Migalhas Quentes

TST amplia dano moral em ricochete a terceiros com vínculo afetivo

Caso de Ketre Menezes e sua busca por indenização destaca avanços legais que reconhecem a complexidade das novas configurações familiares.

3/11/2024

Em Brumadinho, Minas Gerais, um casal de namorados, juntos desde a adolescência, planejava o casamento após 15 anos de relacionamento. Em janeiro de 2019, deram início aos preparativos na Igreja Matriz da cidade. No entanto, o sonho foi interrompido pela tragédia do Córrego do Feijão, em 26 de janeiro do mesmo ano. Djener Paulo Las Casas Melo, o noivo, operador de máquinas, estava entre as 272 vítimas.

Ketre Menezes de Paula, a noiva, viu-se obrigada a comprovar na Justiça o seu direito à indenização pela morte do noivo, o chamado “dano moral em ricochete”. Para isso, reuniu cartas de amor, fotos e a declaração da paróquia. A jurisprudência trabalhista, geralmente, presume esse dano para o núcleo familiar básico (cônjuge, filhos e pais). Recentemente, o TST estendeu o reconhecimento aos irmãos. Em outros casos, como o de Ketre, a comprovação do laço afetivo é essencial.

A microempresária buscou a indenização por afeto, enfrentando a “ilegitimidade” frequentemente alegada em ações autônomas de dano em ricochete. “Durante o processo, eles duvidaram da minha história com ele (o noivo) o tempo inteiro”, declarou Ketre, que se sentiu acusada de oportunismo. A contestação da empresa se baseava na possível banalização do dano moral caso a reparação fosse estendida a todos que sofreram com a perda.

Para o advogado de Ketre, Wilson Paz, a alegação de banalização em tragédias como a de Brumadinho afronta a dignidade da Justiça. Ele defende a punição exemplar para evitar a repetição de tais eventos. Em abril de 2022, o TST reconheceu o direito de Ketre à indenização. A sentença foi cumprida meses depois.

Cinco anos e oito meses após a tragédia, Ketre conta que a cidade ainda vive sob a sombra da injustiça e da saudade. “Cada passo traz uma lembrança, cada conquista traz um desafio: o desafio de ter que lidar com o passado, viver o presente e almejar o futuro com justiça feita”.

Justiça amplia dano moral em ricochete a terceiros com vínculo afetivo.(Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress)

A compreensão dos novos arranjos familiares é outro ponto sensível nesses casos. Em 2011, o STF reconheceu a união homoafetiva como núcleo familiar. Nos casos de dano em ricochete, os julgadores devem considerar não apenas os laços biológicos e matrimoniais, mas também o princípio da afetividade.

Em outro processo, o companheiro de uma vítima de Brumadinho, que comprovou união estável de mais de três anos, também teve seu pedido de indenização por dano moral em ricochete contestado pela empresa. As provas, contudo, demonstraram o forte vínculo afetivo, levando ao reconhecimento do direito à reparação.

O ministro do TST, Agra Belmonte, esclarece que o dano é extrapatrimonial, relacionado ao sentimento, e pode abranger qualquer pessoa com “afinidade próxima”. “O critério é afinidade”, afirma.

Segundo a Vale, as indenizações trabalhistas por danos morais e materiais em Brumadinho ultrapassam R$ 1,166 bilhão, beneficiando mais de 2,5 mil pessoas. Além disso, R$ 400 milhões foram depositados a título de dano moral coletivo, com destinação a ser definida por um Comitê Gestor. A empresa não informou o valor específico destinado aos casos de dano moral em ricochete.

O Tribunal omitiu o número do processo.

Com informações do TST.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

TST: Irmão de vítima em Brumadinho será indenizado sem provar vínculo

25/10/2024
Migalhas Quentes

TST: Espólio tem direito a indenização por morte em Brumadinho/MG

15/9/2024
Migalhas Quentes

TST: Vale pagará "dano-morte" a 131 famílias de vítimas de Brumadinho

21/6/2023

Notícias Mais Lidas

Leonardo Sica é eleito presidente da OAB/SP

21/11/2024

Justiça exige procuração com firma reconhecida em ação contra banco

21/11/2024

Ex-funcionária pode anexar fotos internas em processo trabalhista

21/11/2024

CNJ aprova teleperícia e laudo eletrônico para agilizar casos do INSS

20/11/2024

Câmara aprova projeto que limita penhora sobre bens de devedores

21/11/2024

Artigos Mais Lidos

A insegurança jurídica provocada pelo julgamento do Tema 1.079 - STJ

22/11/2024

O SCR - Sistema de Informações de Crédito e a negativação: Diferenciações fundamentais e repercussões no âmbito judicial

20/11/2024

O fim da jornada 6x1 é uma questão de saúde

21/11/2024

ITBI - Divórcio - Não incidência em partilha não onerosa - TJ/SP e PLP 06/23

22/11/2024

Falta grave na exclusão de sócios de sociedade limitada na jurisprudência do TJ/SP

20/11/2024