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Polícia Federal prende círculo de amigos de Michel Temer

Ordens de prisão são do ministro Barroso, relator do inquérito que investiga irregularidades na edição do decreto dos portos.

29/3/2018

A Polícia Federal cumpre, nesta quinta-feira, 29, uma série de mandados de prisão temporária de pessoas próximas ao presidente Michel Temer.

Foram presos o empresário e advogado José Yunes, amigo e ex-assessor do presidente; Celso Grecco, dono da Rodrimar; o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi; João Baptista Lima Filho, coronel aposentado da PM de SP, e Celina Torrealba, dona do Grupo Libra. As prisões são temporárias, com prazo de cinco dias, mas podem ser prorrogadas.

As prisões foram determinadas pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF, relator do Inq 4.621, que investiga irregularidades no decreto dos portos, no âmbito da Operação Skala, deflagrada nesta quinta. Os pedidos foram feitos pela procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, após solicitação da Polícia Federal. A PF informou que, por determinação do STF ‘não se manifestará a respeito das diligências realizadas na presente data’.

Há, ainda, um mandado de prisão contra Milton Ortolan, ex-secretário-executivo do Ministério da Agricultura. Foram expedidos ao menos 15 mandados de busca e apreensão.

José Yunes é amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer. Yunes foi preso em casa no início da manhã e seguiu, por volta das 8h, para a sede da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, no bairro da Lapa.

Em 30 de novembro do ano passado, Yunes prestou depoimento à Polícia Federal, no inquérito dos portos. Na ocasião, ele relatou uma operação de venda de imóvel para o presidente Michel Temer.

Yunes é apontado pelo operador financeiro Lúcio Funaro, delator da Operação Lava Jato, como um dos responsáveis por administrar propinas supostamente pagas ao presidente. De acordo com Funaro, para lavar o dinheiro e disfarçar a origem, Yunes investia valores ilícitos em sua incorporadora imobiliária.

Em dezembro de 2016, Yunes pediu demissão do cargo de assessor especial da Presidência da República para, segundo afirmou, preservar a dignidade. Na carta de demissão a Temer, Yunes afirmou que viu seu nome "jogado no lamaçal de uma abjeta delação". "Repilo com força de minha indignação essa ignominiosa versão."

Ele se afastou após ter sido citado na delação do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho. O delator disse aos investigadores que Yunes recebeu dinheiro em espécie em seu escritório em São Paulo. Na ocasião, Yunes disse, em depoimento, que recebeu um pedido do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) para que recebesse um documento em seu escritório, que depois seria recolhido por outra pessoa. Depois, em entrevista, Yunes afirmou que o pacote foi entregue por Lúcio Funaro: “Na verdade, eu fui um ‘mula’ involuntário”, disse Yunes.

Amigo de Temer desde a faculdade, nos anos 60, o último encontro dos dois teria ocorrido na última segunda-feira, 26, fora da agenda, quando jantaram em São Paulo, como revelou o colunista Lauro Jardim.

O empresário Antônio Celso Grecco é dono da empresa Rodrimar, que atua no Porto de Santos, no litoral de São Paulo, e é suspeita de ter sido beneficiada pelo decreto de Michel Temer de 2017. Grecco foi detido em Monte Alegre do Sul, no interior de São Paulo.

A PF faz buscas na Rodrimar, na zona portuária de Santos, e no apartamento de Grecco, na praia do Gonzaga.

O ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi foi preso em Ribeirão Preto, interior de SP. Em maio do ano passado, Rossi informou ter conhecido o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, controlador da JBS, durante o período em que foi ministro da Agricultura, entre abril de 2010 e agosto de 2011, e que prestou "colaboração remunerada" à companhia após deixar o cargo e passar pelo período de quarentena.

João Baptista Lima Filho é coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo. Ele ainda havia não se manifestado após tentativas da PF, ao longo de oito meses, de ouvi-lo no inquérito. Lima Filho, que tem 74 anos, apresentou pelo menos três atestados médicos para dizer que não tinha condições de ir à PF para prestar depoimento.

Coronel Lima, como é conhecido, assessorou Michel Temer quando o peemedebista assumiu pela primeira vez a Secretaria da Segurança Pública do governo paulista, ainda nos anos 1980, momento em que a relação entre os dois estreitou-se e Lima passou a ser homem de confiança do presidente.

A empresária Celina Torrealba, uma das donas do Grupo Libra, também foi presa temporariamente. Celina foi presa em seu apartamento, no Leblon/RJ. O Grupo Libra é concessionário de áreas no Porto de Santos e também foi mencionado pelo doleiro Lúcio Funaro, colaborador da Operação Lava Jato, como uma das empresas beneficiadas pelo decreto.

Há mandados de prisão contra outros dois donos do grupo Libra, Gonçalo Torrealba e Rodrigo Torrealba, mas ainda não foram cumpridos.

Inquérito

Temer é investigado pela edição do decreto 9.048/17, chamado de decreto dos portos, que aumentou o prazo dos contratos de concessão de áreas portuárias de 25 anos para 35 anos, podendo ser prorrogado até 70 anos, beneficiando as atuais empresas concessionárias.

No mesmo inquérito, são investigados o ex-assessor especial da presidência Rodrigo Santos Da Rocha Loures - o homem flagrado com uma mala de dinheiro dada pelo grupo J&F -, além de Ricardo Conrado Mesquita e Antonio Celso Grecco.

No começo do mês, Barroso já havia determinado a quebra dos sigilos bancários de Temer e Yunes, quando também foram alvo da medida Rocha Loures, o Coronel Lima, Antônio Celso Grecco e Ricardo Mesquita, diretor do grupo Rodrimar.

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