Juízo
Filme surpreende ao mostrar rotina do Judiciário
O debate que ocorreu após a pré-estréia do filme "Juízo – o maior exige do menor", que conta com apoio institucional da OAB/SP, na última segunda-feira, no Espaço Unibanco de Cinema, contou com participação entusiasmada da platéia e só terminou próximo da meia noite. Com mediação do presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, reuniu a diretora do filme, a cineasta brasiliense Maria Augusta Ramos; a juíza da Direito do Rio de Janeiro, cujas audiências foram retratadas no filme, Luciana Fiala de Siqueira Carvalho; o juiz de Direito de São Paulo, Sérgio Mazina e o presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB/SP, Ricardo Cabezón. Pela parceria, todo advogado que apresentar a Carteira da Ordem receberá um ingresso gratuito.
O realismo do filme suscitou uma grande polêmica em torno da falta de transparência do Judiciário e da coragem dos operadores do Direito que expuseram publicamente seu trabalho. Mazina colocou que o Judiciário tem realmente dificuldades em se expor à sociedade e o presidente D'Urso ressaltou sua faceta conservadora, ainda fechada, que precisa se tornar mais transparente para a sociedade. Um juiz do ABC questionou o direito da juíza "dar um pito" nos jovens infratores, atropelando seu direito ao silêncio durante as audiências e o papel da OAB/SP. Fiala ponderou que o juiz não tem formação adequada para lidar com a situação dos jovens infratores. "Nunca conversei com psicólogos, assistentes sociais que pudesse dizer como agir, a gente acaba agindo por instinto e procura deixar uma mensagem, falando até gíria, para poder entrar no mundo deles, para que eles pudessem se abrir comigo", comentou. Sobre o papel da OAB/SP, D'Urso lembrou as lutas da Ordem em defesa dos direitos das crianças e adolescentes e pelo cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, realizando denúncias e buscando o cumprimento do ECA.
Despreparo
"O filme mostra as dificuldades, mas também o despreparo que temos para lidar com essa situação. Concordo que não temos uma cartilha, nos do sistema judiciário, advogado, juizes, promotores, até os funcionários no sistema prisional, todos nós não temos uma cartilha para lidar com a população desse país", afirmou Mazina. Para ele, os juizes chamados a lidar com estes adolescentes, com estas famílias, com estas testemunhas e não temos preparo para isso. "O filme é exuberante para nos mostrar isso. A gente lida com os adolescentes por meio de uma linguagem técnica e estamos longe de efetivamente conversar com eles. Urgência de outro tipo de Estado e sistema de justiça no país, que possa conversar com as pessoas. O sistema de justiça precisa entender as coisas de maneira mais ampla, os processos históricos e sociais, que culminam na tragédia desses meninos. Estamos vivendo um genocídio da adolescência mais carente", advertiu.
O presidente da OAB/SP destacou que o filme por sua sensibilidade consegue atordoar os operadores do direito com a realidade que expõe, "mas há uma parte significativa da população que está muito distante disto e a partir desse filme, custo a acreditar que ainda possa defender teses como do rebaixamento da maioridade penal para 16, 14 anos. O que isto traria de contribuição efetiva para melhorar esta realidade ? Nada. Esta é uma posição oficial da OAB/SP, extraída de uma decisão do Conselho Seccional, no sentido de rejeitar as propostas que visam pura e simplesmente o rebaixamento da maioridade penal", comentou D'Urso.
Bem e Mal
Para Cabezón, o filme mostra a desesperança dos jovens, de falta de perspectiva de amanhã para o jovem que está hoje cumprindo uma medida sócio-educativa. "A Medida valoriza o efeito e não a causa. Um relato que leva a platéia a refletir, a juíza fala que está lá para fazer o que é direito, mas o órgão que vai cumprir a internação não reúne condições. A juíza faz a sua parte. Sentimos esta angústia, pois é a realidade que nos temos. O ECA faz 18 anos e procura socializar", ponderou. A platéia chegou a perguntar se depois do filme, o Instituto Padre Severino, onde os adolescentes não possuem educação, lazer, condições dignas, havia sido interditado. A resposta foi negativa. O debate também ressaltou algumas diferenças entre as Varas da Infância e Juventude no Rio de Janeiro e São Paulo, sendo as últimas retratadas como mais progressistas.
O documentário de Maria Augusta Ramos – cineasta especializada em tratar a relação do cidadão com as instituições – tem as credencias de importantes festivais e mostras de cinema: melhor filme do Dok Leipzig – Festival Internacional de Documentário e Animação de Leipzig; Seleção Oficial da 31ª Mostra de Cinema de São Paulo; do Viennale-2007 (Festival Internacional de Cinema de Viena); do Festival de Rotterdam (Holanda); do Festival Cinema Du Réel (França), dos Festivais Internacionais de Filme dos Direitos Humanos de Londres e de Nova York; e do Festival Internacional de Cinema Jeonju (Coréia do Sul); e do Festival Internacional de Cinema de Locarno (Suíça) na Mostra Cineasta do Presente, além de hors-concours da Festival de Cinema do Rio (FestRio-2007).
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