Migalhas Quentes

O que o escândalo de Watergate tem a nos dizer sobre a reunião ministerial?

Na decisão em que derrubou o sigilo da reunião ministerial, o decano Celso de Mello relembrou o fatídico caso do Watergate, que culminou na renúncia do então presidente Nixon, em 1974.

23/5/2020

Na decisão em que derrubou o sigilo da reunião entre Bolsonaro e seus ministros, o ministro Celso de Mello indagou: é direito, ou não, do presidente da República salvaguardar determinados atos, documentos e gravações, mediante invocação da cláusula do privilégio Executivo, que os tornaria imunes ao controle jurisdicional em face da prerrogativa extraordinária de confidencialidade?

O questionamento do decano do STF foi respondido em 1974 pela Corte Suprema americana ao analisar o fatídico “escândalo de Watergate”, que levou à renúncia do presidente Nixon.

À época, a Suprema Corte dos Estados Unidos, por unanimidade, deixou assentado que “o presidente não pode proteger-se contra a produção de prova em um processo criminal com fundamento na doutrina do privilégio executivo, ainda que essa cláusula possa ser validamente invocada em outras situações”.

Relembre o caso

Em 1972, cinco homens foram presos por invadir a sede do Comitê Democrata no edifício Watergate, em Washington. A prisão ocorreu em meio à campanha eleitoral para a presidência dos EUA: de um lado concorria George McGovern, pelos Democratas, e de outro, Richard Nixon, pelos Republicanos, que tentava a reeleição.

Um detalhe da prisão chamou atenção de dois repórteres do jornal Washington Post - Os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein: os homens foram pegos instalando equipamentos de espionagem e fotografando documentos na sede democrata.

Com a investigação jornalística, descobriu-se que Nixon utilizou dinheiro não declarado para espionar os adversários e, assim, conseguir vantagens para sua campanha. Os repórteres também mostraram que Nixon sabia das operações ilegais.

Toda esta situação levou à renúncia de Nixon, em 1974, após sair vitorioso das eleições dois anos antes.

No judiciário estadunidense

Ao se debruçar sobre o caso, a Suprema Corte americana examinou a requisição de fitas de gravação que continham conversas relevantes para o esclarecimento e comprovação dos crimes que teriam sido praticados pelo então presidente Nixon.

Os juízes decidiram  que a cláusula do privilégio executivo, por não se revestir de caráter absoluto, tem natureza essencialmente limitada. Assim, determinou-se a Nixon a entrega ao Judiciário das gravações em fita e outros materiais de natureza probatória envolvendo, inclusive, comunicações internas no âmbito da presidência da República, no contexto de uma investigação criminal.

Decano

Em sua decisão, o ministro Celso de Mello relembrou o caso e afirmou que o interesse público na busca pela verdade real, em contexto de investigações criminais, “tem irrecusável precedência sobre a cláusula do privilégio executivo, em ordem a impedir a recusa, a desobediência ou o descumprimento, pelo Chefe de Estado, de requisições judiciais que lhe tenham sido dirigidas, evitando-se, desse modo, que se comprometa o convívio harmonioso que deve reger, por imposição constitucional (CF, art. 2º), as relações institucionais entre os Poderes da República”.

Veja a íntegra da decisão

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Bolsonaro: “Ponto final, não estamos aqui para brincadeira”

22/5/2020
Migalhas Quentes

Bolsonaro chama Doria de "bosta" e Witzel de "estrume"

22/5/2020
Migalhas Quentes

Damares: “A gente tá vendo a palhaçada do STF de trazer o aborto de novo”

22/5/2020
Migalhas Quentes

"Botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF", diz Weintraub em reunião ministerial

22/5/2020
Migalhas Quentes

Assista à reunião de Bolsonaro com ministros que gerou saída de Moro

22/5/2020
Migalhas Quentes

Celso de Mello decide divulgar vídeo de reunião ministerial

22/5/2020

Notícias Mais Lidas

Veja áreas que mais remuneram advogados segundo pesquisa da OAB/SP

15/8/2024

Advogado é agredido por PMs; Justiça manda devolver fiança

15/8/2024

Pais terão IR penhorado por publicação de filhos ligando Moraes ao PCC

15/8/2024

CNJ implementa modelo-padrão de ementas para decisões judiciais

14/8/2024

Justiça determina interdição de santuário dedicado a Lúcifer no RS

14/8/2024

Artigos Mais Lidos

A doação em vida não resolve o problema: O aumento do ITCMD na reforma tributária

15/8/2024

ITCMD: Postergar planejamento sucessório pode sair caro por causa da reforma tributária

15/8/2024

Quando o advogado deve dizer “não”?

15/8/2024

Por que as buscas e apreensões extrajudiciais ainda não saíram do papel?

14/8/2024

Invalidade da cláusula non cedendo em face da Lei das Duplicatas

16/8/2024