Escolhida como homenageada do evento, a escritora paulistana Patrícia Melo, cujos livros desenvolvem-se em torno do crime e da mente do criminoso, teve sua obra comentada pelo crítico Manuel da Costa Pinto na noite de abertura, e voltou ao palco do auditório da AASP ainda outras vezes – na noite de sábado, 21, discutiu os assustadores índices da violência brasileira com Antonio Claudio Mariz de Oliveira e o cientista político Luiz Eduardo Soares, ambos com notável experiência no âmbito da segurança pública.
Em outra mesa, os escritores portugueses Inês Pedrosa e Pedro Rosa Mendes – ela com experiência de editora e cronista em periódicos, ele com larga carreira como correspondente de guerras –, chamados a comentar as fronteiras entre reportagem e ficção, lançaram contundentes denúncias sobre o estado do jornalismo em Portugal, cuja independência encontra-se seriamente comprometida pela crise econômica, ou, nas palavras de Mendes, pelo “controle da política pelas finanças”, ressaltando à plateia entretida que jornalismo que não incomoda perde sua função na sociedade.
Inês Pedrosa, Michel Laub e Pedro Rosa Mendes conversam sobre jornalismo e literatura, com mediação de Ronaldo Bressane.
O escritor carioca Alberto Mussa e o jornalista e romancista Edney Silvestre conversaram sobre os crimes reais que ficam na memória e tornam-se ponto de partida para a escrita de romances; Tony Bellotto, Marçal Aquino e Maria José Silveira, autores de livros em que São Paulo é o cenário, destacaram e comentaram aspectos violentos da metrópole que vão muito além da ficção.
Sob a epígrafe liberdade de expressão, dois relatos pessoais de tempos de guerra receberam destaque em conversa mediada por Paula Miraglia: o diário de Zlata Filipovic, que aos 13 anos de idade revelou ao mundo o cotidiano do conflito na Bósnia, no início da década de 1990, e O que os cegos estão sonhando, obra híbrida em que Noemi Jaffe acrescentou reflexões suas e de sua filha ao diário feito por sua mãe enquanto prisioneira em Auschwitz. Com poucas palavras, as duas autoras desvelaram ao público a importância do registro da dor – no caso de Zlata, ela e sua família foram salvas porque jornalistas estrangeiros encontraram o diário, e no caso de Noemi, o passado doloroso será salvo do esquecimento pelas futuras gerações.
Profissional das letras e da cultura, o associado da AASP recebeu, de fato, um presentão.
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