Migalhas Quentes

Rui, Castro Alves e Nabuco viveram a realidade do Direito e da literatura

Rui Barbosa, Castro Alves e Joaquim Nabuco: filhos das Arcadas e da Faculdade do Recife.

7/8/2013

Em 11 de agosto de 1827, "por graça de Deus e unânime aclamação dos povos", D. Pedro I promulgou a lei que criou o curso de Ciências Jurídicas e Sociais nas cidades de São Paulo e Olinda. Nestes 186 anos, a magnificente norma contribuiu não só com a Justiça do país, mas também com a rica literatura nacional.

Tarefa árdua é precisar o número de escritores que deixaram sua assinatura nas vastas páginas da legislação nacional. Fácil, no entanto, é citar grandes nomes que saíram dos dois primeiros cursos de Direito do país para entrar na história.

Destes, destacam-se três nomes que viveram a realidade do Direito tanto na Pauliceia quanto em terras pernambucanas: Castro Alves, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa. O trio partilhou de ideias abolicionistas e tem em sua vivência universitária e literata a participação na associação literária Ateneu Paulistano.

Rumo à pauliceia

Em 1868 aportou em Santos o vapor que trazia os estudantes baianos Rui Barbosa e Castro Alves. Ambos haviam iniciado o curso de Ciências Jurídicas em Recife/PE e estavam de mudança para a capital paulista, onde começariam o terceiro ano da graduação na Academia de São Paulo.

Os colegas, que ao lado de Álvares Guimarães e Regueiro Costa fundaram a Academia Abolicionista no Recife, encontraram na nova cidade um ambiente propício ao fomento dos ideais contrários à escravidão.

Caminho contrário

Enquanto os jovens Rui e Castro Alves mudaram de Recife para São Paulo, Joaquim Nabuco fez o caminho inverso. O então estudante cursou os três primeiros anos da graduação na capital paulista e seguiu para o nordeste do país, onde se tornou bacharel em Direito em 1870. Até a mudança, no entanto, disseminou seus ideais abolicionistas em terras bandeirantes.

Castro Alves

"A praça, a praça é do Povo!
Como o céu é do condor!
É antro onde a liberdade
Cria a águia ao seu calor!
"

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em Muritiba/BA, em 1847. Entre 1864 e 1865 cursou o 1º ano de Direito em Recife/PE; em 1866, ainda em Recife, fez o 2º ano. Em 1867 interrompe os estudos. E em 1868 mudou-se para São Paulo/SP, onde cursou o 3º ano. No final desse ano se acidentou em uma caçada, com um tiro no calcanhar esquerdo. Foi para o RJ tratar-se, mas teve que amputar o pé. Retornou em 1869 à Bahia, onde, em 1871, faleceu devido a problemas pulmonares.

Segundo a Academia Brasileira de Letras, em suas obras distinguem-se duas vertentes: a feição lírico-amorosa, mesclada da sensualidade tropical, e a feição social e humanitária, em que alcança momentos de eloquência épica. Como poeta lírico, caracteriza-se pelo vigor da paixão, a intensidade com que exprime o amor, como encantamento da alma e do corpo.

Enquanto poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do século XIX, Castro Alves viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da abolição e da República, devotando-se à causa abolicionista, o que lhe valeu a alcunha de "Cantor dos escravos". A sua poesia se aproxima da retórica, incorporando a ênfase oratória à sua magia.

Joaquim Nabuco

"A abolição no Brasil me interessou mais do que todos os outros fatos ou séries de fatos de que fui contemporâneo."

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em Recife/PE, em 19/8/1849. Em 1865, seguiu para São Paulo, onde fez os três primeiros anos de Direito e formou-se no Recife, em 1870.

Atraído pela política, foi eleito deputado geral por sua província, vindo então a residir no Rio. Sua entrada para a Câmara marcou o início da campanha em favor do Abolicionismo. De 1881 a 1884, Nabuco viajou pela Europa e em 1883, em Londres, publicou O Abolicionismo. Ao ser proclamada a República, em 1889, permaneceu com suas convicções monarquistas. Retirou-se da vida pública, dedicando-se à sua obra e ao estudo.

Nessa fase viveu no Rio de Janeiro, exercendo a advocacia e fazendo jornalismo. Frequentava a redação da Revista Brasileira, onde estreitou relações com figuras da vida literária brasileira, Machado de Assis, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, de cujo convívio nasceria a Academia Brasileira de Letras, em 1897.

Nesse período, escreveu duas grandes obras: "Um Estadista do Império", biografia do pai, mas que é, na verdade, a história política do país e um livro de memórias, "Minha Formação".

Rui Barbosa

"Não há liberdade sem progresso, sem aperfeiçoamento, sem harmonia."

Rui Barbosa nasceu em 5/11/1849, em Salvador/BA, onde realizou os estudos preparatórios. Depois seguiu para Recife/PE, local em que começou a cursar Direito. Em 1868, transferiu-se para a Faculdade de Direito de São Paulo. Após a formatura, em 1870, mudou-se para o Rio de Janeiro e iniciou a carreira na tribuna e na imprensa, abraçando como causa inicial a abolição da escravatura.

Em 1893 foi obrigado a se exilar e escreveu, então, as "Cartas de Inglaterra" para o Jornal do Commercio. Em 1895 Rui Barbosa regressou do exílio. Tomou assento no Senado, no qual se conservaria até a morte. Em 1922, proferiu o último discurso no Senado. A notícia do seu falecimento, em 10/3/ 23, foi comentada no mundo inteiro.

Na produção de Rui Barbosa, as obras puramente literárias não ocupam a primazia. Segundo a ABL, ele próprio questionou se teria sido um escritor por ocasião do seu jubileu cívico, a que alguns quiseram chamar "literário". Num discurso em resposta a Constâncio Alves, destacou de sua obra as páginas que poderiam ser consideradas literárias: o elogio de Castro Alves, a oração do centenário de O Marquês de Pombal, o ensaio Swift, a crítica do livro de Balfour, incluída nas "Cartas de Inglaterra", o discurso do Liceu de Artes e Ofícios sobre o desenho aplicado à arte industrial, o discurso do Colégio Anchieta, o discurso do Instituto dos Advogados, o Parecer e a Réplica acerca do Código Civil, as traduções de poemas de Leopardi e das Lições de coisas de Calkins, e alguns artigos esparsos de jornais. A esta relação, Américo Jacobina Lacombe acrescentou alguns dos discursos que Rui proferiu nos últimos cinco anos de vida, como os do jubileu cívico e a Oração aos moços, as outras produções reunidas em Cartas de Inglaterra, o discurso a Anatole France, e o discurso de adeus a Machado de Assis. A produção jornalística puramente literária, a que Rui se referiu genericamente como "alguns artigos esparsos de jornais", daria alguns alentados volumes.

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