Morreu nesta terça-feira, 1º, aos 82 anos, o advogado José Carlos Madia de Souza, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP.
Madia, como era carinhosamente conhecido, graduou-se pelas Arcadas (na gloriosa Turma de 1964). Dedicou cerca de 30 anos de sua carreira ao setor financeiro, ocupando altos cargos do então Unibanco S/A.
À frente da Associação dos Antigos Alunos, promoveu uma verdadeira revolução. Operoso, dedicado e incansável, realizou intenso trabalho e obteve inúmeras conquistas, tanto para a Associação, como para a Faculdade de Direito. São tantos os feitos, que seria impossível mencioná-los.
O mais importante deles, no entanto, foi fomentar o espírito acadêmico como poucos fizeram nos quase duzentos anos de história da Faculdade.
Madia empreendeu reformas, ajudou pessoas, editou livros, promoveu festas, entre inúmeras coisas. Generoso, gentil, amável, não fazia questão de ser protagonista. Aliás, nem de longe queria protagonismo. Sua satisfação era a realização. E como realizava.
O interesse pela história das Arcadas, e a admiração mútua pelo mestre Goffredo da Silva Telles Jr., fez com que ele se aproximasse de nosso modesto Migalhas. Ah, e que profunda amizade surgiu desse doce encontro.
Na última vez que nos falamos, ele ligou para a redação de Migalhas para nos convidar para o tradicional almoço do XI de Agosto, que se realizaria logo após a leitura da Carta aos Brasileiros. Os compromissos, que eram tantos, nos privaram deste que seria o último encontro. Fica, no entanto, a memória de outros tantos, repletos de sua amabilidade ímpar.
Deixará saudade imensa em todos os que com ele conviveram. E ficará na história da Faculdade de Direito de SP, ao lado de nomes como Spencer Vampré e Almeida Nogueira.
O velório acontece a partir das 9h desta quarta-feira, 2, e o enterro será às 13h, ambos no Cemitério Gethsêmani do Morumbi, em São Paulo.
Em uma de suas últimas entrevista, concedida ao Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, Madia falou da importância de tornar a Faculdade de Direito do Largo São Francisco cada vez mais inclusiva, especialmente pelo projeto “Adote um aluno”, programa direcionado à concessão de bolsas de estudo para alunos de baixa renda. “Vamos fazer uma grande campanha de divulgação, pois muitos colegas estão propensos a ajudar, mas ainda não sabem como”, disse à época. Desde então, o programa ampliou consideravelmente o número de adesões.
O programa também teve ampliado o número de estudantes que necessitam de ajuda, especialmente com a ampliação de políticas de cotas. Madia sempre reforçou a necessidade de dar apoio para que os alunos cotistas permaneçam na faculdade. “A política de cotas é muito acertada, mas não basta abrir uma vaga, você tem que dar subsídios para que este aluno permaneça”, acreditava.
Homenagens
Ministro José Antonio Dias Toffoli, do STF, antigo aluno das Arcadas, lamentou o falecimento registrando que José Carlos Madia de Souza, ao lado do ministro Flavio Bierrenbach, era o herdeiro das tradições da velha Bucha, de Julius Frank.
"Um guardião silencioso das tradições materiais e imateriais da essência da São Francisco e do que a Velha Academia tem de imperecível. Para Madia, não interessavam ideologias ou facções. Homem conservador tinha no progressista Bierrenbach seu melhor amigo. Alto executivo de bancos sabia o valor dos alunos mais humildes. Ele foi um símbolo do que há de superior nas Arcadas."
E completou o ministro Toffoli: "Perdi um amigo e uma referência."
O diretor da FDUSP, Celso Fernandes Campilongo, enalteceu o trabalho feito por Madia ao longo dos anos à frente da Associação, instituição em que personalidades do mundo jurídico puderam expor seus pensamentos por meio dos eventos realizados e as diversas publicações. “A contribuição de Carlos Madia foi exemplar”, disse Campilongo. “Sempre foi muito querido por todos que estiveram ao seu lado e com ele trabalharam”, acrescentou.
O colega de turma Flavio Flores Bierrenbach assinalou que Madia foi um de seus “maiores amigos na vida”. “Interessante, porque no tempo da Faculdade, entre 1960 e 1964, éramos adversários políticos. Cada um de seu lado”, disse. Mas, na Faculdade, lembrou, “havia territórios neutros onde todos nos encontrávamos, e em um desses (territórios) me encontrei com Madia. Ficamos amigos para sempre”. Recordou-se, ainda, da carreira bem-sucedida de Madia e do momento em precisou deixar a presidência da Associação dos Antigos Alunos (Bierrenbach foi antecessor de Madia). “Chamei o Madia e ele vestiu essa camisa por toda sua vida. Cuidou da FDUSP e da Associação”, acrescentou, afirmando que na próxima semana será feita uma grande homenagem.
O professor Celso Lafer também lamentou a perda. “Um querido amigo, uma grande alma dignificadora da nossa Associação de Antigos Alunos. Colega próximo desde o início da nossa vida de estudantes do Largo de São Francisco. Deixará um vazio da nossa convivência e saudades”.