Sites de busca emburrecem os estudantes?
Em dezembro, o Centro Nacional para Estatísticas da Educação, dos EUA, publicou um relatório sobre a capacidade de ler e escrever. Revelou que a proporção de universitários capazes de interpretar textos complexos havia caído de40%para 31% desde 1992. Como diz Mark S. Schneider, comissário de estatísticas da educação do centro,“o inquietante é que a avaliação não pretendia testar a compreensão de Proust, mas a habilidade de ler rótulos”. Uma pesquisa britânica teve resultados semelhantes.
A grande mudança foi a internet. A partir do início da década de1990, escolas, bibliotecas e governos adotaram a internet como o portal para o acesso universal à informação.Eno âmago de suas esperanças estavam mecanismos de busca, como o Google e seus rivais, Yahoo e MSN. Os novos sites não só encontram mais, eles geralmente apresentam informação utilizável na primeira tela.
O Google modestamente declara que sua missão é “organizara informação do mundo etorná-la universalmente acessível e útil”. Mas a conveniência pode ser problema. Nos primórdios da internet, o mecanismo de busca mais sério era o AltaVista. Para usa-lo bem, o pesquisador precisava aprender a construir um enunciado como “Engelbert Humperdinck e não Las Vegas” – para o compositor de ópera, não o cantor contemporâneo. Agora, graças a uma programação brilhante, uma simples consulta produz uma primeira página pelo menos adequada.
A eficiência decorre de sua capacidade de analisar conexões entre sites. O Google classifica páginas pela freqüência com que são conectados a outros sites altamente classificados. Conseguiu isso usando uma variação de um conceito familiar em ciência natural, a análise de citações. Em vez de procurar quais estudos são mais citados nas publicações influentes, ele afere com que freqüência as páginas são conectadas a sites altamente classificados – classificados por conexões com conexões com eles mesmos.
A análise de citações tem sido atacada em círculos bibliotecários por inflar as classificações (e indiretamente os preços) de algumas publicações. Os mecanismos de busca têm o problema oposto: a dispersão em vez da concentração de interesse.Apesar do ajuste fino, suas fórmulas exibem sites medíocres no mesmo pé que os especializados.
Curioso sobre o campo acadêmico de história do mundo? Consulte “história domundo” no Google. Quando tentei, o único artigo sobre o movimento de história do mundo, daWikipedia, só aparece na quinta tela e era breve e concêntrico. Só na sétima tela descobri o site World History Network, nada bom para iniciantes.
Muitos estudantes parecem não ter habilidade para estruturar suas buscas. Em 2002, pediram a estudantes de graduação da Universidade de Tel- Aviv que encontrassem na internet, sem limite de tempo, uma imagem da Monalisa, o texto completo de Robinson Cruso e ou David Copperfield e uma receita de torta de maçã com fotografia. Só 15% executaram as três tarefas.
Hoje, o Google acelerou essas tarefas, mas o problema persiste. Bibliotecária da Associação Histórica Americana, Pamela Martin observou que“a simplicidade e a impressionante proeza de busca do Google engana os estudantes, fazendo-os crer que são bons pesquisadores em geral”.
A educação superior está contra-atacando. Bibliotecários estão ensinando “capacitação para obter informação”.Alunos de pós estão começando a discutir a adesão à Wikipedia em vez de combate-la, como muitos ainda fazem quixotescamente.
Uma melhor informação numa sala de aula poderá produzir a sociedade que a internet um dia prometeu? Há duas maneiras de avançar. Mais proprietários de conteúdo gratuito de qualidade deveriam aprender as manhas para incrementar seus sites de forma a melhorar sua classificação nos mecanismos de busca. E o Google pode fazer mais para educar os usuários sobre o poder – e freqüente conveniência – de suas opções de busca avançada. Seria uma vergonha se uma tecnologia brilhante acabasse ameaçando o intelecto que a produziu.
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Fonte: O Estado de S. Paulo