Migalhas Quentes

Nilton Santos, quem diria, não se repetiu em Ilha Solteira . . .

24/3/2006


Nilton Santos, quem diria, não se repetiu em Ilha Solteira. . .


O causídico Helio Silva, nos presenteia com uma interessante crônica sobre Ilha Solteira. Confira abaixo.
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Nilton Santos, quem diria, não se repetiu em Ilha Solteira. . .

Está no mapa. Naquelas coordenadas bafejadas por Deus, lá está Ilha Solteira. E lá esteve, em tardes estivais, o time de futebol local. Numa tarde dessas, o time vencendo por 4x0 aos quarenta e quatro minutos do segundo tempo, Xís, na ocasião zagueiro improvisado, recebe a bola que lhe vem mansa. Nenhum adversário por perto, só ele e seu goleiro. Que pede a bola. Xís, por caprichos que somente os deuses dos estádios dominam, da marca penal vira-se para sua própria área e desfere um “petardo”, “de bico” e indefensável. Um bólido estufa as redes e o jogo termina 4x1. É preciso dizer mais?


É preciso dizer mais . . . Fim de jogo em casa, seu time comemorando a vitória suada, troca de camisas, cumprimentos em profusão e Xís, o que faz? Sem que ninguém pudesse imaginar a possibilidade de gesto tão vil, Xís toma-se da tampa da caixa de isopor que acondicionava gelo e água e, às costas do árbitro, desfere-lhe violento golpe na cabeça. Cambaleante, o homem é socorrido pelas pessoas próximas, enquanto Xís é detido por um policial. Levado ao Hospital, o arbitro é atendido e – espanto geral! – nada coloca na súmula e nem mesmo faz queixa na Delegacia. Por que? Ninguém nunca soube.


Sabem todos, isto sim, que depois do destempero, Xis mergulhou em profunda depressão, o remorso corroendo-lhe o cérebro escondido na cabeça pequena e emoldurada por uma cabeleira a lhe conferir ares de santo barroco. Do que se sabe ultimamente, Xís há muito deixou o futebol, onde pouco brilhou em jornadas da “segundona”. Voltou à sua cidade natal, e, em anonimato sóbrio e respeitoso, certamente haverá de lembrar-se da excepcionalíssima ocasião na qual, podendo nivelar-se a Nilton Santos, por desígnios do Destino ou perversa tara abriu mão desse favor divino.


Garrincha, esse mesmo, já ultrapassara o canto do cisne e, quando a ressaca e as altas hospitalares lhe permitiam, dedicava-se às exibições andarilhas. Vê-lo, ainda que trôpego e privado daquela explosão no drible sempre igual e outrora mortífero, trazia momentos de enlevação. Foi assim em Ilha Solteira, num domingo qualquer de um ano agora impreciso.


Garrincha jogava pelo “Milionários”, a trupe de ex-futebolistas que percorria o interior do país. Alguns desses “ex”, por exemplo Ademar Pantera naquela tarde, ainda deslumbravam. Outros, por exemplo Garrincha naquela tarde, eram um constrangimento. “Mané”, vindo de uma noitada em que tomara quase “todas”, tinha a solidariedade dos companheiros e a benevolência geral. Ao início da madrugada, o ex-craque fora salvo do vexame completo pela oportuna intervenção de Djalma Santos, fazendo-o recolher-se ao leito. Mas na tarde de verão, aquela lenda viva esgotava-se num poema tragicômico. Uma tentativa de passo de balé à frente de seu marcador Xís e, no instante seguinte, “Mané” foi posto ao chão, uma “avenida” aberta na perna torta e famosa, dela escorrendo sangue vermelho vivo. Patético!


Na arquibancada, muitos protestaram contra a violência revoltante e desalinhada das homenagens próprias da ocasião. Disseram até que Xís deveria deixar-se driblar e reviver naquelas coordenadas perdidas no mapa do Brasil, mais um “joão” dentre os tantos joões” feitos por Garrincha em gramados do Mundo inteiro, desde o Maracanã de jornadas mágicas aos estádios da Suécia e do Chile, nas Copas de 58 e 62. Permitisse isso, sentenciaram, e Xís poderia nivelar-se a Nilton Santos, enciclopédico sim, contudo debochadamente driblado pelo malabarista maior de nosso futebol. Xís, um anjo fora dos gramados, lá dentro diabólico e com o cérebro reduzido à geleia, desconsiderou tão nobre possibilidade: Garrincha, celebridade planetária, ali era apenas mais um adversário posto fora de jogo aos dez minutos do primeiro tempo.
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