Migalhas Quentes

Aury Lopes critica decisão de Toffoli no caso Boate Kiss: “muitos problemas”

Ontem, o ministro validou o Júri que condenou quatro responsáveis pelo incêndio ocorrido na Boate Kiss, em 2013, determinando a prisão dos réus.

3/9/2024

Nesta segunda-feira, 2, o ministro Dias Toffoli, do STF, proferiu uma decisão monocrática no caso Boate Kiss, determinando a validação do Júri e a execução antecipada da pena dos réus, afastando as nulidades reconhecidas anteriormente pelo STJ e pelo TJ/RS.

Agora, voltam a valer as condenações dos ex-sócios da boate Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, além do vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e do produtor musical Luciano Bonilha.

Essa decisão gerou críticas por parte do advogado e professor Aury Lopes Jr., que analisou os desdobramentos do caso e as implicações desse julgado.

Assista:

Ver esta publicação no Instagram

Uma publicação partilhada por Aury Lopes Jr (@aurylopesjr)

Aury Lopes Jr. destacou que o caso Boate Kiss apresenta um histórico jurídico complexo. Inicialmente, após a condenação pelo Júri, a defesa dos réus apelou, e o TJ/RS, por uma votação de 2 a 1, anulou o Júri por conta de diversas irregularidades. O Ministério Público recorreu dessa anulação ao STJ, que por uma maioria de 4 a 1 manteve a decisão do TJ, reforçando a nulidade do Júri. O caso, então, seguiu para o STF através de um recurso extraordinário.

A decisão de Toffoli, que surpreendeu Aury Lopes Jr., foi tomada de forma monocrática, o que é incomum em situações de alta complexidade. Em sua fala, Aury ressalta que a questão central envolve a discussão de nulidades, que, segundo ele, são frequentemente tratadas como ofensas reflexas à Constituição, algo que limitaria o conhecimento de um recurso extraordinário.

Ele critica o fato de o ministro ter decidido sozinho sobre um tema tão delicado, sem levar a questão ao órgão colegiado, o que, em sua opinião, poderia evitar futuros agravos e proporcionar maior segurança jurídica.

Outro ponto levantado por Aury Lopes Jr. é a execução antecipada da pena decretada por Toffoli. Segundo o advogado, essa medida é inconstitucional e desnecessária, considerando que os réus estavam em liberdade, sempre se apresentaram à Justiça e não havia qualquer indicativo de que representavam risco que justificasse a prisão.

Aury reforça que, apesar da gravidade dos fatos envolvidos no caso, a antecipação da execução da pena, com base unicamente na pena superior a 15 anos, fere princípios constitucionais.

A fala de Aury também esclarece que o TJ, ao anular o Júri, havia se concentrado apenas nas preliminares do caso e não chegou a julgar o mérito do recurso, que incluía questões sobre a diminuição de pena e a possibilidade de um novo Júri com base no artigo 593, inciso 3, alínea D, do CPP. Essa alínea trata da possibilidade de novo julgamento quando a decisão do Júri é manifestamente contrária à prova dos autos.

Diante da decisão de Toffoli, o TJ terá que continuar o julgamento da apelação, e há a possibilidade de que um novo Júri seja determinado, não por nulidade, mas por conta dessa alínea específica.

Caso o TJ determine um novo Júri, é provável que novos recursos sejam apresentados tanto pelo Ministério Público quanto pela defesa, estendendo ainda mais a tramitação do caso. Aury Lopes Jr. destaca que, mesmo que a decisão de Toffoli seja confirmada pela turma do STF, ainda haverá espaço para recursos especiais e extraordinários, o que poderá prolongar o processo por um tempo considerável.

“Então, em suma, esse é um processo que já nasceu torto, um processo com muitos problemas. Infelizmente, é uma grande tragédia, e a Justiça ainda não conseguiu dar uma resposta adequada dentro de um prazo razoável.

Agora, com certeza, essa decisão do ministro Dias Toffoli não vai resolver o problema. Talvez até crie mais problemas. Talvez ele devesse ter levado isso para a turma, ter julgado no órgão colegiado. Não é caso de execução antecipada da pena, enfim.

Vamos esperar os próximos capítulos dessa novela, que é uma novela triste, uma tragédia por trás desse caso e uma tragédia para as vítimas, para as famílias das vítimas, mas também para os réus, porque eles também têm direito a um julgamento no devido processo e no prazo razoável. Vamos esperar para ver o que vai acontecer."

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Toffoli mantém Júri da Boate Kiss e determina prisão de condenados

2/9/2024
Migalhas Quentes

STJ admite recurso para que STF examine anulação do júri da Boate Kiss

20/3/2024
Migalhas Quentes

Toffoli suspende realização de novo Júri de réus da Boate Kiss

10/2/2024
Migalhas Quentes

STJ mantém anulação do Júri da Boate Kiss

5/9/2023
Migalhas Quentes

Boate Kiss: MPF defende que condenação de Júri seja reestabelecida

15/5/2023
Migalhas Quentes

Boate Kiss: Em caso de novo Júri, vítimas depõem de novo? Juiz explica

7/2/2023
Migalhas Quentes

Caso boate Kiss completa 10 anos com Júri anulado e réus soltos

26/1/2023
Migalhas Quentes

Julgamento da boate Kiss foi marcado por polêmicas; relembre

4/8/2022

Notícias Mais Lidas

Juíza compara preposto contratado a ator e declara confissão de empresa

18/11/2024

Escritórios demitem estudantes da PUC após ofensas a cotistas da USP

18/11/2024

PF prende envolvidos em plano para matar Lula, Alckmin e Moraes

19/11/2024

Moraes torna pública decisão contra militares que tramaram sua morte

19/11/2024

TRT-15 mantém condenação aos Correios por burnout de advogado

18/11/2024

Artigos Mais Lidos

ITBI na integralização de bens imóveis e sua importância para o planejamento patrimonial

19/11/2024

Cláusulas restritivas nas doações de imóveis

19/11/2024

Quais cuidados devo observar ao comprar um negócio?

19/11/2024

Estabilidade dos servidores públicos: O que é e vai ou não acabar?

19/11/2024

A relativização do princípio da legalidade tributária na temática da sub-rogação no Funrural – ADIn 4395

19/11/2024