Em 3 de maio de 2007, o desaparecimento de uma criança inglesa de apenas três anos chocou o mundo. Madeleine McCann passava férias com os pais em Portugal quando desapareceu do quarto do resort onde dormia com os irmãos. O caso aconteceu na Praia da Luz, no Algarve, local muito procurado por turistas e conhecido por belas praias.
Agora, 15 anos depois, o caso ganha novos contornos: um pedófilo reincidente alemão, identificado como Christian B., de cerca de 45 anos, foi formalmente indiciado pelas autoridades portuguesas pelo desaparecimento da menina.
Christian foi identificado como potencial suspeito da morte de Madeleine em 2020 e, no final de abril, foi declarado suspeito oficial a pedido de Portugal.
O desdobramento ocorre às vésperas da prescrição do crime.
O homem possui condenações por tráfico de drogas e atualmente cumpre pena de 7 anos na prisão de segurança máxima de Oldenburg, no norte da Alemanha, pelo estupro em 2005 de uma americana de 72 anos na praia da Luz —mesmo local onde Madeleine desapareceu. As informações foram publicadas pela Uol.
Documentos judiciais acessados pela Reuters mostram que ele viveu em uma cabana alugada nos arredores da praia da Luz, no Algarve, entre 1995 e 2007. Na época, assaltava hotéis e apartamentos e falsificava passaportes. Segundo as autoridades alemãs e portuguesas, ele também possui condenações por abuso sexual contra crianças.
O caso
Kate e Gerry, os pais de Maddie, jantavam no restaurante dentro do resort Ocean Club, onde a família estava hospedada com um casal de amigos, quando Madeleine foi levada do apartamento onde dormia, na noite de 3 de maio de 2007. Ela e os irmãos estavam sozinhos no quarto, mas os pais e os amigos se revezavam para checar como estavam as crianças. Foi assim que perceberam que a menina havia sumido.
Migalhas esteve em Portugal em 2019, na Praia da Luz, onde tudo aconteceu, e entrevistou moradores, turistas e Rogério Alves, o advogado dos pais de Madeleine.
Assista à reportagem:
Após 14 meses de investigações, nas quais os pais chegaram a ser os principais suspeitos, a polícia portuguesa encerrou o caso em 2008. Ele foi reaberto cinco anos depois, mas só avançou em junho de 2020 quando a promotoria de Brunswick, na Alemanha, apontou Christian como responsável e garantiu que a menina estaria morta. Seu caso foi objeto de vários documentários, incluindo uma série da Netflix.
Investigado
Desde que foi apontado como suspeito, Christian B. passou a ser investigado em diversos crimes com as mesmas características, como:
- o desaparecimento do menino português Jair Soares, 7 anos, em uma praia da Holanda, em 1995
- o desaparecimento do garoto René Hasse, de 6 anos, no Algarve, em 1996
- o assassinato de Carola Titze, alemã de 16 anos encontrada morta na Bélgica com o corpo mutilado, em 1996
- a morte de um menino de 13 anos, em Frankfurt, em 1998
- o desaparecimento de Joana Cipriano, de 8 anos, na vila de Figueira, perto da praia da Luz, no Algarve, em 2004
- a agressão sexual a uma menina de 10 anos na região do Algarve, em 2007, poucas semanas antes do desaparecimento de Maddie
- o desaparecimento de Inga Gehnricke, de 5 anos, em uma floresta de Stendal, a oeste de Berlim (Alemanha), em 2015
O indiciado nega qualquer envolvimento no desaparecimento de Madeleine.
O advogado do homem, Friedrich Fülscher, disse ao jornal alemão Bild que "sem conhecer detalhadamente a situação jurídica portuguesa, assumo que esta medida é um truque processual para evitar a prescrição iminente em poucos dias".
Em comunicado, o Ministério Público de Portugal disse que a medida não foi motivada pela data, mas, sim, por "fortes indícios" da prática de um crime, embora não tenham encontrado um corpo.
Suspeita
As autoridades alemãs afirmam que receberam novas denúncias ligando o suspeito ao caso em 2013, depois que os pais da menina apareceram em um programa nacional de crimes não resolvidos para pedir ajuda.
Um telefone atribuído a Christian indica que ele esteva na área onde Madeleine desapareceu dentro de um intervalo de 30 minutos, disse Jim Gamble, um ex-policial que liderou uma revisão do caso em 2010, à BBC.
Os investigadores encontraram, de acordo com a imprensa alemã, trajes de banho infantis no trailer no suspeito e vários dispositivos USB com milhares de imagens de pedofilia, algumas nas quais ele próprio aparecia, escondidos onde ele havia enterrado seu cachorro.