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“Gravidez não é doença": OAB pede afastamento de desembargador no CNJ

Na mesma sessão em que ofendeu uma advogada gestante, o magistrado impediu um advogado de sustentar mencionando o grupo islamista palestino Hamas.

14/10/2023

O Conselho Federal da OAB apresentou reclamação disciplinar no CNJ contra o desembargador Georgenor de Sousa Franco Filho, do TRT da 8ª região, que disse que "gravidez não é doença" ao negar o pedido de adiamento de audiência de uma advogada. Na mesma sessão, o magistrado também impediu um advogado de sustentar mencionando o grupo islamista palestino Hamas. 

A Ordem pede o afastamento cautelar do magistrado de seu cargo, uma vez que suas condutas violaram às prerrogativas da advocacia.

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No texto, a OAB ressaltou que as atitudes do desembargador, concernentes à maneira abrupta de calar o advogado que estava na Tribuna, bem como ao comentário ofensivo à democracia ao citar um cenário de guerra, “acarretaram em descumprimento de seu dever de tratamento urbano entre as partes e de cumprir com serenidade os seus atos de ofício”.

Segundo a Ordem, as prerrogativas dos advogados têm natureza protetiva, conferindo respaldo aos profissionais de direitos e garantias pré-determinadas. "Assim, em grande parte, é a prerrogativa do advogado parte integrante para a formação do devido processo legal, da ampla defesa e ao contraditório.”

Por fim, a OAB afirmou que, “a simples descrição dos fatos” demonstra que Georgenor praticou condutas que implicam em:

Assim, pediu o afastamento cautelar do desembargador de seu cargo até a decisão final dos autos.

Leia a íntegra da petição.

Relembre

No caso da advogada gestante, inicialmente, a relatora, desembargadora Sulamir de Almeida, anunciou que atenderia ao pedido.

"Vai adiar o julgamento?", questionou o presidente do colegiado.

"Ela pediu sustentação oral", respondeu a magistrada.

Foi então que o desembargador afirmou que, "como dizia Magalhães Barata, que foi governador do Pará, gravidez não é doença".

"Não é doença, mas é um direito", redarguiu a desembargadora.

O presidente do colegiado destacou que a gestante não é parte, mas apenas advogada, e que poderia ser substituída por qualquer outro dos 10 mil advogados existentes em Belém. "Acho que todos têm as mesmas qualidades e qualificações que a doutora."

Ao final, os magistrados observaram que a decisão era favorável à parte defendida pela causídica e mantiveram o julgamento.

Em outro episódio, o magistrado pergunta a um advogado se ele quer se manifestar. Antes que o causídico pudesse responder, Georgenor de Sousa Franco Filho o interrompe e diz que "agora ele não vai se manifestar".

"Esse tema não cabe sustentação por que é tema decidido pelo STF."

O advogado, então, deixa a tribuna, momento em que o desembargador dispara: "democracia faz parte. Antes a democracia daqui do que a do Hamas, mas se quiser a gente adota a do Hamas também".

Outro momento polêmico aconteceu na terça-feira, 10. Um advogado que está com um problema de saúde solicitou a inversão de dois processos seus. Georgenor de Sousa Franco Filho afirma que nenhum colega iria criar óbice e questiona: "concordam, senhores advogados?"

Uma desembargadora da turma responde que "sim" e é interrompida pelo magistrado: "nós não somos advogados, doutora. A senhora já foi, mas não é mais".

Ao final, afirma que os advogados são todos "da mesma máfia".

Após o ocorrido, o corregedor Nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, determinou a abertura de reclamação disciplinar para apurar a conduta do magistrado não só pela postura com a advogada, mas também com suas colegas de trabalho.

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