Migalhas de Peso

O que você tem a ver com a corrupção?

Você conhece o famoso conto infantil chamado “A roupa nova do rei”, conto de Hans Christian Andersen?

12/11/2008


O que você tem a ver com a corrupção?

Renee Do Ó Souza*

Você conhece o famoso conto infantil chamado "A roupa nova do rei", conto de Hans Christian Andersen? Conta a história que dado Rei, que gastava todo o dinheiro do reino em roupas, é enganado por dois pilantras que o convencem a pagar uma fortuna por uma roupa invisível, mas que segundo eles só poderia ser vista por pessoas inteligentes; como nem o rei, nem seus ministros queriam aparentar ignorância, garantiam uns aos outros que a vestimenta era linda; finalmente, o rei vestindo sua roupa inexistente (isto é, nada), desfila em praça pública sob os aplausos do povo já previamente condicionado a acreditar no rei e em seus agentes; somente um menino, dispensando a hipocrisia e ignorância geral, ousa dizer o óbvio e grita: - O rei está nu!

A democracia e a cidadania brasileira ainda não amadureceram completamente. Embora esses temas sejam importantes para a formação e condução do estado organizado ainda é comum comentários populares que os tratam como conceitos abstratos, sem aplicação prática em nossas vidas.

Basta verificarmos como é comum relegarmos a solução de problemas da nação a uma suposta terceira categoria de pessoas: O estado. Sempre insisto na lição que na verdade o Estado não existe no mundo material. O Estado Brasil nada mais é do que uma ficção e é por isso que um povo não pode delegar a solução de seus problemas ao Estado. É essa população que o compõe que deve enfrentá-lo e combatê-lo.

O Brasil experimenta graves problemas relacionados a corrupção, tanto que ocupamos a 80ª posição mundial entre os países mais corruptos do mundo.

Mas é preciso que o brasileiro entenda que a corrupção não pode e não será combatida somente pelo Estado. É preciso que o povo a enfrente e a combata. Como? Simples, denunciando-a e não a praticando.

Isso porque o brasileiro (alguns deles, não vamos generalizar!) infelizmente tem uma predisposição para o descumprimento da lei. O país ainda continua avançando o sinal fechado, jogando lixo no chão, não usando o cinto de segurança, sonegando impostos, etc. Muito se ouve acerca da vantagem em se pagar uma 'caixinha' para o fiscal para ele perdoar a multa pela infração cometida. O descumprimento da lei é um cotidiano brasileiro que foi rebatizado pela alcunha do famoso jeitinho brasileiro. Esse jeitinho nada mais é do que o descumprimento despretensioso da lei, da ordem... e com essa prática a lei vai ficando ineficaz e, digamos assim, meio sem validade... com essa postura o Brasil não nota que seus transgressores enfraquecem a lei. O brasileiro é o primeiro a enfraquecer a lei que ele quer que o proteja.

Essa advertência feita serve para nos lembrarmos que a corrupção ou a depreciação da administração pública reflete tão somente a depreciação das pessoas que a compõe. É a mesma população brasileira que reclama de seus políticos desonestos que os alimenta. Alias, que os elege. É a burla à lei que está disseminada no seio do povo. Falta reflexão sobre a postura popular no combate a corrupção. Na verdade falta comprometimento na construção de uma nação forte e honesta. Falta assumirmos um lado: O lado da honestidade.

Precisamos dar um basta nesta prática. Precisamos na verdade assumirmos a função do menino do Conto de Andersen que diante da omissão e dos aplausos dos ministros e do povo, grita que o rei está nu, porque está imbuído de dizer a verdade ou porque não está culturalmente condicionado a aprovar todos os atos de burla à lei em nosso país!

É isso o que você tem a ver com a corrupção!

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*Promotor de Justiça no Estado de Mato Grosso





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