Renascer
Decretada prisão de líderes da Renascer
Líderes da segunda maior denominação neopentecostal do País - em número de integrantes e templos -, os Hernandes eram procurados ontem pelo departamento de capturas da Polícia Civil. Até 22h30, não haviam sido encontrados nem no apartamento onde moram, na Chácara Klabin, nem na sede social da Igreja, no bairro do Paraíso. À noite, o apóstolo Hernandes mandou recado para os fiéis da igreja por meio de um rádio Nextel operado por um pastor durante um culto. Afirmou que o pedido de prisão é 'artimanha do demônio'.
O casal Hernandes e os irmãos Abbud - seus sócios em dez empresas - podem ser presos por não terem comparecido a uma audiência do processo em que são acusados de estelionato contra fiéis e lavagem de dinheiro arrecadado em cultos.
Na tentativa de suspender a prisão, os advogados dos Hernandes entraram com pedido de habeas-corpus no TJ/SP e com pedido de reconsideração, na 1ª Vara. Na tarde de ontem, enquanto os recursos não eram julgados, os fundadores da Renascer eram oficialmente considerados 'procurados'.
O juiz Antônio Paulo Rossi decretou a prisão provisória do casal Hernandes acatando pedido enviado em 17 de novembro pelos quatro promotores do Grupo de Atuação de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) - Arthur Lemos, Eder Segura, Roberto Porto e José Reinaldo Carneiro.
O casal Hernandes não compareceu a uma audiência em que seriam confrontados com fiscais da Fazenda Estadual que rastrearam oito contas bancárias pelas quais passaram R$ 46 milhões nos últimos dois anos e dez empresas abertas no endereço da sede social da Igreja. Os promotores alegaram que, ao não ir à audiência, os réus colocaram em risco a aplicação da lei penal.
O processo em tramitação na 1 ª Vara Criminal já havia resultado no bloqueio de bens e contas bancárias dos fundadores da Renascer. Ouvidos em uma primeira audiência - em depoimento ao qual o Estado teve acesso -, Estevam e Sônia Hernandes disseram que abriram empresas na mesma sede social da Igreja Renascer porque são 'empreendedores'. Sônia Hernandes também afirmou que não sabe detalhes da administração dessas empresas porque 'quando precisa de dinheiro, pede ao marido'.
A torre é do filho
O processo que resultou no pedido de prisão dos Hernandes procura determinar os limites entre os bens da Igreja, construídos com doações de fiéis, e o patrimônio pessoal dos Hernandes. Pesquisa em cartórios de São Paulo mostra que pode ser uma missão difícil. Nem mesmo imóveis anunciados como pertencentes à Igreja estão de fato em seu nome.
Um deles é a torre de transmissão comprada pela Igreja na rua Consolação, com R$ 3 milhões arrecadados em campanhas entre fiéis. Certidão do 5º Cartório de Registro de Imóveis mostra que a torre, na verdade, está registrada em nome de uma empresa do filho do casal Hernandes, Felipe, a FH Comunicação. E está penhorada, como garantia de pagamento em um processo de cobrança movido por um credor da Igreja, a empresa Rede Central. O imóvel onde está o maior templo da Igreja, na Rua Lins de Vasconcelos, é alugado, embora o casal afirme em materiais como a apostila do curso de formação de obreiros que ele foi comprado pela Igreja.
Marcha para Jesus
No ranking das igrejas neopentecostais do País, a Renascer perde apenas para a Universal do Reino de Deus. Em 25 anos de existência, a denominação abriu 1.500 templos no Brasil, 20 em outros 6 países e explodiu apoiada em um rebanho de classe média.
Com o lema 'conquistar o Brasil e o mundo através dos meios de comunicação', a Renascer montou um pequeno império formado por canais de TV e emissoras de rádio que atingem 74% do território nacional, gravadora e site.
Nos últimos anos, deu seguidas mostras de poder de fogo. Organiza a Marcha para Jesus, evento que neste ano reuniu 3 milhões de pessoas <_st13a_personname productid="em São Paulo. No" w:st="on">em São Paulo. No último pleito, elegeu dois deputados federais. E é freqüentada por celebridades como o jogador Kaká.
Na esfera judicial, no entanto, a Renascer vem sendo bombardeada. Responde a 100 processos de cobrança de dívidas, abertos por fiéis que dizem ter sido convencidos a assinar cheques em branco ou a alugar imóveis em contratos que não foram honrados. E, além do processo por lavagem de dinheiro, o casal Hernandes responde a outro - que pede o fechamento dos templos da Igreja.
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