Nascido em 17 de outubro de 1921, Orpheu acumulou ao longo de sua trajetória histórias inolvidáveis, conquistando prestígio, estima e admiração por onde passou. Em 1943, por exemplo, durante uma caravana de estudantes das Arcadas para conhecer Getúlio Vargas, foi o orador da turma e chamado pelo próprio presidente a trabalhar em seu gabinete.
Com o retorno de Vargas em 1950, Orpheu voltou para o gabinete, e em 1954 foi nomeado chefe da Delegacia do Trabalho em Santos/SP. Em julho de 1954, declarou a primeira greve legal do Brasil, o que motivou muitas perseguições após a morte de Vargas. Com a eleição de João Goulart na vice-presidência em 1955, Orpheu é nomeado assessor trabalhista e sindical da presidência da República.
Em 31 de março de 1964, foi o primeiro preso encaminhado ao DOPS de São Paulo, onde permaneceu dois meses até ser transferido para o Navio Raul Soares, onde ficou por mais 6 meses. Durante sua "estadia" no navio presídio, escreveu uma carta destinada ao General Riograndino Kruel, que foi publicada no correio da manhã, contando as atrocidades cometidas com os presos daquele navio.
Também escreveu o poema Navio presídio, publicado como prefácio do livro "Navio Presídio" de Nelson Gatto e no livro "Torturas e Torturados" de Marcio Moreira Alves.
E quando a noite pesada de silêncio
Chegou torturando as multidões aflitas,
O Torquemada indígena reeditou a sina
Que afligiu a terra ibérica latina.
E a Inquisição renasceu em nossa pátria
Ferindo forte, com ódio, vingança e infâmia,
Como se este povo não fosse só de irmãos,
Trabalhadores, poetas, professores e cristãos.
Da Guanabara loira, radiosa e bela,
A opressão mandou o carcomido barco,
Com seu casco negro, infecto, apodrecido
Para encarcerar pais, irmãos, filhos e netos.
Oh! negro navio de triste sina!
Antes te houvera o mar tragado,
Quando navegavas impávido e imponente,
A te transformares no terror da tua gente!
Em 1988, eleito vereador em Maricá/RJ, foi o presidente da Comissão da Lei Orgânica do Município. Com o fim do mandato, em 1992, abandonou a política. Em 1999, fundou, com seu filho jornalista Tiago Santos Salles, a Revista Justiça & Cidadania.
Por ocasião de seus 90 anos, Orpheu dos Santos Salles foi homenageado pela publicação (clique aqui), a qual trouxe artigos de nomes renomados do meio jurídico como Ives Gandra da Silva Martins, Carlos Mário Velloso, Ophir Cavalcante, Ney Prado, entre outros, festejando o "Quixote do Século XXI".
Serviço
O velório será realizado nesta quinta-feira, 18, das 10h às 15h, capela 5, Crematório Memorial do Carmo, no Caju (rua Monsenhor Manuel Gomes, Caju, Rio de Janeiro - RJ).