Migalhas Quentes

80 anos da Revolução Constitucionalista

TV Migalhas visita o Memorial´32, em SP, e mostra raridades da época.

9/7/2012

Tempos sombrios e difíceis. Mas também tempos de coragem e determinação: assim encontramos São Paulo e seu povo em 1932, às vésperas de uma Revolução. É a luta pelos ideais constitucionalistas, e em 2012 celebramos o Jubileu de Carvalho da heroica revolução.

Aproveitando o ensejo, Migalhas visitou um dos mais importantes acervos sobre o tema na capital paulista, destacando algumas raridades do Memorial'32, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo - IHGSP.

Na visita, encontramos documentos, obras e periódicos históricos que desvendam a história de São Paulo e do Brasil durante a guerra.

Em 10 de julho de 32, um dia após o início da Revolução, o Diário Nacional trazia uma nota relatando a movimentação na Faculdade de Direito do Largo S.Francisco:

"Rumamos, a seguir, para o Largo São Francisco.

Ao entrarmos no histórico largo, notamos logo, extraordinário movimento de pessoas. Eram então 2,80 horas. Automoveis enchiam todo o espaço do largo. Caminhões transportavam colchões que eram levados para o interior da Faculdade. Grupos numerosos de acadêmicos e populares carregavam fuzis. O enthusiasmo era empolgante.

No interior da Faculdade, a afluência era enorme e muitos acadêmicos estavam arranjando os colchões, para pernoitar no recinto da escola."

Na Rádio, discurso pronunciado em 9 de setembro de 1932 por Waldemar Ferreira, advogado e secretário de Justiça à época, exaltava todos os desejos e ideais da Revolução.

"Bate-se São Paulo pelo restabelecimento da lei. Não almeja restaurar um regime de erros. Não pretende reviver idolos. Não o preocupam pessoas, que estas são transitórias e passageiras, mas tão somente as novas diretrizes por que elas terão de nortear-se, se não quiserem ficar no caminho, pelo povo que está marchando na frente, abrindo ao país a nova e segura vereda da sua ressureição."

Ibrahim de Almeida Nobre, formado nas Arcadas (Turma de 1909), traduziu em palavras o espírito revolucionário paulista. O jurista foi promotor público de SP, antes de se juntar à luta armada. Preso e exilado em Portugal, retornou ao país com a anistia, em 1934.

Adriano Marrey, em homenagem póstuma ao dr. Ibrahim, assinalou ser o jurista "a grande voz de São Paulo na Revolução Constitucionalista", "o melhor intérprete da alma paulista".

"És Paulista? Ah! Então tu me compreendes! Trazes como eu o luto em tua alma e lágrimas de fel no coração. Ferve em teu peito a cólera sagrada, de quem recebe em face a bofetada, o insulto, a vilania, a humilhação.

(...)

A voz dos nossos Mortos se alevanta! Em cada crânio, em cada arcabouço já desfeito, em cada tíbia que branqueja, há uma inúbia ululando a voz mais alta, o clamor pontiagudo e apunhalante, apelidando nossa alma para a Causa, conclamando a nossa Honra para a luta.

(...)

Mães Paulistas, Ensinai aos vosso Filhos, que o sangue nada vale pelo que corre, humanamente, nas veias, mas pelo que palpita divinamente no Coração! Que filhos que vêm da honra, morrem com honra, pela Honra!

Esposas e noivas da minha Terra! Afirmai aos vossos maridos, aos vossos prometidos, que o amor não se prova pelo que obtém, mas pelo que denuncia!

Que não há Lar Livre, em terra escrava!

Meus Patrícios!

Olhai! Lá fora estão passando os funerais da nossa geração e do nosso pudor!

E então Homens?"

(Ibrahim de Almeida Nobre, texto intitulado "Minha terra, pobre terra")

Memorial de 32 e o Largo

O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo - IHGSP abriga raro acervo especializado sobre a Revolução Constitucionalista. Trata-se do Memorial'32, inaugurado em 9 de julho de 2005 e presidido atualmente por dona Cárbia Bourroul.

A biblioteca constitucionalista guarda preciosidades da época, como revistas e jornais, além de amplo acervo dedicado à memória dos ideais constitucionalistas.

O museu do memorial reúne diversos objetos relacionados à Revolução, de utensílios usados pelos combatentes à condecorações recebidas por estes, passando por artefatos únicos da guerra, como a matraca (que imitava o som de metralhadora), verdadeira relíquia e "menina dos olhos" do museu.

O Memorial'32 funciona de segunda a quinta-feira, das 12h às 18h (rua Benjamin Constant, 158 – 4º andar).

Com as celebrações do jubileu de carvalho da Revolução, parte do acervo do Memorial foi cedido temporariamente para a Faculdade de Direito do Largo S.Francisco para exposição no museu da instituição, a partir de agosto.

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