Migalhas Quentes

Baú migalheiro - 90 anos do Jornal Commercio de Pernambuco

3/4/2009


Baú migalheiro

Há 90 anos, no dia 3 de abril de 1919, circulou - com 12 páginas, composto em linotipo e trazendo, na primeira página, a foto de Epitácio Pessoa – a primeira edição do Jornal do Commercio de Pernambuco.

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Jornal do Commercio de Pernambuco completa 90 anos

O Jornal do Commercio, fundado por João Pessoa de Queiroz, surgiu numa época em que o Recife era considerada a cidade mais importante do Nordeste. O primeiro exemplar circulou no dia 3 de abril de 1919, com 12 páginas, composto em linotipo e trazendo uma única foto na primeira página: Epitácio Pessoa, candidato a presidente da República.

A partir do segundo número, o JC já demonstrava que iria possuir o arrojo que até hoje o caracteriza. Ampliou o noticiário, divulgando também informações da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Pouco tempo depois, anunciava a aquisição de moderna rotativa. E mostrou que seria um jornal aberto às diversas tendências de opinião, como bem demonstra o acatamento em suas páginas de um tema polêmico como foi a chamada questão social e católica, defendida pelo professor Joaquim Pimenta e rebatida por Barreto Campello, no Jornal Pequeno.

Até o final dos anos 20, sob o lema de "órgão independente e noticioso", o Jornal continuou tendo uma presença forte na comunidade pernambucana. E só a partir daí sua história começou a viver os percalços comuns de um período em que as paixões políticas falavam mais alto do que a razão. Com efeito, a Revolução de 1930 não perdoou um jornal que apoiava abertamente a candidatura de Epitácio Pessoa e defendia as chamadas "classes produtoras" com militância político-partidária. Essa opção do jornal fez com que a turba mais radical da chamada Aliança Liberal invadisse, empastelasse e destruísse todos os seus equipamentos, levando o seu futuro proprietário, F. Pessoa de Queiroz, a deixar o país e exilar-se na França, após a vitória dos seguidores de Getúlio Vargas. Nada restou da violência: máquinas e equipamentos foram quebrados, arquivos destruídos, papéis rasgados, máquinas de escrever atiradas pela janela e os tambores da impressora danificados com ácido.

Quatro anos depois, Francisco Pessoa de Queiroz, retornando de Paris, adquiriu o título do JC com ajuda de amigos portugueses, os irmãos João e José. A própria família Pessoa de Queiroz chegou a duvidar da capacidade empresarial de Francisco e também não acreditava muito que um jornal ressurgido das cinzas pudesse ter futuro enquanto empresa.

E assim, enfrentando desafios, o novo JC foi aos poucos se erguendo. Reestruturou-se uma nova redação, ao mesmo tempo em que eram feitos investimentos na área industrial. Em 30 de setembro de 1934, o jornal voltava a circular. Com seu espírito pioneiro, F. Pessoa de Queiroz continuou modernizando o jornal, acompanhando de perto o que acontecia na imprensa do mundo. Cobriu o desenrolar da Segunda Grande Guerra com amplo e farto noticiário das agências internacionais - e fez uma edição memorável anunciando a vitória dos aliados.

Em 1958, O JC promoveu mais uma mudança gráfica que foi considerada revolucionária para a época. Ao mesmo tempo, passava a ser rodado numa impressora M.A.M. importada da Alemanha, considerada uma das melhores do mundo e a primeira do Nordeste a permitir a impressão de fotos coloridas. O jornal circulava com 48 páginas e detinha a liderança estadual e regional, como o de maior circulação no Nordeste.

PIONEIRISMO - Nos anos 60, o JC mais uma vez antecipou-se no seu pioneirismo, seguindo a moderna escola do jornalismo americano, - lead, sublead, claros na paginação, fotos abertas, etc - cujo padrão nacional era o Jornal do Brasil, que sob o comando de Alberto Dinnes viveu sua fase áurea. O JC passou a ser o jornal mais moderno do Norte\Nordeste, circulando com duas edições, uma local e outra regional.

Outra criação de F. Pessoa de Queiroz, que era como ele gostava de ser chamado, foi o vespertino Diário da Noite, que começou a circular em 1946. O DN era um jornal rebelde, irreverente, brincalhão e de grande apelo de venda nas camadas mais populares.

Nos anos 70, por injunções várias, não apenas do JC, mas todo o Sistema de Comunicação criado por F. Pessoa de Queiroz, compreendendo na época cinco emissoras de rádio e uma televisão, começou a viver um processo de crise que quase representa o seu desaparecimento. A empresa sofreu duas intervenções judiciais, foi negociada duas vezes a proprietários diferentes sem que conseguisse reconquistar a liderança.

Em início de 1987, o processo de lenta agonia levou os funcionários da empresa a entrarem em greve geral, tirando o jornal de circulação por mais de 30 dias. Foi neste clima que um grupo de empresários, entre os quais o atual presidente do Sistema, João Carlos Paes Mendonça, também presidente do Grupo Bompreço, pensou em adquirir o controle da empresa, controle esse que se concentrou na mão de um único dono, o próprio João Carlos. O jornal entrava então em uma nova e decisiva fase. A empresa foi aos poucos sendo saneada, os investimentos priorizaram a área industrial e a montagem de uma nova redação, com a contratação de profissionais experientes e novos talentos recém-saídos das universidades. Aos poucos, o jornal readquiriu sua credibilidade, primeiro passo para que reconquistasse a liderança de circulação que hoje ocupa, e que o coloca entre os 16 maiores jornais brasileiros.


A primeira edição

As primeiras 12 páginas do Jornal do Commercio falavam de quase tudo que interessava aos pouco mais de 230 mil recifenses, em 3 de abril de 1919. Na primeira página, a responsabilidade pelo que estava chegando à praça: proprietário – João Pessoa de Queiroz; diretor – dr. Salomão Figueira; redator-chefe – dr. Odilon Nestor. O editorial “Nosso programa” explicava o propósito do jornal: trabalhar pelo Norte. “E visamos também ao saneamento do nosso meio político dos males que o assoberbam no momento com as consequências mais funestas para o Norte e Pernambuco em particular”. Nada mais atual, com uma profissão de fé: “Por muito que clame o ceticismo que tudo devasta e nada constrói, cada vez mais nos convencemos de que a nossa pátria é a mais bela do mundo. E, como tal, estaremos sempre prontos a bem amá-la e servi-la”.

Ao lado do editorial, no centro da página, o único clichê, pequeno, discreto, do senador Epitácio Pessoa, candidato a presidente da República com apoio do jornal, por vários motivos: se não fosse bastante ser da família, tio dos Pessoa de Queiroz, vindo da mesma raiz, Umbuzeiro, na Paraíba, carregava o título de bacharel pela Faculdade de Direito do Recife, onde se destacou como aluno e professor, fez-se jurista respeitado, membro da primeira Assembleia Constituinte da República, ministro da Justiça e do Supremo Tribunal Federal. Não tinha por que, àquela altura e com tantos títulos, temer enfrentar Rui Barbosa para presidente da República. E o JC dava conta disso no noticiário e na opinião.

Na mesma coluna em que tratava da candidatura de Epitácio Pessoa, o jornal tratou dos “Sucessos de Garanhuns”, com o resultado do julgamento do dr. Abreu e Lima, juiz de direito acusado como um dos responsáveis pela hecatombe de Garanhuns, em janeiro de 1917. Na defesa, os advogados Adolfo Cirne e Mário Castro. Na acusação, Barreto Campelo e Brito Alves. O Superior Tribunal de Justiça absolveu o réu por unanimidade, diz a pequena nota da primeira edição do Jornal do Commercio.

A primeira página trazia, ainda, notícias da Paraíba, do Senado e da Câmara de Pernambuco, comentário sobre o bolchevismo, e o Jornal da Praça, com notícias do câmbio, Bolsa Comercial de Pernambuco, valores das moedas e cotação de açúcar, algodão, café, milho, farinha, feijão, álcool e aguardente.

João Carlos Paes Mendonça*

"Não é fácil, num país como o nosso, um veículo impresso chegar aos 90 anos de vida. Aqui mesmo, em Pernambuco, não foram poucos os jornais que desapareceram ao longo desses anos, o mesmo acontecendo em nível nacional, com a morte de jornais famosos, como o Diário Carioca, o Correio da Manhã e a Última Hora, no Rio de Janeiro, que tinham leitores em todos os Estados da Federação. Portanto, a longevidade do Jornal do Commercio não orgulha apenas seus controladores – mas deve ser motivo de júbilo para o próprio povo pernambucano. Todos conhecem bem a história do jornal fundado pelo empresário João Pessoa de Queiroz, um pioneiro e visionário que sempre buscou o que havia de mais moderno no mercado para suas empresas. Seu irmão e sucessor, F. Pessoa de Queiroz, seguiu o mesmo caminho, como quando instalou a sua cadeia de emissoras de rádio e colocou no ar o sinal da televisão. Sabemos também que condições adversas acabaram por jogar as empresas no redemoinho de uma grande crise, que chegou a ameaçar a sua sobrevivência.

Foi em 1987 que assumimos o controle das empresas fundadas por dr. Pessoa, que é como todos o tratavam. Assumimos num momento de mais uma crise, quando o jornal, devido a uma greve de funcionários, deixara de circular – rádios e televisão se encontravam sucateadas, com audiência que mal passava de um traço. Desde então, num trabalho permanente, exaustivo e algumas vezes incompreendido os veículos foram sendo recuperados, retomando a posição de destaque que sempre ocuparam no mercado de comunicação do Estado. Hoje, colhem-se os frutos dessa persistência. Aos 90 anos, o Jornal de Commercio é líder absoluto de circulação no Estado. É um veículo que não se coloca a serviço de grupos ou facções – mas que mantém compromisso sereno e permanente com a sociedade, defendendo as causas mais justas da democracia, da livre-iniciativa, do empreendedorismo – numa permanente identidade com as coisas de Pernambuco. O sistema de rádio, ao qual foram agregadas mais duas emissoras FM (uma na capital e outra em Petrolina), registra altíssimos índices de audiência, com liderança plena na difusão AM. Nossa TV também tem picos de audiência em vários programas locais. Portanto, os 90 anos do Jornal do Commercio, volto a dizer, devem ser motivo de orgulho dos pernambucanos, a quem todo o sistema procura servir."

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* João Carlos Paes Mendonça é presidente do Sistema Jornal do Commercio de Pernambuco


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Fonte : Jornal do Commercio

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