Em entrevista exclusiva ao Migalhas na manhã desta quinta-feira, 1º, o ex-primeiro ministro de Portugal, o engenheiro José Sócrates atendeu gentilmente nossa equipe para falar sobre diversos assuntos pungentes da política brasileira, dentre eles, a gestão de Bolsonaro na pandemia.
Sócrates elencou o caminho desastroso pelo qual o Brasil seguiu na pandemia: (i) o presidente achou que a pandemia não era assim tão grave; (ii) depois, Bolsonaro nunca desenvolveu um discurso político de uso de máscaras e distanciamento social, pelo contrário, incentivou aglomerações.
Com a expertise de quem domina assuntos internacionais, Sócrates avaliou:
Há uma coisa que o presidente do Brasil se destacou, nestes últimos tempos, e não aconteceu em mais lado nenhum do mundo: foi o único presidente de um país que fez uma campanha contra as vacinas! Repare, agora que temos vacina e que, como se sabe, as vacinas são o remédio para isto, eu acho que o presidente do Brasil foi o único que, nas suas intervenções públicas, escarnecia da vacina.
Preço pago em vidas
O ex-primeiro ministro de Portugal lamentou a situação do Brasil na pandemia. Sócrates destacou que o Brasil pagou um preço, em vidas, pela gestão de Bolsonaro. Dentre os pontos negativos da governança do presidente, Sócrates salientou a falta de articulação com os governos e o negacionismo, que só deu "maus conselhos aos cidadãos brasileiros", com o uso de remédios sem comprovação científica, como a cloroquina.
"O Brasil pagou um preço em vidas, porque houve uma política do governo: em primeiro lugar, não se articulou com os governadores (isso é um erro básico); em segundo lugar, foi sempre negacionista (ou a doença não é tão grave, ou ela não existe, ou pode se resolver como uma qualquer constipação/resfriado, como vocês dizem aí – ou então tomando cloroquina)."