Procuradores da Lava Jato teriam vazado informações sigilosas da delação da Odebrecht para oposição venezuelana após uma sugestão do então juiz Sergio Moro. É o que revela o site The Intercept Brasil, neste domingo, 7, em reportagem em conjunto com o jornal Folha de S. Paulo.
De acordo com os sites, o vazamento tinha o objetivo de expor informações secretas comprometedoras contra o governo de Nicolás Maduro, em uma ação política e não jurídica. As mensagens teriam sido trocadas em 2017:
Moro: “Talvez seja o caso de tornar pública a delação dá Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?”
Deltan: “Naõ dá para tornar público simplesmente porque violaria acordo, mas dá pra enviar informação espontãnea [à Venezuela] e isso torna provável que em algum lugar no caminho alguém possa tornar público”
Os vazamentos já tinham sido objeto de conversa entre o procurador e o ex-juiz. Deltan havia dito a Moro: “Haverá críticas e um preço, mas vale pagar para expor e contribuir com os venezuelanos”.
Propinas
Em delação, a Odebrecht admitiu ter pago propina para fazer negócios em 11 países além do Brasil, incluindo a Venezuela. As informações foram mantidas em sigilo por determinação do STF.
Após a sugestão de Moro, as mensagens mostram que os procuradores discutiram o assunto. Em uma delas, o procurador Paulo Galvão considera a crise venezuelana: “Vejam que uma guerra civil lá é possível e qq ação nossa pode levar a mais convulsão social e mais mortes”. E Deltan respondia: “PG, quanto ao risco, é algo que cabe aos cidadãos venezuelanos ponderarem", escreveu em resposta à mensagem de Galvão. "Eles têm o direito de se insurgir."
Vídeos
Em 2017, a procuradora-Geral da Venezuela, Luisa Ortega, opositora da ditadura de Nicolás Maduro, foi destituída. Depois de se exilar, alegando perseguição do governo venezuelano, Ortega veio para o Brasil. Sua vinda foi assunto entre os procuradores:
“Vcs que queriam leakar as coisas da Venezuela, tá aí o momento. A mulher está no Brasil”, escreveu o procurador Paulo Galvão.
Em outubro, Ortega publicou em seu site na internet dois vídeos com trechos de depoimentos do ex-diretor da Odebrecht na Venezuela Euzenando Azevedo, sobre contribuições feitas pela empreiteira para campanhas eleitorais de Maduro.
Os advogados da empresa questionaram a força-tarefa após o vazamento, e o episódio foi discutido pelo grupo no Telegram. O procurador Paulo Galvão sugeriu que Vladimir Aras ou Orlando Martello poderiam ter sido os responsáveis. "Nos não passamos...", escreveu Galvão aos colegas. "Só se foi Vlad. Ou Orlando, escondido." Os dois eram participantes do grupo de mensagens, mas ficaram em silêncio.
A Odebrecht atribuiu o vazamento à PGR. A procuradora-Geral Raquel Dodge informou há cerca de um mês que há um inquérito sigiloso sobre o caso em andamento na Justiça Federal de Brasília.
Vazamentos
Migalhas reuniu, em site exclusivo, todas as informações e desdobramentos dos vazamentos envolvendo a operação Lava Jato. Acesse: vazamentoslavajato.com.br