Prezado migalheiro, a seguir temos uma crônica que bem poderia se chamar "O poder da sentença judicial condenatória" ou "A responsabilidade social das autoridades e dos formadores de opinião". Ela não explica tudo, mas dá luzes. Vejamos.
Pergunta-se: o que leva uma vovozinha a invadir o STF?
Ninguém duvide, ela acredita, piamente, que está fazendo o certo; que está correta.
E como isso é possível?
O início de tudo é uma enorme fake news. Nasce com um juiz Federal que, tendo descoberto vários crimes, resolve usar a toga como trampolim político.
A mídia, inebriada com o magistrado que lhe fornecia farelos de notícia, infla o personagem, transformando-o em herói. Mas para que o salto político se completasse, era preciso um antagonista (com o perdão do trocadilho). Ei-lo na figura de Lula.
Criou-se o enredo, arvorou-se a competência e inventou-se a tipificação. Faltava apenas o golpe fatal: a prisão.
Um tribunal confirma a tese. Outro também. E Lula é apresentado como bandido. Torna-se, no principal objetivo, inelegível.
Os opositores e aqueles que, por recalque ou qualquer outro sentimento, não se conformavam com os resultados obtidos por um metalúrgico, aplaudiram.
Na sequência, diante do vácuo político, e o juiz ainda sem coragem para se lançar, é eleito Bolsonaro, nitidamente despreparado para o mister.
Comprovada a inaptidão do eleito, o juiz – agora já na política – ensaia um movimento golpista. Todavia, é pego no contrapé diante de gravações comprometedoras, desnudando a farsa judicial armada para a inexigibilidade do opositor.
Enquanto isso, o mandato presidencial vai caminhando agônico, com orçamento público esfacelado na mão dos congressistas.
O STF, até então inerte, coloca ordem na desordem, restaurando os direitos políticos daquele que foi, nos últimos anos, taxado de bandido. Ou, na linguagem do leitor, "descondena" o ex-presidente.
Mas voltemos à esquecida vovozinha da manifestação.
Ela ainda está acreditando na história da TV, de que se tratava de um bandido. Naquela novela inventada pelo juiz, engrossada pela mídia e respaldada pela Justiça.
Leiga, a setuagenária não compreende que tudo não passou de uma mentira inescrupulosa. É inalcançável a ela o espaço exegético do intérprete da norma jurídica.
De modo que, crendo estar do lado certo, ela não aceita que aquele - apresentado como bandido por tanto tempo - seja agora o presidente da República eleito.
Eis aí um dos motivos que a leva a invadir e destruir um prédio público. Mas há ainda outro. É que da mesma forma como ela foi manipulada no início da história, nitidamente suscetível, a vovó continua agora sendo utilizada como massa de manobra. A diferença é que se antes fazia passeatas inofensivas, de verde-amarelo, agora é instrumento da prática de crimes.
Essa escalada na manipulação de massas não é coisa nova na humanidade, e os horrores da Segunda Guerra estão aí a nos mostrar até onde isso pode ir.
Não foi por acaso, aliás, que sensível a estes fatos, Lula disse anteontem que alguns (frise-se, alguns) manifestantes, entre eles a onírica vovozinha, podem até vir a ser vítimas destes episódios, que têm financiamento e planejamento criminoso.
Enfim, o fato é que nada disso existiria não fosse a lambança de uma irresponsável decisão judicial.
Nesse sentido, precisamos fazer um esforço e ajudar as pessoas a entender essa barafunda.
Noutras palavras, ajudá-los a reformar, em suas cabeças, a sentença que já foi reformada pelo Judiciário.
E depois, com humildade, admitir que a Justiça falhou. Falhou porque tardou.