A obra "Verba Juris" (LiberLux - 1593p.), escrita por Douglas Dias Ferreira, é um dicionário de latim jurídico e dos costumes. Conta com 16.700 máximas ou locuções latinas, traduções e textos originais revisitados, pronúncia facilitada e comentários do autor.
"De onde e por quê?
Caro leitor, com sua licença volto no tempo, cruzo os muros de um seminário católico e - antes mesmo de espiar a sala de aulas do 3º clássico - retomo aqueles sons que teimam em doer saudades, tão bons, tão nossos pois de uma família que, sete anos idos, o futuro espalhou.
À frente o padre Humberto Capobianco, mestre construtor de gente, um sem-número de matérias, de tudo um pouco muito - o latim, o grego, o futebol, livros, história e estórias -, sempre a instigar asas, ensinando-as a voar. E nós ali, ainda roubando frutas e simulando barbas, tateando o chão já tramando maiores saltos.
Meu compromisso diário e solene com o latim se encerrava então, reencontrando-nos às vezes. Por culpa dessas vezes e porque, feliz teimosia, o mundo jurídico me voltou ao colo, nasceu este compêndio. E pela obsessão de restabelecer justiça a uma língua hoje abandonada, portanto indefesa - visitando-lhe a grafia, em parte maltratada pelas reedições, revisitando-lhe as traduções, em parte desgastadas pelo mudo trocar das épocas.
Outros critérios nos moveram. À máxima, ditada a sintetizar um conceito ou regra social, moral, convém a síntese, o simples e autoexplicável. Por isso Ad paenitendum properat, cito qui judicat, para nós quem logo julga, logo se arrepende; Plus valet quod actum quam scriptum: Mais vale o feito que o escrito; Taciturnitas imitatur confessionem: Silêncio lembra confissão; Lassus rixam quaerit: O homem estressado procura briga; Mens abest in popina: No bar, o juízo se vai.
A razão:
Si iudicas, cognosce: Se julgas, informa-te. – Ratio legis est anima legis: A razão da lei é a sua alma, ou, para Cícero, Domina omnium et regina ratio: A razão é senhora e rainha de tudo. Fechando, Si quis judicium faciat de re quam non ante cognovit qui aliud est quam judicium caeci de colore aut surdi de cantu?: Se alguém julga um fato do qual ainda não se informou, que juízo é esse senão o de um cego sobre a cor, ou o de um surdo sobre uma canção?
O coração:
Quietissimi viverent homines in terris, si duo verba tollerentur, scilicet: meum et tuum: Em absoluta paz viveriam os homens sobre a terra, se se abolissem duas palavras: meu e teu. – Musicam docet amor: O amor leciona música. – Leges ut facies coeli et maris varientur: A leis devem mudar, como a paisagem do céu e a do mar. – Et judicis officium magis in absolvendo exuberat: Pois a função de juiz mais exubera quando ele absolve.
Enfim, ao caro leitor o ius querelandi, ius opinandi, razões e contrarrazões - para que se mantenha acesa, à flor do tempo e da pele, a justa e impagável paixão pelo latim.
Sobre o autor:
Douglas Dias Ferreira é revisor de textos e tradutor.
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Ganhador:
Pedro Spontam Neto, de Colíder/MT