Se ler é um dos mais prazerosos passatempos, para o profissional do Direito ele tem um significado especial: enquanto se distrai com a ficção, o advogado está desenvolvendo competências e habilidades para o exercício da profissão.
Ao lermos um romance, ensina a historiadora da cultura Lynn Hunt, estamos ampliando nossa capacidade de colocarmo-nos no lugar do outro, de nos tornarmos sensíveis a suas dores e dramas. Em seu vigoroso trabalho A invenção dos direitos humanos, a autora sustenta que a ideia de igualdade entre todos só se tornou universal a partir da disseminação do hábito burguês de ler romances: "Ao ler, eles (os leitores) sentiam empatia além de fronteiras sociais tradicionais entre os nobres e os plebeus, os senhores e os criados, os homens e as mulheres" (...) "passavam a ver os outros – indivíduos que não conheciam pessoalmente –como seus semelhantes, tendo o mesmo tipo de emoções internas".
Na mesma senda segue o grande escritor peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura em 2010, para quem muito além de entretenimento e até mesmo de engrandecimento dos espíritos individuais, a literatura tornou-se "(...) atividade insubstituível para a formação do cidadão numa sociedade moderna e democrática, de homens livres", verdadeiro motor de mudança da história e fiadora da liberdade humana. Tudo isso porque, explica, "(...) toda a boa literatura é um questionamento radical do mundo em que vivemos".
Para o advogado o hábito da leitura de ficção permite, ainda, o burilamento do próprio instrumento de trabalho. Ler ficção continuamente é conhecer novos modos de expressão, é ampliar os códigos comunicativos, exercitar a criatividade. É, enfim, possibilidade real de transpor com mais facilidade a folha em branco em direção ao juiz, em nome dos direitos a serem defendidos.
Imbuído desse espírito, Migalhas preparou algumas dicas de leitura de ficção em comemoração à semana do advogado. Prepare-se, querido leitor. Ao final sortearemos um exemplar de cada uma das obras indicadas.
O sonho do celta – Mario Vargas Llosa (Editora Alfaguara). Nesse envolvente romance o autor narra a história verídica do cônsul britânico Roger Casement, que tendo servido a Coroa no Congo Belga e na região do Putumayo, Peru, envolveu-se em atos pela libertação da Irlanda e terminou preso no Reino Unido.
Nascido em Dublin em 1864, Casement teve uma vida de filme. Viajou muito, tornou-se mundialmente famoso pelas causas que abraçou. Lançou-se em África ainda jovem, por espírito aventureiro e amor à natureza, estarrecendo-se desde sua primeira viagem rio Congo acima, até sua última incursão pela Amazônia, com a barbárie da colonização.
O inocente – Scott Turow (Record) Nesse autêntico romance de tribunal, o consagrado escritor norte-americano conta a história de um magistrado acusado de matar a própria esposa. Em um intrincado caso em que o filho do casal e sua namorada também estão envolvidos, um célebre promotor de justiça com quem o juiz tinha uma antiga rixa será o responsável por levar o caso a julgamento.
Dois irmãos – Milton Hatoum (Companhia das Letras). Nesse tormentoso romance familiar, o escritor amazonense conta a história de Yaqub e Omar, os gêmeos em tudo diferentes, na melhor tradição dos bíblicos Caim e Abel, dos machadianos Esaú e Jacó. E por falar em Machado, a inspiração aqui é confessa, e faz-se mérito na escrita do autor, grande conhecedor e admirador da prosa brasileira.
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Ganhador :
Marcus Vinicius Almeida Ramos, assessor juridico da Anima Educação, de BH