O ex-PGR Rodrigo Janot surpreendeu ao revelar que no momento mais tenso de sua passagem pelo cargo chegou a ir armado para uma sessão do STF com a intenção de matar o ministro Gilmar Mendes.
“Não ia ser ameaça não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele [Gilmar] e depois me suicidar”, afirmou Janot. O caso foi revelado nesta quinta-feira, 26.
De acordo com o ex-chefe do Ministério Público, que ficou no cargo de 2013 a 2017, logo após ele apresentar uma exceção de suspeição contra Gilmar, o ministro difundiu “uma história mentirosa” sobre sua filha. Foi a gota d’água: “Isso me tirou do sério.” Ouça a história narrada por Janot:
A inimizade entre Gilmar Mendes e Rodrigo Janot vem de longa data. Ainda em 2015, quando integrava o TSE, o ministro Gilmar repudiou o despacho de Janot pelo arquivamento da investigação das campanhas de Dilma – e reiterou ofício para que o procurador Rodrigo Janot investigue os indícios de irregularidades: “O procurador negou-se a cumprir seu papel.”
As críticas foram subindo de tom, e a expressão “o bêbado do Janot” não raro era proferida pelo ministro. Em 2017, em resposta ao ofício do então PGR que pedia sua suspeição no caso Eike, Gilmar lembrou o provérbio português: "Ninguém se livra de pedrada de doido nem de coice de burro." Foi neste despacho que a filha de Janot foi mencionada. O tom foi o mesmo ao responder quanto à alegação de suspeição no caso de Jacob Barata.
Em nota (ver abaixo), o ministro Gilmar Mendes lamentou "que por um bom tempo uma parte do devido processo legal ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidaas". Disse ainda S. Exa. que ficou "algo surpreso":
"Sempre acreditei que, na relação profissional com tão notória figura, estava exposto, no máximo, a petições mal redigidas, em que a pobreza da língua concorria com a indigência da fundamentação técnica. Agora ele revela que eu corria também risco de morrer."
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Nota do ministro Gilmar Mendes
Dadas as palavras de um ex-procurador-geral da República, nada mais me resta além de lamentar o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no país ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas, destacando que a eventual intenção suicida, no caso, buscava apenas o livramento da pena que adviria do gesto tresloucado. Até o ato contra si mesmo seria motivado por oportunismo e covardia.
O combate à corrupção no Brasil — justo, necessário e urgente — tornou-se refém de fanáticos que nunca esconderam que também tinham um projeto de poder. Dentro do que é cabível a um ministro do STF, procurei evidenciar tais desvios. E continuarei a fazê-lo em defesa da Constituição e do devido processo legal.
Confesso que estou algo surpreso. Sempre acreditei que, na relação profissional com tão notória figura, estava exposto, no máximo, a petições mal redigidas, em que a pobreza da língua concorria com a indigência da fundamentação técnica. Agora ele revela que eu corria também risco de morrer.
Se a divergência com um ministro do Supremo o expôs a tais tentações tresloucadas, imagino como conduziu ações penais de pessoas que ministros do Supremo não eram. Afinal, certamente não tem medo de assassinar reputações quem confessa a intenção de assassinar um membro da Corte Constitucional do País.
Recomendo que procure ajuda psiquiátrica. Continuaremos a defender a Constituição e o devido processo legal.