Vaias, gritos, lutas, fogo e bandeira nacional. Desde o fim da ditadura, o dia em que é comemorada a Independência do Brasil é marcado por manifestações contra o governo. A maioria dos protestos acontecem em momentos de clima econômico ruim no país, aliado a crises políticas e descontentamento geral da população.
Em 1988, após o fracasso do Plano Cruzado, Brasília assistia à primeira manifestação da sua história contra o governo durante um desfile de 7 de setembro. O ex-presidente José Sarney fora vaiado e a polícia chegou a tirar faixas e agredir os manifestantes.
Em 1989, Sarney mudou o local da comemoração, que desde os anos 70 era realizado no Eixo Rodoviário. O evento foi celebrado em frente ao QG do Exército. A justificativa foi a reforma pela qual passava a avenida e economia de recursos.
Em 1992, Fernando Collor foi vaiado três vezes durante a parada militar, em Brasília, mesmo tendo evitado aparecer. O presidente, acompanhado da primeira-dama, cancelou o desfile em carro aberto e chegou ao palanque por meio de uma passagem subterrânea.
A ala reservada aos parlamentares precisou ser ocupada por militares, porque só um deputado compareceu. O vice Itamar Franco e os presidentes do STF, Senado e Câmara não estiveram presentes.
Um dos únicos a escapar do descontentamento popular, Itamar Franco foi aplaudido nos desfiles de 7 de setembro, em 1993 e 1994. Seu governo, que teve o maior crescimento médio do PIB desde o fim da ditadura em meio à disparada da inflação, foi marcado pela preparação das medidas do Plano Real e pelo lançamento da nova moeda, em 1º de julho de 1994.
Mas nem só de palmas vivem os governantes. Durante o governo FHC, em 1999, o governo do Distrito Federal convocou seus servidores para engrossar o público. Mas não escapou das vaias. “No fim do desfile com aplausos dos convidados (...) o presidente chegou a ser vaiado por parte das pessoas que assistiam à solenidade”, relatou o Estadão na edição de 8 de setembro daquele ano. Já em 2000, convidou o jogador Ronaldo Fenômeno para assistir ao desfile militar na capital da tribuna das autoridades. O craque foi ovacionado pelo público.
A mesma tática de 1999 foi usada em 2001, com a contratação de 200 ônibus para levar moradores das cidades-satélites ao desfile. Mesmo assim, a solenidade acabou em vaias.
No caso de Lula, o Dia da Independência de 2006 teve uma surpresa em Brasília: foi instalada uma arquibancada com 1.700 convidados próxima à tribuna. O som das pessoas favoráveis ao governo acabou abafando as vaias e gritos dos que protestavam contra a corrupção e pediam o impeachment, um ano após ter estourado o escândalo do mensalão.
Em 2011, Dilma Rousseff, em sua primeira participação no desfile, presenciou uma marcha contra a corrupção convocada pela internet que reuniu cerca de 25 mil pessoas. Enquanto de um lado da Esplanada era celebrado o Dia da Pátria, do outro desfilavam os manifestantes. Para evitar o mesmo constrangimento, em 2012 a presidente foi blindada. Tapumes foram instalados em toda a extensão da Esplanada para que os protestos no outro lado da pista não fossem percebidos.
Com informações do acervo do Estadão e O Globo.