O centenário da morte de Rui Barbosa, que faleceu em 1º de março de 1923, foi mote de sessão solene que aconteceu nesta quarta-feira no Senado, em homenagem ao jurista. Rui é considerado o patrono da Casa Legislativa e dos advogados. A iniciativa foi do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco.
A sessão marcou o lançamento das Migalhas de Rui Barbosa, um box com dois livros que reúnem mais de 1.500 aforismos do escritor. O primeiro livro conta com a abertura de Beto Simonetti, presidente da OAB Nacional; e o segundo, inédito, leva o prefácio de Rodrigo Pacheco.
No encontro, os membros da Mesa receberam um box com os dois exemplares.
Compuseram a Mesa o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a ministra Rosa Weber, presidente do STF, José Sarney, ex-presidente da República e representante da ABL, o senador Otto Alencar, nascido em Ruy Barbosa, na Bahia, o deputado Federal Otto Alencar Filho, e Beto Simonetti, presidente da OAB.
Com o plenário lotado, a sessão teve início com o hino nacional, e em seguida foi transmitido um vídeo em homenagem ao jurista. Ato contínuo, Rodrigo Pacheco discursou.
"Dono de personalidade marcante, Rui soube usar como poucos a tribuna do Senado Federal. (...) Ainda hoje, transcorridos cem anos do seu falecimento, Rui representa para o Brasil e o mundo a definição do que significa ser um homem público: o homem da confiança dos cidadãos."
Pacheco destacou que Rui deixou impressionante legado intelectual, e que foi profundamente dedicado à causa da educação, "que acreditava ser a chave para o desenvolvimento do país e a formação de cidadãos conscientes e críticos".
"Rui Barbosa foi um apaixonado pelo Brasil. Considerava que a pátria é a família ampliada."
Em seu discurso, Pacheco citou as invasões de 8 de janeiro às sedes dos Poderes da República. "Mas o busto [de Rui] se manteve firme, quase como um guardião da instância máxima da Casa Legislativa."
"Vivo fosse, nosso patrono certamente se postaria na linha de frente contra o ignóbil, perigoso e criminoso avanço das fake news, esse verdadeiro ovo da serpente dos movimentos antidemocráticos de nossa época."
Discursou, em seguida, a presidente do STF, ministra Rosa Weber. Ela também citou a depredação do prédio do STF no Dia da Infâmia, e que se deparou com o busto de Rui tombado, com o mármore quebrado. Hoje, lembra a ministra, no prédio restaurado, o busto voltou ao seu local de honra, mantido como cicatriz o dano no bronze, fruto da violência que há de ser recordada para que fatos de tal natureza não se repitam.
Falou, ainda, o ex-presidente José Sarney. "O que estamos fazendo é justamente comemorar a data do centenário da morte de um dos ídolos do nosso país."
"Rui Barbosa era um monumento da inteligência nacional. (...) Já disse que dos santos não se comemora a data de nascimento, se comemoram os seus feitos. (...) Comemorar cem anos de sua morte é comemorar cem anos de um santo brasileiro, santo político, santo da inteligência nacional e da glória do nosso país."
Beto Simonetti destacou que o homenageado é conhecido pela preocupação com as desigualdades sociais do Brasil. "Podemos defini-lo como um homem à frente de seu tempo. Vanguardista."
"Cabe a nós honrarmos o legado de Rui Barbosa. Viva Rui Barbosa, viva o Senado Federal."
Miguel Matos, editor-chefe do Migalhas, disse que Rui era pequenino na estatuta, mas um gigante quando assumia a tribuna. Ressaltou, ainda, que o jurista é eterno e continua entre nós.
Veja a íntegra da sessão:
Um pouco de história
Rui Barbosa de Oliveira nasceu em 5 de novembro de 1849, em Salvador/BA, e morreu no dia 1º de março de 1923, em Petrópolis/RJ. Ao longo de seus 73 anos de vida, inscreveu seu nome no rol dos intelectuais mais relevantes da história do país. Ele atuou como jurista, diplomata, político, tradutor e jornalista, tendo destaque em todas as áreas.
De seus 55 anos de vida pública, passou 32 no Senado, sempre representando o Estado da Bahia. Na história do Senado, foi o recordista com cinco mandatos, ao lado de José Sarney.
Ele foi um dos senadores que inauguraram o Senado da República, em 1890, e só o deixou em 1923, quando morreu.
Antes, no Império, havia sido deputado provincial e deputado geral. Em seus discursos, que costumavam demorar até quatro horas, era um ferrenho defensor da democracia. Ocupou a vice-presidência do Senado entre 1906 e 1909.