Largo de São Francisco
O jornal O Estado de S. Paulo de hoje traz matéria sobre o restauro da fachada da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. O jurista Miguel Reale, formado pela Faculdade em 1934 e professor durante 40 anos, é um dos entrevistados.
Leia abaixo a íntegra da matéria.
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S. Francisco redescobre sua cor
Restauro da fachada da Faculdade de Direito revela cinza-claro há tempos coberto pela degradação
A restauração da fachada da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, no centro, entrou na reta final. Em dois meses, o pátio das arcadas será entregue. A data vai ser simbólica: 11 de agosto, dia em que o Centro Acadêmico 11 de Agosto completa 102 anos. No mês seguinte, os saraus vão retornar ao pátio do túmulo do professor Júlio Frank. Toda a fachada externa estará restaurada e limpa em outubro.
Apesar de faltarem quatro meses para a conclusão da obra, e todas as telas de proteção e andaimes deixarem a frente do prédio, os resultados já começam a surgir. No topo da faculdade, o primeiro fruto do trabalho iniciado em maio do ano passado: a enorme moldura do relógio está limpa e a verdadeira cor do edifício, até então desconhecida pelos paulistanos mais jovens, volta a aparecer.É cinza, bem claro.
“Eu pensava que era mais escuro, não dessa cor. Mas acho que está ficando muito bom. Todo mundo quer ver a faculdade mais bonita”, disse o estudante do 5º ano Diego Teixeira, de 23 anos. O jovem estranha a cor: só conheceu o prédio depois que o tempo e a poluição alteraram a aparência da faculdade.
A primeira e única restauração do edifício foi feitaem1930. Desde então, a poluição e a sujeira descaracterizaram um dos lugares mais simbólicos de São Paulo. “Vai ser uma enorme alegria ver a faculdade restaurada. O prédio, além de ser uma referência da cidade, é um símbolo nacional”, definiu o jurista Miguel Reale, de 95 anos, formado pela São Francisco em 1934 e professor durante 40 anos.
Pichações
As revoluções e a luta por democracia não deixaram marcas tão difíceis de serem removidas do prédio quanto uma forma de vandalismo mais moderna. As pichações feitas com spray deram mais trabalho. “Durante uma parte do restauro, pichadores usaram nossos andaimes para sujar a parte que já estava limpa. Foram dois trabalhos”, disse o engenheiro responsável pela obra, Fabiano Monegaglia Polloni, da construtora Fazer.
Agora, os reparos estão no fim. Os jatos de areia usados para remover a sujeira já deixaram o canteiro de obras e os serviços estão mais silenciosos. As telas de proteção escondem o trabalho delicado dos operários e artistas plásticos envolvidos na recuperação. Mesmo em um prédio tão imponente, uma espátula do tamanho de uma colher de sobremesa faz a diferença nos detalhes do relógio e das colunas.
“Operários mais especializados trabalham nas partes minuciosas. Em casos em que era necessária a reconstrução, artistas plásticos fizeram moldes de silicone, para depois utilizar a argamassa”, disse Polloni.
Para arrecadar os quase R$ 2 milhões exigidos pelo restauro, foram precisos dois anos.Todo o dinheiro veio do orçamento da própria Universidade de São Paulo (USP). Por esse motivo, a restauração estética começou depois de aspectos como a falta de segurança do prédio serem resolvidos. No teto da faculdade há 12 pináculos menores, que pesam cerca de 800 quilos, e 4 gigantes, com mais de 4 toneladas, ao lado do relógio. “Os pináculos estavam desmanchando. Se caísse na cabeça de alguém, seria fatal”, disse o arquiteto José Costa, da Coordenadoria de Espaço Físico da USP, que comanda as obras.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 13/6/2005.
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