- Edição Especial
Os brasilienses - especialmente o ilustre ocupante máximo do edifício Raymundo Faoro, chantado na Esplanada dos Ministérios - surpreenderam-se com uma boa nova. Foi cena de causar estesia em todos que tiveram o privilégio de acompanhar.
Veja Abaixo, na TV Migalhas, com exclusividade, o que inaugurou esta auspiciosa quinta-feira no Planalto Central, anunciando qual é o lema deste 2006 : "Será o ano da Recuperação".
Lúcio Costa e Oscar Niemeyer ao projetarem e construírem Brasília por certo previam que o Distrito Federal certamente passaria por inúmeras vicissitudes. Contudo, nem mesmo eles poderiam crer no que hoje fez-se fato. Era imprevisível...
Nem mesmo Brasília que acolhe, desde sua pedra fundamental, desde o primeiro dia de sua magnífica construção, migrantes de todo o país, imaginou um dia que teria a honra de receber - de volta - um tão ilustre brasileiro.
Hoje, suas largas avenidas planejadas, repentinamente, pareciam vielas.
Ao longe, rompendo a Esplanada dos Ministérios, surgiu um dos caminhões da inumerável frota desta Redação, carregando a valiosa carga, enfeixada em pano vermelho, como a simbolizar o sangue dado pelos redatores para conseguirem trazer de volta à casa o filho tupiniquim.
O veículo - que estampava as indefectíveis insígnias desta Casa - planou pelo Plano Piloto. Ao passar, como um aeroplano, quebrava a dura rotina dos servidores e esbugalhava os olhos dos pedestres.
- O que um caminhão do poderoso rotativo Migalhas estaria fazendo ali no Planalto Central ?
- O amado Diretor estaria trazendo uma equipe moralizadora, para dar cabo de certas atitudes, que há muito estão a merecer suas didáticas chibatas ?
Aumentava ainda mais o mistério, enquanto o veículo, agora mais lento, desfilava diante dos ministérios.
Tinha como rumo o Congresso Nacional.
Mas transpôs direto as orelhas do povo, a côncava e a convexa. Obliterado o Legislativo, sobrava, na Praça dos Três Poderes, que lá - cheios de malvadeza - não se harmonizam, o Executivo e o Judiciário.
Poderia, então, estar indo ao Palácio Planalto.
E nada ! Deixa para trás também o Executivo.
Tendo contornado a Esplanada, o veículo parecia que ia embora do Distrito Federal, e ficaria sendo apenas mais história na concreta cidade.
Eis que, inesperadamente, pára diante do Palácio Raymundo Faoro, sede do Ministério da Justiça.
Na traseira, um grande carregamento delicadamente envolvido.
O gótico prédio sede do ministério, que exprime uma unidade harmoniosa, constituindo-se uma verdadeira obra de arte, ganhava agora um adorno migalheiro. Com efeito, em suas fachadas diversificadas, ostenta em cada ponto cardeal nova aparência: com arcos, marquises, pilares retangulares e lâminas de concreto. E era, bem na testa, que estava plantado agora o caminhão de Migalhas.
Como destinatário, avisa o motorista da Redação ao recepcionista do prédio : "S. Exa. o ministro Márcio Thomaz Bastos". O servidor, denotando grande emoção, explica que o ministro se desculpava, mas estava em reunião em Palácio, e que ele mesmo estaria autorizado a receber a encomenda para, em ato contínuo, comunicar S. Exa.
Os servidores do ministério, ansiosos por saber o que nosso amado Diretor teria enviado, saíram apressados, aglomerando-se diante do prédio. E as águas caindo nas cascatas do edifício pareciam até prever as lágrimas que verteriam dos servidores da Casa da Justiça Nacional, aquela altura já visivelmente com olhos marejados pela inenarrável cena.
Desembalando a oferenda, com a delicadeza que ela merecia, veio à flor a enigmática carga.
Enfim, depois de três anos de incansáveis buscas, nosso amado Diretor tinha a honra, e o indizível prazer, de poder resgatar a história, devolvendo a quem de direito, a res furtiva mais conhecida do país.
Inconformado com o desaparecimento do Ômega blindado do ministro da Justiça, excelentíssimo dr. Márcio Tomaz Bastos, que fora roubado em inícios de 2003 em SP, o amantíssimo Diretor de Migalhas era infatigável na busca pelo pranteado automóvel.
E, de fato, ao ver o ministro triste nas incontáveis cerimônias, bem sabia nosso líder que era no fundo a saudade daqueles encourados bancos o motivo de seu sorumbatismo.
O que era uma infamante afronta ao bom nome das forças policiais brasileiras atingiu fundo o patriotismo de nosso amado Diretor, que não mediu esforços para localizar o veículo.
Por isso, era questão de honra resgatar, estivesse onde estivesse, no estado que fosse, o automóvel. E mais, para gáudio do ministro, tratar de devolvê-lo, já que a mão que o levou não o fez. E pior, mesmo depois de saber quem era seu ilustre proprietário.
Todavia, finalmente estava ali, diante de todos, o Ômega do ministro da Justiça.
Quanto ao estado, levemente danificado, nada que uma boa funilaria e pintura não resolvam. Esta Redação só não providenciou estes pequeninos reparos, pois nestes casos - onde há coisas de estimação envolvidas - normalmente a escolha é pessoal, envolvendo a altíssima confiança do dono.
É como o mister da advocacia. Não sem motivo, o presidente da República o escolheu ministro da Justiça. Acaso, bem ao acaso, na remotíssima hipótese de precisar de um causídico, e ainda que fosse criminalista, estaria ali, no prédio ao lado, seu patrono.
Mas agora, eis que chega ao fim o mais atribulante crime desde que Cabral aqui aportou.
Era finda a angústia do povo brasileiro, que se condoia com a desolação do ministro.
Cumprida a missão, tendo a certeza de que hoje o ministro, ao deitar em seu nevoso frouxel, estará radioso e aliviado por ter de volta seu fiel e inseparável companheiro, Migalhas acaba de deixar o Distrito Federal.
E, logo ao saber que a entrega foi feita como ordenará, nosso amado Diretor virou-se para os redatores da Casa - que ingenuamente esperavam a decretação de um feriado na Redação - determinando que voltassem imediatamente ao trabalho.
Aqui não há moleza !
Como toda história, "o nascimento e a morte são momentos marcantes, o Alfa e o Ômega da existência". Esta, agora, atinge seu ômega.
Finalmente, tudo estava em ordem !
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Veja todo o histórico de quase três anos de incansável busca.
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