cultura.

Durante o velório, o professor Sérgio Resende de Barros leu outro manifesto de autoria de Goffredo, desta vez, uma saudação aos calouros da turma de 2007. Nela, Goffredo -que foi casado com a escritora Lygia Fagundes Telles- recomenda que os advogados resistam à tentação da corrupção.

"Não é de estranhar que, em épocas corruptas, de "mensalões", "sanguessugas" etc., os setores normais da população vivam a clamar por "ética na política", redigiu ele.

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Professor Goffredo

CELSO LAFER é ex-ministro das Relações Exteriores do governo FHC

O professor Goffredo, que acaba de nos deixar, foi ontem velado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que, para ele, representou, como disse no seu livro "A Folha Dobrada", a sede mobilizadora do perfazer da sua vida. Nada mais pertinente que ele tenha sido velado nas Arcadas, pois a faculdade foi a sua alma mater e por ela ele velou. Velou pelas suas tradições, velou pelo sentido histórico do seu papel libertário na vida brasileira, velou pela formação de incontáveis gerações de alunos que seguiram os seus cursos, durante 45 anos de magistério.

O professor Goffredo foi o professor de Introdução ao Direito, mas, mais do que um grande professor desta matéria, foi o responsável pela iniciação à beleza do direito. Destacava o sentido do direito como a disciplina da convivência humana animada pela liberdade e pela justiça, que são os valores que explicam o que é o direito, ou seja, o certo. Por isso dizia que o direito, o bom direito, como o amor, brota no coração dos homens.

Daí um amor mundi, que explica a sua devoção aos direitos humanos e o seu amor a um Brasil democraticamente regido pelo Estado de Direito, que é a lição profunda da sua "Carta aos Brasileiros" -lida no pátio da faculdade em 11 de agosto de 1977, no sesquicentenário da fundação dos cursos jurídicos em nosso país e que foi um marco histórico e político da redemocratização brasileira.

O professor Goffredo tinha o gosto e o dom da palavra associados ao rigor do pensamento e à clareza da exposição. As suas aulas tinham a beleza da obra de arte, pois combinavam uma eloquência desataviada provida do sal da emoção. Eram proferidas por um ser humano de rara elegância e perfeita civilidade. Tinham o lastro da exemplaridade de sua constante preocupação com a conduta ética. São estas dimensões que também foram a marca identificadora da sua presença e da firmeza das suas posições como intelectual público no espaço público da palavra e da ação em nosso país.

O professor Goffredo foi o paraninfo da minha turma na faculdade, a turma que se formou no final do turbulento ano de 1964. Assistimos, como seus alunos, à grande oração que proferiu em homenagem à memória de Spencer Vampré, o seu antecessor na disciplina de Introdução. Nesta oração, disse que Vampré se dedicou a plantar rosas no pátio de pedra da faculdade. Foi o que igualmente fez com amor, devoção e sabedoria o professor Goffredo.

Daí a sua aura e por isso ele é o mais emérito dos professores eméritos das nossas Arcadas.

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REPERCUSSÃO

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, presidente da República:
"Foi um dos mais destacados combatentes pela democracia e pelo Estado de Direito da história do Brasil. Lecionou na Faculdade de Direito, conquistando a admiração de milhares de alunos, dando lições não apenas de direito, mas também de humanismo, generosidade e fé"

TARSO GENRO, ministro da Justiça:
"Ele é a síntese do pensamento e da dignidade democrática do país. É um exemplo para todos os brasileiros"

RICARDO LEWANDOWSKI, ministro do STF:
"O político é um servidor público. Ele deve servir ao público e não se servir do público."

Nunca me esqueço dessa expressão dele. Ele dedicou toda a sua vida para que nós vivêssemos num país mais justo"


JOSÉ ANTONIO TOFFOLI, advogado-geral da União:
"Foi um exemplo para toda a sociedade brasileira dos principais valores que temos. São valores republicanos, de liberdade, de democracia"

CEZAR BRITTO, presidente do Conselho Federal da OAB:
"Sua morte enluta não apenas a advocacia, mas a cidadania brasileira. Em 1977, divulgou a célebre "Carta aos Brasileiros". Encarnou a consciência crítica do Brasil"

MÁRCIO THOMAZ BASTOS, ex-ministro da Justiça:
"Fui aluno dele. Fiquei seu amigo e sempre fui seu admirador. Ele foi uma referência pelo movimento contra a ditadura"

ALBERTO GOLDMAN, vice-governador de São Paulo:
"Um figura que marcou não só o ensino do direito, mas marcou fortemente a atividade política a favor da democracia desde o golpe de 64"

GILBERTO KASSAB, prefeito de São Paulo:
"O que sempre admiramos nele, além da coerência, foi a intensidade de sua batalha pelo Estado de Direito e pelo fortalecimento da democracia"

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  • Folha de S.Paulo, 29 de junho de 2009 - Leitor

Silva Telles Júnior

"A morte de Goffredo da Silva Telles Júnior, jurista e ex-professor de direito da USP, entristece a todos nós e deixa o Brasil mais órfão, exatamente no momento em que o país vive uma grave crise de valores éticos e morais. Autor da famosa "Carta aos Brasileiros", documento em defesa do processo de abertura política em pleno regime autoritário, o professor Goffredo é um verdadeiro exemplo de coragem e humildade enquanto cidadão e homem de convicções democráticas inabaláveis. Que a sua trajetória de vida possa servir de referência a todos aqueles que hoje atuam no Executivo, no Legislativo e, principalmente, no Judiciário brasileiro."

GERALDO TADEU SANTOS ALMEIDA (Itapeva, SP)

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  • O Estado de S.Paulo, 29 de junho de 2009

Morre Goffredo da Silva Telles

Jurista é autor da célebre Carta aos Brasileiros, lida em 1977 no Largo do S. Francisco contra o governo militar

Morreu anteontem em São Paulo, aos 94 anos de idade, o jurista Goffredo da Silva Telles Júnior, autor da Carta aos Brasileiros - documento decisivo no processo de abertura política no Brasil durante o regime militar. Um dos mais importantes juristas brasileiros, Goffredo morreu em casa, de causas naturais, por volta das 19 horas do sábado. O corpo foi enterrado no final da tarde de ontem no Cemitério da Consolação.

Nascido em São Paulo, em 16 de maio de 1915, Goffredo dedicou sua vida à luta incansável pelo Estado de Direito, pelos direitos humanos e pelas liberdades democráticas.

Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), estudou e lecionou por quase 45 anos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Em 1985 foi aposentado compulsoriamente, ao atingir 70 anos, mas continuou a atuar revisitando suas obras.

Goffredo produziu extensa obra de ensino do direito. Entre elas A Criação do Direito, Ética - Do Mundo da Célula ao Mundo dos Valores e Direito Quântico - Ensaio Sobre o Fundamento da Ordem Jurídica.

Em 1977, no dia 8 de agosto, o País estava no 13º ano de ditadura militar. A data entrou para história com a Carta aos Brasileiros, lida por Goffredo no pátio da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. O documento se tornou marco histórico do processo de redemocratização do Brasil e sua leitura foi acompanhada por uma multidão de estudantes, intelectuais e autoridades.

Na carta, o jurista criticava o regime militar e fazia uma defesa veemente dos princípios da democracia.

Em duas obras publicadas anteriormente (Lineamentos de uma Constituição Realista, 1959, e Lineamentos de uma Democracia Autêntica, 1963), Goffredo defendeu a participação popular na elaboração das leis e mostrou a necessidade da participação dos setores organizados no processo legislativo.

Goffredo foi também deputado federal constituinte, em 1946, e deputado federal entre 1946 e 1950. Foi também secretário da Educação e Cultura da Prefeitura de São Paulo, no ano de 1957.

PESAR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em nota, que a morte de Goffredo lhe causou profundo pesar. De acordo com Lula, o professor foi um dos "mais destacados combatentes pela democracia e pelo Estado de Direito da história do Brasil". Lula lembrou ainda que, em 1932, com apenas 17 anos de idade, Goffredo alistou-se como soldado na Revolução Constitucionalista.

Lula afirmou que durante os anos em que lecionou na USP "conquistou a admiração de milhares de alunos e discípulos, dando lições não apenas de direito, mas também de humanismo, generosidade e fé na luta por um mundo mais justo e fraterno."

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também divulgou nota em que considera que a morte de Goffredo enluta não apenas a advocacia, mas a cidadania brasileira.

Na nota, o presidente da OAB, Cezar Britto, diz que Goffredo foi um cidadão no sentido pleno da palavra. "Como poucos, soube colocar a serviço do bem comum os seus conhecimentos, formando gerações de profissionais do direito. Trabalhador exemplar, exerceu seu ofício mesmo quando já fazia jus ao ócio com dignidade da aposentadoria."

Ainda conforme a nota da OAB, foram anos de dedicação ao ensino, pontuados por vigilante atuação na vida pública, quando as circunstâncias o exigiram.

A OAB diz que a Carta aos Brasileiros foi um dos momentos altos da resistência democrática, que deflagrou a adesão de setores da classe média e da intelectualidade ao restabelecimento do Estado Democrático de Direito. "(Goffredo) encarnou, naquele momento histórico, a consciência crítica do Brasil." "A OAB lamenta a sua perda e vê em sua biografia um exemplo a ser seguido."

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